O sofrimento transcende o tempo em Regresso a Reims (Fragmentos)

Fotografia colorida de uma família francesa. Na foto, da esquerda para a direita, há um homem de cabelos grisalhos, vestindo terno cinza e camisa branca, de braços cruzados e boca semi-aberta; depois, há um homem com cabelos pretos lisos, sorrindo de boca fechada, vestindo uma blusa azul, camisa branca e uma calça azul. Também está de braços cruzados. À sua esquerda, há uma mulher de braços cruzados, vestindo um vestido de cor verde, com uma bolsa em cor marrom pendurada em seu braço esquerdo. Ela possui um cabelo liso de cor preta, que cobre suas orelhas. Depois, há uma menina de cabelo castanho liso, utilizando um vestido de cor verde com bolinhas brancas. Ela está com os dois braços cruzados atrás das costas. Essas 4 pessoas são brancas. Ao fundo estão alguns pessoas caminhando, com bandeiras com as cores da França expostas.
Integrando a seção Perspectiva Internacional da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, Regresso a Reims (Fragmentos) é um recorte da história da classe média na França [Foto: Les Films de Pierre]
Bruno Andrade

Parte considerável dos conflitos geracionais consiste em renegar a vida pregressa do indivíduo que está bem diante de você, comumente associado a alguém antiquado à época. Essa ausência de visão pode transformá-lo em um ser suportável, mas diminuí-lo como ser humano. Pelo menos essa é a lição que tiramos de Pais e Filhos, de Ivan Turguêniev. A essa postura, o diretor e roteirista Jean-Gabriel Périot se opõe ferozmente, e joga luz sobre a história dos trabalhadores franceses em seu documentário Regresso a Reims (Fragmentos), exibido na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.   

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Um Herói aprisiona até o afeto

Cena do filme Um Herói. Mostra um homem adulto, iraniano, caminhando perto de uma montanha clara. Está de dia e está bem sol, e ele segura uma mala azul com a mão direita.
Submissão oficial do Irã para o Oscar 2022, Um Herói faz parte da Perspectiva Internacional da Mostra de SP (Foto: California Filmes)

Vitor Evangelista

Asghar Farhadi já tem cadeira cativa na Mostra Internacional de São Paulo, e com Um Herói (Ghahreman) a história não mudou. Premiado em Cannes e com um burburinho absurdo desde sua exibição em terras francesas, o novo drama do aclamado diretor aterrissa na capital paulista recheado de tensão e uma discussão muito boa a respeito de lei, moral e até mesmo dos limites da prisão.

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Madeira e Água: entre aquilo que temos e o que nos falta

Cena do filme Madeira e Água. A imagem mostra à distância uma mulher branca de meia idade na frente de uma densa floresta de pinheiros e de frente para um lago de água cristalina. Na água, vemos o reflexo da floresta e a mulher.
A produção integra a Competição Novos Diretores da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Trance Films)

João Batista Signorelli

Uma viúva de meia-idade se aposenta de seu trabalho em uma igreja numa cidadezinha no sul da Alemanha, e aproveita o momento para reencontrar sua família na região onde outrora viveram à beira-mar. Como um de seus filhos se vê impossibilitado de viajar à Alemanha, ela decide ir a Hong Kong onde ele mora e trabalha para encontrá-lo, porém, ele não está lá para recebê-la. Madeira e Água, exibido na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, é um filme contemplativo de poucos diálogos, mas cujas imagens dizem muito. 

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Os Inventados se perde no próprio personagem

Cena do filme Os Inventados. O protagonista Lucas está na imagem, do peito para cima, olhando para a esquerda. Ele é um homem branco e loiro e usa uma camisa vermelha com uma jaqueta de moletom por cima. Seu olhar é firme.
Morno, Os Inventados promete mas não cumpre na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: La Marmota Contenidos)

Caroline Campos

Se a expressão “nadar, nadar para morrer na praia” fosse um filme, com certeza seria Os Inventados. Não que a produção argentina seja similar à sensação de morte por afogamento, mas o cansaço de tanta nadadeira bate de frente com os 91 minutos do selecionado para a Competição Novos Diretores da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Conquistando pela sinopse promissora, é o desenvolvimento da narrativa dos diretores Leo Basilico, Nicolás Longinotti e Pablo Rodríguez Pandolfi que perde o ar antes mesmo de começar a conquistá-lo.

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Um Forte Clarão não passa de uma fagulha

 Cena do filme Um Forte Clarão exibe uma pessoa, à distância, parada em uma rua vazia durante a noite. Ela está de costas, levando uma mala em uma das mãos. As poucas luzes dos postes estão acesas, iluminando somente parte da rua. À esquerda, vemos casas enfileiradas e, à direita, um muro branco.
Ruas escuras são uma constante no longa que integra a Competição Novos Diretores da Mostra de SP (Foto: Tentación Cabiria)

Caio Machado 

Morar em cidade pequena pode ser pacífico, sem o estresse e o ritmo frenético das capitais, mas também pode ser um verdadeiro tédio por causa da rotina limitante e da falta de coisas diferentes para fazer. No caso de Um Forte Clarão, filme exibido na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, o marasmo serve como um pretexto para que os personagens contem histórias e tenham experiências inexplicáveis. 

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I Comete – Um Verão na Córsega é uma viagem ensolarada

Cena do filme Um Verão Na Córsega exibe um homem negro e uma mulher branca sentados à mesa em um jardim na França. Uma árvore faz sombra neles. O homem tem barba grande, cabelo preto e veste uma camiseta, acompanhada de uma bermuda cinzenta. Usa um all star nos pés. A mulher tem cabelo loiro comprido, usa regata preta e está à esquerda do homem. Ambos vestem roupas adequadas para o clima quente da região. Os dois tomam café da tarde enquanto conversam. Ao fundo, vemos um pouco do mar.
Lugares belíssimos inundam o longa que integra a Competição Novos Diretores da Mostra de SP (Foto: 5à7 Films)

Caio Machado

O verão é um terreno fértil bastante explorado pelo Cinema. Os lugares bonitos e ensolarados já foram palco de histórias intensas de amadurecimento, discussões sobre o amor e até mesmo terrores arrepiantes. I Comete – Um Verão na Córsega, filme exibido na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, aproveita a estação do ano para elaborar um mosaico fascinante da vida das pessoas que moram em uma pequena vila da ilha francesa. 

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Pegando a (tortuosa) Estrada da despedida

Cena do filme Pegando a Estrada. A foto mostra uma mulher persa de meia idade, segurando uma tesoura próxima a um carro à um carro à direita. De dentro da janela do carro, vemos um jovem persa de cabelo escuro, barba e óculos, apoiado na janela de costas, com a cabeça caída para trás.
A produção integra a Competição Novos Diretores da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Celluloid Dreams)

João Batista Signorelli

Sair da casa dos pais é um acontecimento natural em qualquer lugar. O evento pode vir acompanhado da sede por independência, da síndrome de ninho vazio, de saudade ou alívio. Alguns mudam de cidade, estado, país, saindo para trabalhar, estudar, ou se casar, com consentimento dos pais ou às escondidas. Em Pegando a Estrada, longa de estreia de Panah Panahi exibido na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, vemos uma família lidando com a partida do filho mais velho, mas em circunstâncias nada costumeiras ou desejáveis.

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Coisas Verdadeiras é lotado de vazios

Cena do filme Coisas Verdadeiras, mostra uma mulher adulta branca de vestido vermelho em pé de dia. Ao seu redor, vemos moitas e um muro de pedra cinza.
Com produção de Jude Law e Ruth Wilson e parte da primorosa Competição Novos Diretores da Mostra de SP, Coisas Verdadeiras oferece um prato para os fãs de um drama indie (Foto: BBC Films)

Vitor Evangelista

Uma silenciosa Ruth Wilson em total estado de êxtase abre Coisas Verdadeiras, filme que dá à 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo um viés mais poético. Não à toa, o ato sexual que ela recebe deixa de ser o foco da rápida sequência, que logo nos situa no presente. A personagem Kate, sonhando com um passado que nem mesmo sabemos ser real, deseja mesmo é o afeto, o conforto e o toque, e não importa se é íntimo ou superficial, ela só precisa de certezas.

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Não existe uniformidade quando estamos Lidando com a Morte

Cena do documentário Lidando com a Morte.
O documentário Lidando com a Morte é parte da Competição Novos Diretores da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Witfilm)

Raquel Dutra 

A morte deve ser o aspecto mais globalizado da experiência humana no planeta Terra. Universalmente particular, a única certeza da vida é sujeita à forma como nos estabelecemos no mundo antes dela, originando questões culturais, familiares, sociais, e também econômicas. O paradoxo se intensifica quando ela chega: seja no Oriente ou no Ocidente, no hemisfério norte ou no sul, todos vivenciam uma mesma situação à sua própria maneira. E essa é a única conclusão de Lidando com a Morte, um dos primeiros documentários exibidos nas cabines de imprensa da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

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A harmonia da vida em Armugan

Cena do filme Armugan, em preto e branco. Vemos um homem baixinho, careca e barbudo sentado em uma cama. À esquerda, vemos um homem com cabelo comprido, barba grande e alto também sentado na cama. Ambos são brancos e estão na meia idade. Vestem roupas adequadas para o clima da região montanhosa.
Duas pessoas vivem isoladas no filme que integra a seção Perspectiva Internacional da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Shaktimetta, La Bendita Produce)

Caio Machado

Vivemos a vida à sombra do grande mistério da morte. Por mais que as religiões tentem explicar o que acontece conosco depois que o coração para de bater, só saberemos a verdade quando chegar a hora. Armugan, filme exibido na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, utiliza a sutileza visual para elaborar um conto impactante sobre como o ser humano se apoia em lendas para conseguir lidar com a finitude da existência. 

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