Andreza Santos
“É a época mais maravilhosa do ano” é assim que o Especial de Natal derivado da série Zoey e a sua Fantástica Playlist toma forma, trazendo como cenário de fundo o clima natalino. Apesar desta ser considerada a época mais feliz do ano, para Zoey Clarke – interpretada pela irretocável Jane Levy (de Suburgatory) – se torna algo muito pessoal devido ao recente falecimento de seu pai, Mitch (Peter Gallagher, de Grace and Frankie). Em Zoey’s Extraordinary Christmas vemos a primeira data festiva em que ela passa longe dele, tentando recriar as boas memórias natalinas junto do restante de sua família.
A série, que foi cancelada após duas temporadas pelo canal americano NBC, ganhou um Especial de Natal pelo canal Roku a pedido dos fãs. Esse filme buscou responder às perguntas deixadas pelo ano anterior, e, de certa forma, conseguiu. Depois da última cena da segunda leva de episódios, em que, de repente, Max, personagem de Skylar Astin (de A Escolha Perfeita), começa a escutar os pensamentos de outras pessoas, assim como Zoey, deixando todos os espectadores surpresos, procurando uma explicação plausível para esse feito.
Os números musicais dobram de quantidade nesse Especial, agora que dois personagens ouvem a música do coração de outros. A direção de Richard Sheperd é impecável especialmente nos flashmobs apresentados aqui, a maioria feito em plano-sequência, ou seja, sem cortes, o que oferece uma percepção maior da grandiosidade e do carinho da produção com a série. A trilha sonora está para lá de especial e o clima natalino deixa tudo mais agradável e mágico, dando um gás a mais em Zoey e sua Fantástica Playlist.
Zoey’s Extraordinary Christmas nos presenteia com o lado mais emocional e mágico da série. Quando a protagonista convence sua família a passar o natal juntos, vemos um certo egoísmo de Zoey de tentar recriar memórias que ela tem dos natais com seu pai, em uma tentativa de manter viva sua lembrança. O luto, sempre presente, aqui se torna uma espécie de negação profunda, afetando todos à sua volta. Isso permeia até que, por meio de um sonho com seu falecido pai, ela entende que as coisas não precisam ser dessa forma.
Mitch e Zoey sempre foram muito próximos, mais do que qualquer um na família Clarke. Depois da perda imensurável do patriarca, essa dor trouxe com ela um buraco negro na vida de Zoey, fazendo-a viver em função do pai. Abraçando toda oportunidade que tem de se reconectar com ele, neste Especial, ela finalmente entende que Mitch sempre estará presente na vida dela, não de forma física, mas sim espiritual.
Buscando conquistar o que almeja, Zoey passa por cima dos desejos de outras pessoas, tentando priorizar apenas o que ela sente assim, causando uma frustração na mesma quando vê Maggie (Mary Steenburgen, de Curb Your Enthusiasm) conhecer alguém. Quando esse novo amigo aparece no jantar de Natal da família Clarke, algo inesperado acontece, promovendo um ponto de ruptura em Zoey, que acaba com a harmonia do momento pela chateação.
Já no Natal de Mo – personagem incrível de Alex Newell (Glee) – as coisas também não estão indo muito bem. Após seu namorado Perry pedir que elu ajude sua filha no coral de fim de ano da escola, Mo torna todo o número musical sobre si, ofuscando as crianças e acendendo um holofote em algo que não deveria ser sobre ela. Isso desaponta Perry e todos os outros pais na escola, provocando alguns desentendimentos entre o casal e expondo o egoísmo de Mo.
Após duas temporadas bem construídas, que trouxeram vários assuntos à tona sempre de maneira lúdica, o Especial perde um pouco desse encanto da série. Os problemas dos personagens – especialmente de Zoey e Mo – retornam à superfície, comprometendo a história e a evolução de ambas neste período. O tempo cronometrado é precioso para finalizar os cliffhangers deixados pelo ano anterior, a produção consegue contornar os problemas e dar o final que todos esperavam, porém desperdiçam em cenas que não acrescentam em nada na história, na verdade a retrocedem.
Mesmo com adversidades, Zoey’s Extraordinary Christmas, traz situações super engraçadas entre Zoey e Max. O poder que eles compartilham se choca em certo momento, resultando em um medley hilário entre duas músicas bem distintas, que demonstra os desejos desiguais de ambos. Em todas as cenas em que dividem no especial, Jane Levy e Skylar Astin demonstram uma sincronia única, que deve ser muito apreciada, já que há anos a Televisão estadunidense não apresentava um casal de comédias românticas com tamanha harmonia.
Apesar desse mínimo retrocesso, há evoluções nos outros plots, como, por exemplo, o triângulo amoroso entre Zoey, Max e Simon (John Clarence Stewart, de Luke Cage). A resolução já era a esperada, devido a todos os acontecimentos dos últimos episódios. No núcleo familiar, há um progresso na relação de David (Andrew Leeds) e Emily (Alice Lee), após a depressão enfrentada por ela na segunda temporada.
Roteirizado por Austin Winsberg – criador da série – , Samantha McIntyre e Sam Laybourne, Zoey’s Extraordinary Christmas é um bom episódio final, resolve o que se propôs a resolver, não deixa pontas soltas, traz aquele encantamento otimista em que o show se apega, deixa – a maioria – dos espectadores satisfeitos e leva a uma bonita conclusão para a trajetória de Zoey. Ainda não há nenhuma confirmação se o canal Roku pretende renovar a série, mas caso isso aconteça, será muito bem-vinda de volta. As duas primeiras temporadas estão disponíveis no Globoplay.