Ana Beatriz Rodrigues
Latasha Harlins, uma jovem preta de 15 anos, morava em Los Angeles e alimentava grandes sonhos, como o de ser advogada. A menina morava com sua avó e sua melhor amiga, que também era sua prima. No dia 16 de março de 1991, os sonhos e a vida de Latasha foram arrancados por menos de dois dólares. Após a sua morte, seu nome também foi citado nos protestos dos distúrbios de Los Angeles em 1992, que reivindicavam sobre o julgamento do caso Rodney King. Depois de 30 anos da morte da garota, Uma Canção para Latasha conta sua história em uma curta documentário chocante.
Infelizmente, sua história é apenas uma entre tantas outras, a diferença é que sua morte foi filmada e mostrada ao mundo. Porém, mesmo com toda essa exibição, o racismo também foi visto no tribunal. A sua assassina, Soon Ja Du, não ficou um dia sequer na prisão. Sua pena, pela vida de Latasha, custou apenas cinco anos de prisão em liberdade condicional, 500 dólares, as despesas do funeral e 400 horas de serviço comunitário.
O curta é narrado por sua melhor amiga, Shinese, e isso faz com que toda a dor transpareça pelos 18 minutos da produção. A narração da maior confidente de Latasha é capaz de deixar ela mais presente. Os planos futuros das amigas foram destruídos por Soon Ja Du, dona de uma loja de conveniência que atirou na jovem após acusá-la de roubar suco de laranja de um dólar e setenta e nove centavos. Latasha morreu segurando sonhos, esperança de uma vida melhor e dois dólares que ela pagaria pelo suco.
A produção da Netflix concorre ao Oscar 2021 na categoria de Melhor Documentário de Curta-Metragem. Desse modo, o streaming marca presença mais um ano nessa categoria. A plataforma já foi indicada em 2016 e seguiu por mais três anos. Levou o prêmio por Os Capacetes Brancos (2016) e Absorvendo o Tabu (2018). Nesse ano, ele aumenta uma nomeação para sua extensa lista com A Love Song For Latasha.
O curta, acima de tudo, é um produto político. Muitas vezes, os temas sociais são explorados nesse gênero e é isso que a produção faz. É uma obra que denuncia o racismo de 30 anos atrás e acaba por falar da atualidade ainda. Mortes injustas de pessoas negras, como George Floyd e Jorge Alberto, são refletidas no documentário de Latasha.
A diretora Sophia Nahli Allison trouxe um curta sensível em vários aspectos. A narração da amiga, citada anteriormente, foi essencial para o filme emocionar ainda mais. Além disso, o momento em que a morte da garota foi narrada, veio de uma forma diferente, mas equilibrada. Toda a narração da história foi acompanhada por efeitos psicodélicos. Isso transformou a morte do jeito caótico que ela aconteceu.
A leitura do poema escrito pela própria menina molhou o final com lágrimas, essas que podem ter sido companhia durante todo o curta. Sentimentos surgem quando se assiste essa canção de amor para os sonhos que foram destruídos e por injustiças ainda cometidas. A história de Latasha, as imagens simulando a vida da garota, a narração e a trilha sonora transformaram A Love Song For Latasha na homenagem e no ato político necessário.