The White Lotus te convida para mais uma temporada de férias, aceita?

DESCRIÇÃO: Cena da segunda temporada da série The White Lotus. A imagem é uma cena da série em que todos os funcionários do hotel estão acenando para os hóspedes que chegam em um barco. Valentina está no primeiro plano da imagem, é uma mulher branca de cabelo castanho escuro que usa um terno rosa e acena para o oceano. Atrás dela estão Isabella, uma mulher branca com cabelo castanho claro, e Rocco, um homem branco com cabelo encaracolado e grisalho. Além deles, também há, no segundo plano da imagem, quatro funcionários homens com paletós amarelos, calças pretas e luvas brancas.
Agora na Itália, a série premiada de Mike White retorna com novos personagens e dinâmicas (Foto: HBO Max)

Gabriel Saez

Se a primeira temporada de The White Lotus não foi o suficiente para entender que Mike White domina a arte de contar histórias, o seu retorno com certeza é. Com uma forma incomum de desenvolver seus personagens, o segundo ano da série da HBO Max reforçou as qualidades do diretor. Agora na Itália, o resort White Lotus recebe mais uma vez um grupo de turistas que, com toda a certeza, irá desfrutar de sua hospitalidade, deixando uma marca única em Sicília e seus residentes. 

 

Assim como quando se abre um jogo de tabuleiro, a segunda cena do primeiro episódio é reservada para nos mostrar as peças que iremos acompanhar desta vez. Harper (Aubrey Plaza), Ethan (Will Sharpe), Cameron (Theo James), Daphne (Meghann Fahy), Tanya (Jennifer Coolidge), Portia (Haley Lu Richardson), Albie (Adam DiMarco), Dominic (Michael Imperioli) e Bert (F. Murray Abraham) serão o foco das tramas que se abrirão pelos próximos capítulos  – obviamente, acompanhados de convidados tão interessantes quanto o grupo.

Foto quadrada colorida. Cena da segunda temporada de White Lotus na qual Harper, Ethan, Cameron e Daphne brindam ao lado do barco em que chegaram na passarela que os leva para o hotel. O dia está ensolarado e as cores são vivas. Harper, mulher branca com cabelo castanho curto, e Daphne, mulher branca com cabelo loiro longo, estão na frente de Ethan, homem asiático com cabelo preto curto, e Cameron, homem branco com cabelo castanho claro curto.
A série foi destaque na temporada de premiações no ano de 2022 e recebeu o maior número de indicações ao Emmy, levando 8 estatuetas para casa (Foto: HBO Max)

Neste tão aguardado retorno da série, que roubou a cena na última edição do Emmy, temos mudanças renovando os ares da trama, assim como pilares que permanecem no enredo. Entre as novidades, os destaques são alguns temas que todos os personagens explorarão: paixão, ternura, desejo e sexo. Seja por falta ou por excesso desses elementos, em algum momento cada trajetória irá esbarrar em dilemas que envolvem la passione.

Sobre o que permanece, novamente temos uma trama amarrada por um mistério exposto logo no primeiro episódio. Essa estrutura não é nova: séries como The Flight Attendant e How To Get Away With Murder exploram o formato também. O que The White Lotus faz de diferente é não deixar que a audiência se leve por isso e perca o foco das críticas e pontadas ácidas que serão feitas – afinal, ainda trata-se de uma sátira. 

Na dinâmica entre os personagens e o hotel, também há uma nova linha que Mike White escolhe seguir: as trajetórias não serão tão antagônicas ou dicotômicas como vimos anteriormente. Enquanto na primeira temporada o ângulo utilizado faz a audiência ter a sensação de assistir um experimento social, agora, nos envolvemos em um nível muito mais íntimo com alguns personagens.

E como começar a falar sobre a nova temporada da minissérie sem ser pelo assunto do momento e atual vício da internet, Jennifer Coolidge? A atriz está vivendo o auge de sua carreira aos 60 anos e é destaque na temporada de premiações. Até agora, ela já arrebatou um Globo de Ouro, dois Critics’ Choice Awards e, ano passado, também levou para casa seu primeiro Emmy.

Sua personagem, Tanya, reúne o melhor da combinação poderosa que é Coolidge e Mike White. Com ela, tanto o diretor quanto a veterana de comédias besteirol exploram o gênero melodramático e levam diálogos e situações corriqueiras a um nível de comédia invejável. Particularmente, é na personalidade que está o pote de ouro da série: é impossível querer um pouco menos dessa comediante tão talentosa.

Desde não encontrar seu bolo favorito no buffet a defender sua vida em um iate, a figura esbanja drama e caos em cada expressão e segundo que tem em tela. Assim como na primeira temporada, sua personalidade não mudou muito: a milionária continua solitária, desesperada por afeto ou atenção e em negação daquilo que ocorre ao seu redor. 

 

Por mais que a proposta da personagem possa parecer exagerada, Tanya cria um excelente contraponto na trama da segunda temporada The White Lotus e traz um descanso para o telespectador com momentos hilários. Esse descanso é merecido, pois a tensão criada pelo clima constrangedor entre a dupla de casais que decidiu viajar juntos pela primeira vez é capaz de fazer qualquer um desistir de ter a mesma ideia. 

A personalidade de Harper é o fio condutor dos rumos que a viagem desse quarteto irá tomar e ela não poupa esforços para deixar claro como se sente sobre os amigos de seu marido recém milionário, Cameron e Daphne. Enquanto isso, o casal não poderia parecer mais feliz com o relacionamento ordinário que desenvolveram. Esse é um dos fatores que mais incomoda a advogada: como os dois podem ser tão vazios e ignorantes, mas tão felizes, enquanto ela e Ethan estão cada vez mais distantes? 

O humor que Aubrey Plaza traz para a personagem é completamente diferente do escolhido por Coolidge. Aqui, prestamos atenção nas minúcias, no silêncio e no que não é falado. São os momentos constrangedores, as olhadas de lado durante os jantares e o timing de cada comentário ácido que fazem a comédia de Plaza tão excepcional e assertiva na trama.

Foto quadrada colorida. Cena da segunda temporada de White Lotus em que Albie, homem branco com cabelo castanho cacheado, Dominic, homem branco de meia idade com cabelo grisalho, Bert, homem branco idoso com cabelo grisalho e Valentina, mulher branca de cabelo castanho, conversam perto do oceano e ao lado de um barco.
Na série, o criador e diretor Mike White utiliza as falhas morais de seus personagens para explorar questões sociais complexas (Foto: HBO Max)

os Di Grasso, que foram à Itália com suas três gerações de homens (Albie, Dominic e Bert) para se reconectar com suas origens, acabam se deparando com muito mais do que esperavam. Afinal, nada melhor do que escancarar traços em comum para perceber que a maçã realmente não cai tão longe da árvore e que alguns defeitos são, sim, hereditários.

Aqui, o desenrolar dos personagens não foi tão instigante quando comparado com a trajetória de outros núcleos. A trama se desenvolve de forma mais lenta e até mesmo as características de cada membro da família beiram o tédio e desinteresse. Ainda assim, o enredo é muito bem utilizado para reforçar o quanto a ingenuidade é conveniente e o patriarcado é longívio. 

As cenas também são uma ótima deixa para ressaltar a importância de coadjuvantes poderosos para apoiar e enriquecer a narrativa das protagonistas. Valentina, The gays, Lucia e Mia trazem um ar diferente para a série e dão um tempo para a audiência que, em muitos momentos, pode ficar sobrecarregada com a intensidade acumulada pelas relações dos turistas.

Foto quadrada colorida. Cena da segunda temporada de White Lotus em que as personagens Lucia, mulher branca com cabelo castanho escuro curto, e Mia, mulher branca com cabelo castanho claro longo, estão apoiadas no saguão do hotel. O ambiente está bem iluminado e as duas direcionam o olhar para a gerente que está atrás do balcão mas não aparece na imagem.
Na série, Mike ganha pontos por convidar atores italianos para dar vida aos residentes do Resort e deixar que falem em seu idioma nativo ((Foto: HBO Max)

Com tantos elementos, personagens, cenários e histórias para lidar, Mike White conduz a segunda temporada de The White Lotus de forma intrigante. O equilíbrio que há entre o pingue-pongue das personagens, a velocidade em que as informações vão sendo apresentadas e a conclusão de todas as introduções são muito bem executados pelo diretor.

Mesmo quando as pontas de alguns personagens não se prendem, é de forma tão bem pensada e satisfatória quanto os arcos concluídos. Fazia tempo que o desenrolar de uma série não acontecia de forma tão surpreendente e resolvia tudo na hora certa quanto The White Lotus o fez, deixando a audiência querendo mais, mais e um pouco mais sem se decepcionar.

 

 

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