Ma Ferreira
The Nest ou O Refúgio, como ficou adaptado o nome em português, é um thriller psicológico dirigido por Sean Durkin, que está presente no catálogo do Prime Video. O longa, a princípio, parece ser um episódio da primeira temporada de American Horror Story, apresentando um casal aparentemente no início de uma crise que se muda para uma casa grande e afastada. A residência é mal iluminada, antiga, preserva características originais de sua estrutura e possui uma aura sombria.
Ambientada nos anos 1980, acompanhamos o empresário Rory O´Hara interpretado por Jude Law, que após 10 anos trabalhando no mercado americano resolve retornar ao solo britânico. A mudança da família, antes mesmo de ocorrer, é marcada por promessas do patriarca de melhora financeira, uma vez que seus negócios não estão prósperos e ele vive com os sustentos da esposa. O retorno à empresa que trabalhava é cheio de ambição e muitas tensões entre ele e Alisson, sua esposa, na atuação de Carrie Coon.
A trama vai progredindo de maneira mais leve no quesito terror e pesando no dramalhão psicológico em que as personagens estão envolvidas. É por meio dessas nuances de suspense e discussões de casal que vivenciamos a instalação de um verdadeiro pavor na história. Um recurso usado no filme é o jogo de luz e sombra, que é marcado por tons mais claros e iluminados antes da ida à propriedade na fazenda e, depois, conforme o caos vai ocorrendo, se tornam cada vez mais escuros, muitas vezes com apenas um foco de luz na cena.
“Aceitamos o bem e o mal quando casamos”. A atuação de Carrie Coon é um ponto forte do filme, a personagem é forte e determinada, não é a mulher padrão da época que abaixa facilmente a cabeça para as decisões do marido. Da decisão da mudança à frente da narrativa, a personagem cresce, se tornando cada vez mais assertiva. Alisson responde a todas as falas machistas a altura, ela quer a todo momento que seu casamento continue e para isso rebate o que é dito e feito por Rory, vai a fundo e mergulha no resgate da essência de sua família.
Rory, aparentemente, é um empresário inescrupuloso, um homem egoísta de visão pequena e imediatista. Entretanto, quando a família se encontra já estabelecida na casa, ele encontra sua mãe e, então temos a visão de que seus esforços são realizados em prol de uma aceitação materna tardia. Ele é questionado pela esposa sobre o real sentido de querer levar uma vida que não existe e que nunca alcançará e, antes mesmo em uma conversa em um táxi o personagem reflete sobre isso dizendo que seu trabalho é fingir ser rico.
As duas personagens são intensas, entregam muito de sua formação psicológica, que reflete em seus atos e que com a casa se intensificam. A casa é o elemento narrativo mais interessante de The Nest. Muitas vezes nos questionamos se o cenário é o vilão da história, uma vez que o ambiente torna-se soturno, os espaços largos dos quartos e salas afastam ainda mais a família, além de acontecimentos estranhos que parecem ter sido provocados por ele.
Os filhos do casal, Sam e Ben, interpretados por Oona Roche e Charlie Shotwell, respectivamente, também passam por situações difíceis, como problemas da adolescência, questões de aceitação social, um novo ambiente escolar e brigas com os pais. Notadamente o pai dá maior atenção e dedicação ao filho, Ben, investindo em seus estudos e sempre que possível falando do garoto com orgulho. Sam acaba se revoltando cada vez mais com a mãe nesta situação, por entender que a raiz do problema está no casamento dos pais.
Outro destaque do longa é a relação de Allison com seu cavalo. Ele adoece e morre, representando muito de como está a relação do casal. Quando o animal é enterrado, a relação entre eles se afunda ainda mais, complicando o retorno a uma situação harmoniosa e, como também, a personalidade de Rory, sua ambição e problemas no trabalho. Quando as situações atingem o ápice de problemas, Ben encontra o cavalo semi enterrado e é como se descobrisse a esperança final para sua família.
The Nest está longe de apresentar um refúgio familiar. O destaque são as discussões do casal, principalmente a final. Apesar de, atualmente, haver uma leva de produções similares, onde o foco são os conflitos da relação, como Malcolm & Marie e História de um Casamento, este filme consegue ser bem diferente de tudo que já foi produzido. O ambiente é extremamente tóxico psicologicamente, fazendo com que as personagens se afundem mais e mais em problemas. É um longa interessante, reflexivo, com protagonistas densos emocionalmente e que vivem o terror do cotidiano de um relacionamento em desgaste.