Gabriela Bita
Com um começo lento, mas intrigante, e um final explosivo, a terceira temporada de The Mandalorian apresenta força suficiente para, assim como as anteriores, concorrer ao Emmy de 2023. Contando com uma produção visual de tirar o fôlego, os oito novos episódios apresentam um foco diferente — mas muito bem explorado e desenvolvido — do observado anteriormente, o que pode causar um estranhamento inicial para os admiradores da história. Nessa nova fase, continuamos a ser presenteados com a fofura de Grogu e partimos com ele e seu mentor em busca da redenção do Mandaloriano nas minas de seu planeta natal.
Logo nos primeiros minutos, Grogu e Din Djarin (Pedro Pascal) estão juntos em mais uma aventura, o que causa uma leve confusão ao público, já que, no último episódio da segunda temporada, vemos o pequeno ser levado por Luke Skywalker (Mark Hamill) para aprender a ser um Jedi. É nesse ponto que o roteiro começa a pecar fortemente, pois os acontecimentos entre o final do último capítulo de 2020 e o começo do primeiro de 2023 são mostrados apenas na nova série – pouco aclamada pelos fãs – do universo de Star Wars, O Livro de Boba Fett.
Após diversas produções extras do universo intergaláctico, a história de Fett era mais do que aguardada. Afinal, qual padawan não estava ansioso para saber mais sobre o vilão que ajudou no sequestro do querido Han Solo em O Império Contra-Ataca? No entanto, assim como para o Império, a queda veio para a série desenvolvida em recordações. Poucos foram os que deram uma chance e assistiram ao reencontro de Djarin e sua criança — aparentemente os dois episódios, mesmo sendo o ponto alto da narrativa, não foram suficientes para conquistar a audiência.
Sendo assim, é inevitável a sensação de falta de contexto entre os fatos, que não é superada com os meros cinco minutos de flashbacks acrescentados em migalhas para o público durante uma simples lembrança de Grogu. No entanto, apesar do furo no roteiro de Jon Favreau, a trama segue seu rumo com Djarin buscando suas origens e uma forma de voltar a ser um Mandaloriano, enquanto, é claro, auxilia seus velhos amigos em outras questões e problemas que aparecem no meio de sua jornada.
Na aventura da vez, passamos a conhecer mais a fundo a história de Mandalore e, apesar da forte presença dos amados protagonistas, os novos capítulos focam em personagens secundários, como é o caso de Bo-Katan Kryze (Katee Sackhoff), que retorna para ajudar Mando e sua espécie a retomarem seu lar. As questões pessoais de Djarin são colocadas em segundo plano na terceira temporada e dão lugar ao desenvolvimento do próprio povo Mandaloriano. Até mesmo a relação entre o tutor e Grogu — apesar de continuar divertida e carregada de sentimentalismo — está mais voltada para o ensinamento da Doutrina.
Enquanto os Mandalorianos se reúnem, a Nova República atua para manter seu domínio após a queda do Império. No terceiro episódio, O Convertido, que parece não acrescentar em nada para história, passamos por Coruscant, capital da Nova República, na qual vemos um governo regido pela hipocrisia e não menos controlador do que o anterior. Assim, duas narrativas se desenvolvem uma de cada lado do universo, o que pode parecer estranho à primeira vista, mas é muito bem trabalhado por todo o enredo. Ao final, as histórias se colidem em uma grande explosão.
É impossível negar que um dos pontos altos da série é a participação especial da cantora Lizzo e do ator Jack Black nos papéis de Duquesa e Capitão Bombardier. Juntos, a ganhadora do Grammy de 2023 e o astro de Escola de Rock formam uma dupla excêntrica e divertida que atrai toda a atenção para si. Apesar de Black se destacar mais na parte técnica da atuação, a rapper americana não fica para trás e é visível sua paixão por Grogu, tanto enquanto personagem quanto fora das câmeras, o que deixa sua adição ao elenco ainda mais interessante.
Após se banhar nas Águas Vivas, lutar contra piratas e outras criaturas, Din e seu povo partem para Mandalore, onde um velho inimigo os espera para a luta final. Depois do quinto episódio, intitulado O Pirata, The Mandalorian ganha um ritmo mais dinâmico, no entanto, a aparição de Moff Gideon (Giancarlo Esposito) — depois de todo o suspense produzido — por pouco não se tornou um tiro no próprio pé. O fato do vilão estar vivo já havia se tornado óbvio e sua grande entrada não foi nem um pouco grandiosa, chegando apenas nos últimos minutos para ter seu final concretizado nas mãos de Bo-Katan.
Se o antagonista não teve a presença que poderia, os protagonistas mostraram o motivo de serem tão aclamados pelo público. Em uma sucessão de cenas intensas e emocionantes, vemos tutor e aprendiz serem separados duas vezes, enquanto do lado de fora, a luta entre stormtroopers e Mandalorianos no planeta-mãe destruídos acontece desenfreadamente. É aqui que toda a criatividade e habilidade de Jon Favreau atingem seu ápice e fica claro as intenções do produtor ao escrever um roteiro no qual a temporada se desenvolve gradualmente.
Ao conhecer um pouco mais da história dos Mandalorianos e acompanhar Djarin ensinando ao garoto O Caminho, ver o mais velho e sua criança lutando lado a lado gera arrepios por todo o corpo. Quando Grogu, agora mais habilidoso com a Força, e Din salvam um ao outro, temos um pai fazendo de tudo para não perder seu filho e este encarando seus medos para salvar seu pai. Apesar de não contextualizar o reencontro de ambos e não se aprofundar em suas questões pessoais, a terceira temporada de The Mandalorian finaliza o arco da história dos personagens com êxito, oficializando a relação paternal entre os dois e nos deixando esperançosos para o que as próximas aventuras irão trazer.