Caroline Campos
“A culpa não é minha se ela bebeu demais. A mulher tem que se dar ao respeito, se garantir. Aí, se acontece alguma coisa, vem reclamar. Ela foi até para casa comigo, vai dizer que não queria? Se arrependeu? Assim é fácil… fazem de tudo para acabar com a vida de caras como eu. Eu sou um menino do bem. Um cara legal. Tenho mãe, sabe. Óbvio que respeito as mulheres. Ela queria, eu tô te falando. Aquele ‘para, por favor’ foi só para pagar de difícil”. Familiar, não é? Você sabe que já ouviu isso.
A sensação é de impotência. É de ira. Um poço grande e fundo até a boca de solidão. Alguém aí para escutar nossa versão? Ficar do nosso lado? Bela Vingança sim. O primeiro filme dirigido pela britânica Emerald Fennell, também atriz (The Crown) e roteirista (Killing Eve), é uma resposta doce ao sexismo e a cultura do estupro, que abraçam e protegem a frágil figura masculina. Doce, sim, mas com ressalvas. A personagem de Carey Mulligan, a mais pop da temporada de premiações, está atolada até a cabeça de amargura e apatia, traumatizada pelos desdobramentos de um estupro, assistido e aplaudido, que sua amiga Nina sofreu.
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