Beatriz Luna
Em tempos de Oscar, é preciso conhecer os candidatos, até mesmo os inexistentes. Em meio ao drama da Hollywood do século 20, Evelyn Hugo veio para ficar. Escrito por Taylor Jenkins Reid, autora de Daisy Jones & The Six e Amor(es) Verdadeiro(s), o romance histórico Os sete maridos de Evelyn Hugo traz 360 páginas de uma envolvente trama LGBTQIA+, e emoções são o que não faltam. E alerta de gatilhos: o livro aborda assuntos como violência doméstica, abuso psicológico, homofobia, suicídio e alcoolismo, além de contar as dificuldades e preconceitos vivenciados pela jovem atriz latina.
Depois de uma vida de quase 80 anos sob os holofotes, porém sem revelar um único detalhe sobre seus mistérios, como seus sete repentinos casamentos, Evelyn Hugo decide produzir um livro com as respostas tão desejadas pela mídia a ser publicado após sua morte. A única condição é que uma pessoa específica o escreva: a acompanhando no decorrer do livro, a jornalista iniciante Monique Grant descobre segredos do seu próprio passado na narrativa da estrela protagonista de sucessos indicados ao Oscar.
Apesar de ser importante para a história, Monique é ofuscada pela força de Evelyn. Os sete maridos de Evelyn Hugo é praticamente uma autobiografia, considerando que a maior parte dele é narrada no ponto de vista da atriz em sua juventude, mas, quando voltamos ao presente, os capítulos da jovem jornalista só servem para mostrar o quanto a vida dela é entediante. Passando por um divórcio conturbado e lidando com inseguranças quanto a sua profissão, acompanhar a rotina de Grant pode ser um desafio para o leitor. Mesmo Evelyn parece não ter paciência com ela, que repetidamente trata sua bissexualidade de maneira superficial.
O drama da história de Evelyn começa na sua adolescência. Após perder sua mãe, ela vive uma infância pobre com seu pai abusivo. Cansada dessa realidade e buscando uma vida melhor, ela se casa pela primeira vez ainda menor de idade e foge para a cidade dos anjos, cada vez mais perto de seu sonho hollywoodiano. O custo? Sua identidade. Evelyn Herrera se torna Evelyn Hugo e abandona seus aspectos latinos – ela muda a cor do cabelo, emagrece, perde seu sotaque e não fala mais espanhol.
A personagem de Hugo é apresentada como uma mulher forte, que, passando por todas as fases da sua vida, continua determinada a fazer sucesso no Cinema e está disposta a tudo para alcançar o seu sonho, mesmo que tenha que usar seu corpo para isso. Com uma personalidade que cativa o leitor a cada página por todas as suas qualidades e defeitos, ela consegue surpreender a todos com sua complexidade, sinceridade e a maneira que enxerga suas atitudes do passado, assume os seus erros e está pronta para pagar o preço por eles.
Introduzindo o verdadeiro romance, as emoções não param. Durante seu segundo casamento, um relacionamento abusivo com um homem agressivo que possui um ego com as dimensões da cidade de Los Angeles, a atriz conhece seu verdadeiro amor, Celia St. James. Apesar de ter sentido paixão por Don Adler, é com ela que Evelyn conhece a si mesma verdadeiramente, se descobrindo uma bissexual muito segura de sua sexualidade.
A partir daí, seus casamentos posteriores serviam apenas para encobrir o romance com sua amiga e companheira de profissão. Passando por turbulências em seu relacionamento e vivendo uma conturbada vida juntas, as duas lidam com os preconceitos da época e de seu meio de trabalho da única maneira que conseguiram encontrar: não lidando.
Já a personagem de Celia é contraditória. A insegurança dela com a bissexualidade de Evelyn é palpável, e é impossível não notar os momentos em que ela se sente em desvantagem em relação aos homens. É compreensível que ela não queira viver uma vida secreta – ela queria que Evelyn a assumisse e que elas lutassem pelo seu relacionamento juntas -, mas Evelyn faz de tudo para proteger a carreira das duas, e Celia, por muitas vezes, pode parecer ingrata por isso.
Seu amor foi Celia, mas sua alma gêmea foi Harry Cameron. Amigo de longa data de Evelyn, ele viu sua carreira nascer, acompanhou seu processo de descobrimento e o relacionamento das atrizes. A conexão entre os dois é sem dúvidas o ponto do amor verdadeiro de Os sete maridos de Evelyn Hugo, não é romântico, mas tão profundo que é de tirar o fôlego. “Foi mais ou menos nessa época que passei a acreditar que amizades poderiam estar escritas nas estrelas. ‘Se existirem outros tipos de almas gêmeas’, eu disse para ele numa tarde, enquanto nós dois estávamos no terraço com Connor, ‘então você é a minha.’”
Harry também foi um dos maridos, e é nesse momento em que o maior relacionamento quádruplo que a Hollywood fictícia do século passado já viu é introduzido. Evelyn se casa com Harry, Celia se casa com John Braverman, um famoso jogador de futebol americano. Harry e John formam um casal, Evelyn e Celia, outro.
A carreira de Evelyn Hugo é repleta de sucessos, dentre eles Mulherzinhas, o clássico de Louisa May Alcott que virou filme em 2019. Ela faz o papel de Jo March, uma mulher branca, diferente de Hugo, que é uma mulher latina e de pele escura. “Eu sabia o que significava interpretar Jo. Sabia que ela era uma mulher branca. E mesmo assim era isso o que eu queria. Não abri as pernas para ficar pensando pequeno. ‘Jo’, respondi. ‘Pode me dar o papel de Jo.’”
Sete maridos, sete casamentos, tudo para encontrar a felicidade com seu verdadeiro amor em meio ao caos do preconceituoso mundo da fama. A protagonista de Os sete maridos de Evelyn Hugo é maior do que todas as dificuldades, ela conquista tudo, é imparável. Uma história de vida emocionante, uma carreira brilhante e um romance de cortar corações, Evelyn Hugo supera tudo na avassaladora obra que pode ser adaptada para as telas em breve. “Porque eles são só maridos. A Evelyn Hugo sou eu.”
Texto perfeito!! Adorei.