Arthur Caires
Há 5 anos, Debbie Ocean (Sandra Bullock) disse: “Se for ele é notado, se for ela é ignorada. E, pela primeira vez, queremos ser ignoradas”. Em Oito Mulheres e um Segredo, requel da sequência de filmes Onze Homens e um Segredo, a fala é a explicação do porque a criminosa deseja apenas mulheres em seu time para roubar um colar de diamantes de US$150 milhões durante o prestigioso Met Gala em Nova York. Para além disso, é uma declaração de que não se trata apenas de uma versão feminina do longa original, aqui, ser mulher é essencial para que o plano dê certo.
No filme lançado em 2018, a irmã do vigarista dos primeiros filmes, Danny Ocean (George Clooney), assume o protagonismo em sua própria trama criminosa. Após passar alguns anos na prisão, Debbie concebe a ideia de um roubo perfeito em forma de vingança. Para concretizar seu plano, ela reúne um grupo de parceiras de renome, incluindo sua cúmplice Lou (Cate Blanchett), a estilista desiludida Rose Weil (Helena Bonham Carter), a especialista em joias Amita (Mindy Kaling), a hacker Nine Ball (Rihanna), a habilidosa Constance (Awkwafina), a estrategista Tammy (Sarah Paulson) e a atriz Daphne Kluger (Anne Hathaway).
Apesar de ter arrecadado mais de US$ 297 milhões em bilheterias ao redor do mundo, o impacto cultural da obra não foi imediato, mas sim construído ao longo do tempo. Isso se deve ao fato do enredo se basear em um dos maiores eventos do mundo: o Met Gala, baile da revista Vogue que acontece no Museu Metropolitano de Arte em Nova York, conhecido por reunir celebridades e influentes da moda. Por se tratar de um acontecimento anual, o filme dirigido por Gary Ross (Jogos Vorazes) sempre volta aos assuntos do momento quando essa época se aproxima, aumentando sua iconicidade a cada edição do espetáculo, incluindo diversos memes nas redes sociais.
As próprias atrizes do longa já compareceram ao evento – não há um ano em que pelo menos uma delas não esteja presente. Além de Rihanna, que a esse ponto já é uma peça honorária da noite, Anne Hathaway e Sarah Paulson frequentemente também estão nos holofotes do tapete vermelho do Met. Isso faz com que a relevância da produção esteja sempre em alta, pois a associação com o contexto do filme é clara e direta.
Com uma taxa de aprovação de 69% pela crítica especializada e 47% pelo público no agregador de notas Rotten Tomatoes, Oito Mulheres e um Segredo pode não ser o melhor filme de Hollywood em termos de história, mas supera as expectativas em relação à qualidade de sua proposta: entreter. O longa é ideal para ser apreciado com bons queijos e vinhos, oferecendo uma comédia sutil e inteligente que nos leva a gargalhadas inesperadas, mesmo que utilize saídas fáceis para problemas repentinos e não se aprofunde em complexidades narrativas.
Em destaque, temos como principal qualidade atrativa a química e a entrega das atrizes. É muito satisfatório ver Sandra Bullock contracenando com suas amigas talentosas de longa data Sarah Paulson e Cate Blanchett. Além disso, Mindy Kaling e Awkwafina são um ótimo alívio cômico para a produção, juntamente com Anne Hathaway, que volta mais uma vez para uma trama envolvendo a icônica revista Vogue. E, claro, Rihanna, a rainha do Met Gala não poderia ficar de fora.
Além do elenco principal, Oito Mulheres e um Segredo reserva várias aparições surpresas ao longo de seus 111 minutos de duração. Elliott Gould e Qin Shaobo, que estiveram presentes em Onze Homens e um Segredo, trazem uma dose de nostalgia para os fãs da série original. Para elevar ainda mais o nível de A-Listers, o filme conta com a presença das irmãs Kardashians, Anna Wintour, Serena Williams, a brasileira Adriana Lima e muitos outros. Essas participações especiais contribuem para aumentar a diversão e a autenticidade do filme, uma vez que capturam de maneira precisa a essência do Met Gala como um dos maiores encontros de celebridades do mundo.
Como uma ‘versão feminina’ da franquia Onze Homens e um Segredo, Oito Mulheres e um Segredo aborda o feminismo de maneira implícita e sutil, sem buscar se rotular como tal. O filme evita uma abordagem vazia e se concentra em empoderar as mulheres de forma direta. Em vez de se prender a debates e discussões sobre o movimento, a narrativa se concentra em mostrar figuras fortes, independentes e habilidosas, que estão no controle de sua própria história, sem perder a elegância e o charme.
Para trazer essa fineza, dois elementos são cruciais para essa construção: o figurino e a trilha sonora. Os visuais icônicos, assinados por Sarah Edwards, contribuem para a identificação das personagens, entregando o que o contexto do longa pede. Aliadas a isso, as músicas escolhidas para ambientar o telespectador apresentam uma combinação harmoniosa, embalada por uma seleção eclética que inclui Johann Sebastian Bach, The Notorious B.I.G. e Amy Winehouse – além da escolha perfeita de These Boots Are Made for Walking, de Nancy Sinatra, em uma das cenas finais.
Embora uma sequência de Oito Mulheres e um Segredo não seja estritamente necessária, certamente seria recebida com grande entusiasmo pelos fãs. Em uma entrevista recente ao portal Screen Rant, Sandra Bullock mencionou que a realização de uma continuação dependeria da presença de uma diretora e roteirista incrível – alô, Greta Gerwig! Afinal, se Onze Homens e um Segredo ganhará mais uma produção, estrelando Margot Robbie e Ryan Gosling, por que o time feminino, que teve tanto sucesso nas bilheterias, não recebeu uma até agora?
Neste aniversário de 5 anos de Oito Mulheres e um Segredo, é importante destacar que apesar do enredo e do plano infalível de Debbie Ocean não serem aprofundados, a obra cumpre seu papel. Tudo acontece da maneira certa e sem nenhuma dificuldade, o que acaba deixando o suspense de lado. No entanto, como são mulheres em ação, é de se esperar que nada dê errado.