Ana Beatriz Rodrigues
Chegar aos nossos objetivos é algo bem complicado, e fica ainda mais difícil quando encontramos outras pessoas no nosso caminho. O mundo guiado por competição faz parte da realidade, mas também é retratado na ficção. Essa corrida pela vitória já foi mostrada em diversos ambientes diferentes, e no cenário das artes isso também acontece. Possuindo algumas semelhanças com o famoso Cisne Negro, a nova série da Netflix, O Preço da Perfeição (Tiny Pretty Things) mostra uma realidade sobre o universo competitivo e cheio de dificuldades do Balé de Elite de Chicago.
Os desafios para alcançar os melhores papéis e a aprovação de pais e professores são misturados com dança e até uma tentativa de homicídio nessa produção de 10 episódios. Os primeiros minutos são trilhados pela música Monster de Irene & Seulgi e pela queda da bailarina prodígio Cassie (Anna Maiche). Esse breve voo da aluna de balé abalará as estruturas da Archer School of Ballet e guiará essa história em um mistério que é envolto de muitos outros problemas e polêmicas.
Para substituir Cassie, e abafar o caso, Neveah Stroyer (Kylie Jefferson) ingressa na escola como bolsista. A novata sofre um pouco no começo com comentários de seus colegas de turma pela sua bagagem com o hip-hop. Porém, isso não é mais explorado e até parece que os produtores esqueceram do assunto no decorrer da série. Isso chega ser até compreensível, considerando que existiam muitos assuntos complexos a serem aprofundados. Acho que até entendo, quiseram falar sobre tanto e no fim quase tudo ficou vazio e desconexo demais.
Voltando para a chegada da Neveah na escola, ela é recepcionada com um cenário sensibilizado embalado com os problemas únicos de cada aluno. E a protagonista também não foge de carregar seu fardo, com problemas familiares só vamos descobrir a verdadeira Neveah ao decorrer dos capítulos. Logo no começo descobrimos as principais rivais da nova bolsista, Bette (Casimere Jollette) e June Park (Daniela Norman), ex-colega de quarto de Cassie.
A relação das três muda muito com a trama e os objetivos de cada uma. Entre as três, Bette é a mais competitiva, sem dúvidas. Ela ameaça sua saúde física e coloca em risco diversas coisas só para conseguir o papel principal do Estripador, peça da escola. Infelizmente, esse caminho duro só traz maiores problemas para Bette. Além disso, ela sofre dificuldades com seu relacionamento duradouro com Oren (Barton Cowperthwaite).
Mesmo com tanta drama, a personagem que tem a maior evolução e desenvolvimento em O Preço da Perfeição é June. A menina que começa sem graça e com cenas que davam até sono, termina com a maior superação. A bailarina passa por muitos traumas, retratados de forma bem explícita para as telas, mas ela consegue sobreviver em meio a tanta turbulência e vira alguém corajosa quanto decide se emancipar.
Entretanto, a história da June não é o único acerto da Netflix nessa produção. O elenco formado, majoritariamente, por dançarinos profissionais faz as cenas de dança serem as melhores coisas de O Preço da Perfeição. Já a investigação sobre a queda da Cassie acaba sendo apenas um figurante nessa história louca de pessoas ricas. Com esse enredo, o seriado é até comparado com Elite, mas dessa vez em uma escola de balé. Vários outros personagens constroem caminhos que são assustadores para adolescentes no ensino médio, porém podem ser mais reais do que nós pensamos.
Distúrbios alimentares atormentam Oren.Culpa e possessão caem sobre Nabil (Michael Hsu Rosen), ex namorado da Cassie; e problemas com relacionamentos são o grande pesadelo do Shane (Brennan Clost), único amigo verdadeiro de Neveah, e merecedor de muito amor e carinho. As dificuldades não são apenas dos adolescentes, a policial responsável pelo caso, Isabel (Jess Salgueiro) carrega problemas do passado que a incentivam a air atrás de respostas. Nessa história, também temos os causadores dos problemas da diretora egocêntrica Monique (Lauren Holly) e o coreógrafo (Bayardo de Murguia) fazendo o inferno na vida dos alunos.
Na verdade, e você consegue perceber isso sem muita dificuldade, todos os personagens possuem defeitos e problemas que precisam ser resolvidos na segunda temporada. Essa, que não foi confirmada ainda, promete muito já que o primeiro ano acabou com uma morte que é mais emocionante (e esperada por todo público) do que aconteceu com Cassie. Falando na menina que caiu, aqui vai um grande alerta sobre ela: não se iluda e nem crie expectativas!
Como já dito, a série quis falar sobre tudo e acabou rasa sem explorar nada de maneira profunda. Se as danças foram a melhor peça dessa produção, o modo que tratou o abuso psicológico, sexual e o grande (e nojento) esquema da escola que envolve os alunos foi a maior pisada da bola da Netflix. A forma que tudo isso é tratado é revoltante e irresponsável. O Preço da Perfeição pode possuir diversos defeitos, mas também possui qualidades que a colocou no ranking de melhores séries de 2020. Só é importante admitir erros que possam prejudicar algumas pessoas.