Sobrevivemos aos memes do Carnaval e à chatice do Oscar, mas ainda não superamos a perda do poeta Alexandre Magno – CHORÃO. Neste dia, que marca o quinto ano sem o eterno líder do Charlie Brown Jr., vamos de papo reto: nenhum dos discos abaixo é do mesmo nível dos clássicos da banda santista, mas foram os mais legais que ouvimos no último mês. Confere aí:
Against All Logic – 2012-2017
deep house
Lançado repentinamente, o novo projeto do chileno Nicolas Jaar surpreendeu a todos. Ele, que prometeu um novo álbum ambient ainda no ano passado, usou o pseudônimo A.A.L. e colocou na praça algo totalmente “não ambient”: é impossível ouvir estas 11 faixas parado. Com cara de DJ set gravado, Jaar pincela batidas consistentes com samples precisos, neste que já é dos grandes discos de 2018. (NV)
Harms Way – Posthuman
metalcore, metal industrial
O Harms Way surgiu na cena de Chicago como um representante do metalcore bombado. Na estrada desde 2006, o quinteto vem quebrando esse estereótipo nos últimos registros.
Posthuman, o quarto álbum do quinteto, mescla dignas pancadas metalcore, ou seja, andamentos cadenciados, dissonâncias e berros, com nuances de metal industrial muito bem-vindas. Trilha sonora adequada para o mosh consciente. (GF)
MC Igu – Subliminar
trap rap
O ano mal começou e o incansável MC Igu já colocou mais uma mixtape na praça. Com 16 faixas e pouco mais de 50 minutos, Subliminar traz a fórmula típica dos lançamentos do MC de Itapetininga (SP): traps grudentos com samples de anime e muito reverb, letras hedonistas e/ou melancólicas e o clássico flow ninja.
Destaques para “Chelsea Grin”, “Michael Myers”, “Facetime” (com participação de Diego Thug, do Bonde da Stronda) e a visionária “Ferrari Black”, um dos primeiros exemplares de crossover entre trap e funk carioca de que se tem notícia. É dar play e bater cabeça. (GF)
Natalia Lafourcade – Musas, Vol. 2
sonzera suave, nueva canción latinoamericana
Embalada pelo sucesso do volume 1 de Musas, a cantora mexicana já disponibilizou a continuação de seu elogiado álbum. Em tributos às suas raízes latinas – sejam literais, com versões de clássicos, ou em composições originais com tempero peculiar -, Lafourcade incorpora sua voz em arranjos compactos, e o resultado é um disco muito agradável (do tipo que você pode colocar no almoço de domingo e sua família gosta – veja o pequeno show abaixo e confira), que mesmo assim não abre mão de versos com comentários sociais. É torcer que o sucesso da animação Viva – A Vida é Uma Festa – cuja canção principal foi executada por Natália na última cerimônia do Oscar – dê ainda mais visibilidade para a artista. (NV)
Ravyn Lenae – Crush EP
r&b/neo soul
Ravyn Lenae é uma artista com uma trajetória incomum: surgiu na cena aos 15 anos, quando colocou seu primeiro EP na pista. De lá pra cá, a qualidade seguiu alta e o som não deixou de seduzir. Cresceu, no entanto, o nível de sofisticação. A parceria com o queridinho Steve Lacy na produção rende cerca de 16 minutos de um som cativante do começo ao fim, que não se incomoda em incomodar.
Ainda, o amadurecimento fez bem para a performance vocal de Lenae: a americana sempre chamou atenção pelas notas que atinge, mas agora ela encontra o seu ápice como vocalista. É feel good music das boas, com destaque para a grudenta “Sticky” — para apertar o play sem dó. (LS)
Starchild & The New Romantic – Language
Funk, R&B
Tudo no Starchild & The New Romantic, projeto comandado por Bryndon Cook, grita anos 80. E não há como negar que essa roupagem cai muito bem ao americano. Nesse sentido, Cook bebe da mesma fonte que seus colegas Dev Hynes (mais conhecido como Blood Orange) e Carly Rae Jepsen: usa da nostalgia oitentista para estabelecer uma atmosfera de urgência jovem.
No entanto, o romantismo de Bryndon vem atenuado por certa sobriedade e autodúvida, como se narrasse as desilusões de algum personagem do documentário Paris Is Burning (1991), sobre a cultura LGBT periférica em Nova York na década de 80. Vivíssimo da silva, Prince é outra forte referência aqui, com seu funk futurista. (LS)
V/A – The Black Panther
hip hop, r&b
Pantera Negra é sucesso absoluto de crítica e público. Na trama, o conflito entre a revolta de um vilão e o desejo por paz de um herói (quase que numa oposição Malcolm X versus Marthin Luther King) eleva o gênero nos cinemas. Através da curadoria de Kendrick Lamar, a trilha sonora para o longa expressa essa multiplicidade, enquanto reúne os nomes mais quentes da música negra atual.
Os melhores momentos aqui são os protagonizados por vozes do R&B, como Jorja Smith, SZA e Khalid. Mas a onipresença de Kung Fu Kenny na tracklist é mais uma sutil vitrine para o altíssimo nível de excelência que o rapper atingiu. Ainda, a união de tendências contemporâneas do hip hop com referências tribais e da música pop sul-africana reafirmam a qualidade do personagem da Marvel na cultura contemporânea. (LS)