João Pedro Piza
Em Julho de 2024, MaXXXine estreou nos cinemas brasileiros com o hype e a expectativa lá em cima. Sequência do surpreendente slasher X e de seu prelúdio, o horror psicológico Pearl, ambos de 2022, este tinha a missão de dar continuidade à saga da protagonista interpretada por Mia Goth em um novo cenário. Poucos anos depois dos acontecimentos do primeiro filme, Maxine Minx se tornou uma estrela da indústria pornográfica e agora busca um lugar na Hollywood da década de 1980.
Assim como nos dois primeiros, a produção é da A24 e a direção e o roteiro ficam nas mãos de Ti West. Além de inventivo, as homenagens e referências a clássicos do horror em enquadramentos e montagens de cenas são características do jovem diretor. São notórias as alusões a O Massacre da Serra Elétrica (1974), Psicose (1960) e O Iluminado (1980) em X, e à Mágico de Oz (1939) em Pearl. Em MaXXXine, há técnicas – e até clichês – que rememoram Hitchcock e Brian De Palma.
De maneira inteligente e sagaz, West resgata a ambientação da época com precisão, tanto por meio de recursos estéticos, como figurino, Fotografia e trilha sonora, como também pelo fetichismo de se tornar uma estrela hollywoodiana ou membro dessa indústria cinematográfica. Logo de início, também é rememorada a dualidade entre uma suposta era promíscua em conflito com o apelo religioso, algo alimentado, inclusive, pelo então presidente Ronald Reagan. Para completar, esse cenário dialoga com abordagens de uma Los Angeles caótica, marcada pela desigualdade social e elevada violência urbana.
É justamente nesse último ponto que surge o principal nó do filme: o assassino em série Night Stalker está à solta, matando suas vítimas de forma brutal e as autoridades não encontram uma forma de detê-lo. Curiosamente, esses assassinatos passam a ocorrer após Maxine conseguir um papel no filme Puritana 2, envolvendo pessoas próximas à ela. Tem-se aqui, ainda, uma espécie de relação entre gato e rato de Maxine com o assassino, que demonstra saber de acontecimentos passados acerca de sua história, dando a entender que ela está inserida em um “jogo” e logo será pega.
Entre os pontos positivos, está, assim como nos anteriores, a excelente atuação de Mia Goth. Mais uma vez ela dá um show ao reunir elegância, violência e sensualidade na figura de uma protagonista cativante. Especialmente nos monólogos – assim como fez na já clássica cena final de Pearl –, fica evidente a sensibilidade da atriz, transitando da arrogância tóxica ao medo agônico com facilidade.
Neste longa também funcionam bem certas metalinguagens. Ora, assim como Maxine compõe o elenco de um blockbuster do horror hollywoodiano, MaXXXine chega aos cinemas, após o sucesso dos anteriores, como um blockbuster do horror contemporâneo, com alto orçamento em relação aos seus anteriores, que tinham muito mais elementos do Cinema independente. Busca-se, por meio disso, apontar paradigmas e aflições inerentes àqueles indivíduos inseridos na indústria cinematográfica: construção de reputação, medo, arrogância, incerteza, sucesso e, em certo sentido, o potencial da Sétima Arte como forma de expressão de seu tempo.
É uma pena que as qualidades param por aí. Basicamente, metade do segundo e o terceiro ato inteiro são marcados por clichês, um roteiro preguiçoso e o mau desenvolvimento de um enredo, até então, promissor. O elenco de apoio tem Kevin Bacon (X-Men: Primeira Classe; Questão de Honra), Elizabeth Debicki (The Crown; Guardiões da Galáxia), Halsey (Sing 2; Nasce uma Estrela) e Giancarlo Esposito (Breaking Bad; Better Call Saul); ainda que os dois primeiros tenham uma importância maior para a trama, a aparição de ambos parece ser algo à parte do enredo principal, tangenciando-o de maneira superficial, mas nunca sendo algo realmente relevante – o personagem de Esposito, inclusive, beira o caricato.
Junto a isso, diferentes tramas são abertas e poucas são resolvidas. As duas principais, a dos assassinatos em série e os desafios de Maxine em Hollywood, pouco se conectam e, à medida que o longa se encaminha para o desenvolvimento, é agoniante não ver que as duas irão se relacionar ou ter uma solução robusta. Logo, fica difícil encarar o pânico generalizado pela aparição do Night Stalker e os percalços que a protagonista está enfrentando em uma nova fase de sua carreira, como crises de alta magnitude.
Parece que ambas encaminham para o pretensioso final, que é brega até a última gota. A temática religiosa volta à cena de maneira espalhafatosa, recorrendo à seita, perseguição policial e cenas de tiroteio, distanciando-se bastante do slasher e do horror psicológico – tão bem realizados pelos seus antecessores. Recorre-se a alegorias baratas, frases de efeito que pouco funcionam e resoluções, ainda assim, abertas.
Em entrevista, Ti West afirmou que este pode não ser o último da saga. De qualquer forma, MaXXXine não dialoga tão bem com X e Pearl como esses dois dialogam entre si. Ambos, mesmo com menos orçamento, são mais ousados, originais e inteligentes no que propõem. Poderia ser uma trilogia para ficar na história do gênero. No entanto, somente os dois primeiros ficarão.