Agata Bueno
O thriller que nos apresenta uma das heroínas mais enigmáticas da Marvel não nos leva a lugar nenhum. Entre os segredos do passado e um futuro que envolve todos na teia de Cassandra Webb, lugar nenhum é um eufemismo perto do abismo em que o filme deixa o espectador. Afinal, Madame Teia prometeu uma viagem tão transcendental assim?
Nas ruas de Manhattan, Cassie (Dakota Johnson) leva uma vida comum trabalhando como paramédica – até o dia que descobre suas habilidades de prever o futuro. Com o novo dom também vem algumas responsabilidades, e, entre elas, proteger as vidas de três adolescentes que aparecem constantemente em suas visões.
Julia Carpenter (Sydney Sweeney), Anya Corazon (Isabela Merced) e Mattie Franklin (Celeste O’Connor) se juntam para acompanhar a jornada da personagem que leva o nome do filme. A busca pelo passado, para entender a origem dos poderes de Cassie, não é a única razão que as une, é claro. Quando um velho amigo da mãe de Webb começa a perseguir as três garotas, ela sabe que deve protegê-las.
O tal abismo criado na produção da Marvel com a Sony não é tão fundo assim. Há uma linha cronológica e uma junção de fatos coerentes, sem reviravoltas desnecessárias ou personagens demais para contar. Isso é um fato. Entretanto, ao final da narrativa – que, claramente, é uma abertura para uma sequência –, percebemos que é um filme que fala sobre nada.
Madame Teia não apresenta nada de relevante e se contenta com uma história que poderia servir de background para outra narrativa, melhor desenvolvida e explorada. Tem um gostinho de filme de Sessão da Tarde que o torna uma das produções mais fáceis de engolir dos últimos anos. É um roteiro basicamente vazio? Sim, mas não chega a amargar o paladar do público.
O enredo da diretora S. J. Clarkson em parceria com Matt Sazama, Burk Sharpless e Claire Parker parece, mais uma vez, uma história de super-herói já contada. Embora mantenha uma linha do tempo inteligente, a narrativa não se aprofunda em nenhum personagem de verdade. Tudo está ligado à teia de Cassandra Web, de fato, mas nada parece importante o suficiente para toda a comoção que cerca a personagem principal.
A combinação do script com a atuação reforça a ideia de que a história poderia ser reduzida a apenas 20 minutos de uma produção melhor executada. Mesmo com Johnson, Sweeney, Merced e O’Connor nos holofotes, parecia que faltava algo. Talvez faltasse uma combinação melhor com os papéis. Ou apenas um interesse verdadeiro em entrar no Universo Cinematográfico da Marvel.
Diferentemente dos quadrinhos, em que Webb já nasce com uma condição genética que a deixa parcialmente cega e possui uma conexão espiritual que lhe concede habilidades psíquicas extraordinárias, a versão do filme parece ser um tanto quanto superficial. A figura que apareceu no universo do Homem-Aranha pela primeira vez em 1980 é incumbida de um papel importantíssimo, tanto na vida do herói da vizinhança quanto na narrativa de outros defensores. Já a personagem de Dakota Johnson não parece emanar tamanha importância.
Após o efeito Vingadores, não houve uma produção da Marvel sequer que conseguiu suprir as expectativas do público. Uma audiência mais crítica combinada com a aparente escolha de quantidade sobre qualidade do estúdio foi a mistura perfeita para o boicote das produções mais recentes. Sequências de filmes, novos universos, novas séries e um multiverso inteiro para explorar não são páreos para uma nova produção que parece reciclar a mesma ideia várias e várias vezes.
Quando o boicote chega a ser quase palpável, a publicidade ganha força. A divulgação de Madame Teia foi pesada e, especialmente após o anúncio, muito aguardada. Desde presenças especiais em eventos até especulações sobre uma possível aparição de um dos Homem-Aranha, o longa realmente adotou o “falem bem ou falem mal, mas falem de mim”.
Apesar da divulgação, o longa não parece ser levado a sério – nem mesmo por quem esteve nele. A temática e a escolha das personagens e do elenco realmente despertou o interesse do público, inicialmente. No entanto, conforme a estreia se aproximava, podíamos sentir o desinteresse da atriz principal. Dakota Johnson afirmou que não estava surpresa com o fracasso da produção e que provavelmente não faria papéis como esse novamente.
Se, na vida real, a obra pode ter virado piada, na ficção os personagens parecem ter saído de um circo. As protegidas de Cassie são, na maior parte do tempo, apenas crianças mimadas e teimosas – até uma rápida tomada de consciência pelas três, ao mesmo tempo, quando elas (de repente) sentem que têm responsabilidades. Com o vilão não é diferente. Na maioria das aparições de Ezekiel Sims (Tahar Rahim), o perigo que ele representa parece tão distante que não chega a ser uma ameaça urgente que paira sobre a ilha de Manhattan.
Entre uma exibição e outra em uma sala de espera ou numa tarde de filmes na TV aberta, Madame Teia não prende ninguém em sua teia. É uma obra que fala sobre nada, mas, se tivesse sido lançada há alguns anos, com certeza seria melhor avaliada. Pelo menos, nos serve de entretenimento enquanto esperamos o próximo lançamento que fará valer o ingresso do cinema.