Geovana Arruda
Sabe aquele sonho de todo fã: conhecer seu ídolo, se tornar amigo dele, ficar horas e horas imaginando os momentos que viveriam juntos? O panda mais cativante do cinema fecha a trilogia de filmes sendo a demonstração fiel de um verdadeiro fã. Mesmo após 5 anos, Kung Fu Panda 3 consegue representar tão bem o sentimento que temos quando algo bom acontece, e nos sabotamos pensando “eu? um mero mortal?”.
O terceiro filme da animação ,apresenta nosso querido panda e protagonista Po (Jack Black), mais uma vez na sua essência de eterno aprendiz, tendo que enfrentar não somente um vilão, mas a si mesmo. A batalha da vez é contra Kai (J.K. Simmons), um guerreiro antigo que derrota o Mestre Oogway (Randall Duk Kim) e volta do mundo espiritual para apossar-se de uma espécie de substância vital, o Chi ou Qi, de todos os mestres do kung fu. Mas, não para por ai, Po finalmente conhece seu pai biológico e, guiado por ele, vai em busca da vila dos pandas, a fim de se redescobrir e conquistar seu Chi.
A franquia da DreamWorks, que chegou em 2008 para substituir o tão querido Shrek, foi um sucesso, visto que o último filme do ogro, Shrek para sempre (2010), não é tão bem humorada quanto os outros, Kung Fu Panda conquistou públicos de todas as idades e superou outras animações do estúdio, como Madagascar. O sucesso foi tanto que o filme ganhou 3 curtas, O Segredo dos Cinco Furiosos (2008), Especial de Natal Kung Fu Panda (2010) e Kung Fu Panda: O Segredo dos Mestres (2011), e uma série de televisão para o canal a cabo Nickelodeon: Kung Fu Panda: Lendas do Dragão Guerreiro (2011).
Desde o primeiro filme acompanhamos a evolução de Po, que passou de fã dos 5 Furiosos para parte importante deles, porém, o que torna o personagem tão interessante e engraçado, é justamente a sensação de estar sempre, de certa forma, deslocado em relação aos seus colegas de luta. Gordo, comilão, desajeitado e tagarela não são as características que se esperava de “um escolhido” por providências divinas para salvar a todos no fim do dia, mas Po não somente honrou suas características inigualáveis, como se tornou um herói querido dentro e fora do filme.
Além de toda a ação presente na arte do kung fu, uma característica da animação nunca é deixada de lado, a relação com o espiritualismo e a cultura milenar chinesa. Guiado pelo Mestre Shifu (Dustin Hoffman), que desde o princípio acreditou em Po, o panda segue em mais uma jornada de aprendizado e autoconhecimento em busca do Chi que, na história chinesa, acredita-se ser um fluxo de energia vital que habita em todos os seres vivos. Já no filme, o mesmo conceito é mantido porém com o bônus de que, para se tornar um mestre completo, Po precisa ter domínio de seu Chi, podendo assim derrotar o vilão.
A produção visual do filme é bem trabalhada, tendo como plano de fundo a China, desde o cenário até a trilha sonora, fazendo jus a grandeza do país e de sua cultura. Os detalhes das roupas, dos personagens e das cores transformam Kung Fu Panda 3 em uma animação imersiva e bonita de se ver, no qual viajamos pelo mundo das artes marciais chinesas, com cenas de ação e combate, mas também entendemos mais sobre o valor e a conexão com os antepassados. Além disso, a mesclagem do esoterismo oriental com questões ocidentais mais uma vez é presente nas referências do personagem principal, que possui objetos colecionáveis de seus grandes ídolos.
Pode-se dizer que neste terceiro momento da saga de Po com as artes marciais, Kung Fu Panda 3 foca menos na luta em si, apesar de haver sequências de ação que a sustentam, mas sim na sua relação consigo e com suas origens. A partir do momento em que ele conhece seu pai biológico Li (Bryan Craston), há um conflito interno na forma como se sentia sendo tão diferente de seu pai adotivo Mr. Ping (James Hong). Também, os conflitos familiares se fortalecem mais ainda com o ciúmes de Mr. Ping quando Po decide conhecer sua verdadeira essência na vila dos pandas, deixando um pouco de lado toda a ameaça que o vilão apresentava para focar nas descobertas pessoais do panda.
Um ponto chave da construção do protagonista, além de sua simpatia, é sua evolução desde o primeiro filme, por mais que ele ainda tenha um pouco da síndrome do impostor, pois não acredita muito em si, o panda evolui em todos os sentidos, na luta e na sua personalidade sem perder a sua essência. A coroação do fim da trilogia acontece justamente pois, em tese, Po alcança o maior título que poderia conquistar na sua jornada, o de Mestre. Ademais, os processos de aprendizagem da animação nos ensinam muito, pois assim como Mestre Shifu soube que deveria ensinar kung fu (no primeiro filme) de forma que Po compreendesse, desta forma o eterno aprendiz o faz ensinando para os seus na vila dos pandas, do seu jeitinho.
Kung Fu Panda 3 é leve, divertido e reforça mais uma vez que todos somos capazes de fazer algo que temos medo ou insegurança, pois no fim nossos maiores ídolos são tão falhos como nós mesmos. Basta acreditar no progresso e não perder sua essência.