Gabrielli Natividade da Silva
Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio, oitavo filme da franquia Invocação do Mal, chegou aos cinemas sendo muito aclamado pelo público. A sequência se trata do caso que gerou bastante repercussão para Ed e Lorraine Warren em 1981, quando tentaram provar a inocência de Arne Cheyenne Johnson, o qual foi acusado de assassinato e alegava ter estado sob possessão demoníaca. O longa mostra desde quando o casal conheceu o réu até o momento do veredito final do julgamento, cativando os espectadores com todos os mistérios envolvidos.
A história se inicia quando a família Glatzel aciona o casal Warren para realizar um exorcismo no filho mais novo da casa, David (interpretado por Julian Hilliard, o qual já tinha experiência com o terror por seu papel de jovem Luke em A Maldição da Residência Hill), de 11 anos, que apresentava um comportamento muito incomum. No entanto, o processo do exorcismo sai do controle e Arne, namorado de Debbie Glatzel (irmã de David), se oferece para ser possuído no lugar da criança. A partir daí, o plot é muito bem trabalhado, com muitas descobertas e reviravoltas impressionantes.
A Ordem do Demônio tinha muitas expectativas a superar, já que os dois primeiros filmes da trilogia foram grandes sucessos do diretor James Wan (que manteve seu envolvimento no filme, já que atuou como produtor e roteirista, mas sua ausência na direção causou receio no público), enquanto Michael Chaves – diretor do mais novo longa da franquia – deixou a desejar em seu último trabalho, A Maldição da Chorona.
No entanto, o filme obteve êxito sendo uma ótima continuação da saga. Algumas diferenças são perceptíveis se comparadas ao trabalho de Wan, como momentos leves e sutis de comédia e romance, que foram surpresas agradáveis para quem estava acostumado com a tensão quase constante que envolve os dois primeiros filmes.
Falando sobre surpresas agradáveis, é possível ainda apreciar na nova continuação um pouco sobre o passado de Lorraine e Ed Warren e como se conheceram – o que não havia sido retratado antes e foi de extrema importância para o desfecho final da história. Ademais, os dons de Lorraine (a qual alegava ser vidente e sensitiva) foram explorados ao extremo, gerando uma conexão direta muito bem construída e estabelecida com a trama principal do caso e Vera Farmiga não decepcionou em sua atuação incrível.
Contudo, nem todos os personagens foram tão bem desenvolvidos como Lorraine Warren. É possível dizer que Debbie Glatzel (Sarah Catherine Hook) não se mostrou impressionante. No século XX, era muito comum as mulheres serem retratadas como histéricas e sem muita força para oferecer; isso mudou com o passar dos anos – principalmente após o lançamento de Halloween, com a chegada de Laurie Strode ao cinema sendo uma garota forte que pode se defender do vilão – quando foi criado o conceito de final girl. Infelizmente, Debbie aparenta ser uma personagem presa no século passado, sendo uma representação de mulheres clássicas como Marion Crane (Psicose) e Wendy Torrance (O Iluminado).
Pode-se dizer que todo o caso foi repassado ao público de forma surpreendente, misteriosa e assustadora. Muitos filmes de terror, incluindo A Freira, parte da franquia, utilizam em excesso os famosos jump scares, mas The Conjuring: The Devil Made Me Do It conseguiu de forma inteligente criar um clima naturalmente medonho, sem a ajuda das cenas que se tornam tão previsíveis e preguiçosas com a técnica clichê.
O horror fornecido pelo filme se dá pela presença de uma bruxa ocultista e a tensão que ela traz para a história. Eugenie Bondurant, mesmo sem ter recebido tantas falas, fez um trabalho excelente em representar a vilã do filme, uma bruxa fria, calculista e sem personalidade humana que, através de um pacto demoníaco, realizou diversos rituais que assombraram a trama. Seu terror teve início quando os Warren encontraram um totem na casa dos Glatzel e iniciaram de fato a investigação, fazendo com que todo o desenvolvimento de seu arco fosse brilhante, assim como a conexão criada entre ela e Lorraine Warren.
Por fim, fica claro que Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio tem muito a oferecer. O longa de Michael Chaves, lançado tanto nos cinemas quanto no catálogo do HBO Max norte-americano, agradou o público geral, é um sucesso de bilheteria e gerou ótimas críticas com razão, já que faz jus à franquia tão famosa em todos os aspectos e com certeza vale a pena não só assisti-lo, como também se atentar à sua cena final, onde são mostrados diversos registros reais do caso retratado nesse longa.
Parabéns pela crítica. Perfeita !!!