Raul Galhego
2008 foi cheio de decepções. Homem-Aranha 3, X-Men: O Confronto Final e Motoqueiro Fantasma lideram os insucessos de adaptações dos quadrinhos. A indústria de filmes de super-heróis começa a perder as esperanças. Mas eis que surge a luz no fim do túnel: o primeiro filme de produção independente da Marvel. Baseado em um herói de segunda classe das HQs, Homem de Ferro veio para introduzir ao mundo o que viria a ser o Universo Cinematográfico Marvel, ou MCU, que hoje conta com 18 filmes e milhares de fãs!
O longa conta a história de Tony Stark (Robert Downey Jr.), herdeiro milionário das Indústrias Stark, a maior fabricante de armas dos Estados Unidos. Raptado por terroristas em uma de suas demonstrações de armas em território inimigo, ele é forçado a trabalhar como escravo fabricando um míssil. Dependendo de um eletroímã para impedir que fragmentos de uma explosão causada em seu sequestro atinjam seu coração, Tony tem a ideia de construir uma armadura equipada com armamentos e blindagem para conseguir escapar. De volta à vida normal, decide que não vai mais fabricar armas em sua empresa, sendo obrigado a enfrentar conflitos ideológicos e políticos com o Conselho das indústrias enquanto implementa sua própria armadura para combater o terrorismo.
Tony Stark é um herói diferente dos que conhecemos. Por baixo da armadura temos um homem vaidoso, egocêntrico e nada atrativo, que decide se tornar um super-herói apenas para alimentar sua fama. O sucesso do personagem se deve à excelente atuação de Downey Jr, cuja personalidade se funde com a de Tony, criando uma unicidade entre personagem e ator vista poucas vezes no cinema. Esse fato é destacado na cena final do longa, quando o protagonista anuncia para uma coletiva de imprensa, com o maior orgulho que a frase pode proporcionar: “Eu sou o Homem de Ferro!”, ao som da música homônima, do Black Sabbath. Chega a ser difícil de saber se quem diz a frase é o herói ou o homem por trás dele, já que os atores tinham total liberdade para improvisar suas falas.
A trilha sonora do filme também não deixa a desejar. Com composição de Ramin Djawadi, as faixas causam imersão e por vezes nostalgia no espectador, como no início do filme, quando se ouve “Back in Black”, do AC/DC. O rock domina a trilha. O guitarrista Tom Morello, do Rage Against the Machine, inclusive participou da composição e fez uma aparição no filme, ao estilo Stan Lee.
O destaque do roteiro acontece no retorno de Tony ao lar. Com uma visão mais humanitária, ele entra em conflitos para encerrar a produção de armas, tendo que lidar com seu sócio, Obadiah Stane (Jeff Bridges), que rouba sua tecnologia e faz uma armadura para si. Stark melhora a própria armadura para destruir as armas vendidas aos terroristas, salvando vidas em países do Oriente Médio, enquanto o sócio continua buscando apenas interesses financeiros por baixo dos panos, culminando em uma batalha entre os dois.
Essa visão humanitária é algo pouco visto no mundo em que vivemos, onde o foco das indústrias, em sua maioria, é o lucro a qualquer custo. Poucas empresas se preocupam com os efeitos que suas ações causam na sociedade e no meio ambiente. Infelizmente, a grande maioria só começa a se preocupar quando isso afeta elas mesmas financeira ou politicamente. É o caso do próprio Tony, que começa a perceber o efeito das suas ações somente quando o comboio é atacado por armas com o selo Stark, sendo ele mesmo, indiretamente, o responsável pelos estilhaços que habitam seu corpo.
Por outro lado, um dos pontos fracos do filme é a representatividade. Nos filmes mais recentes do MCU, podemos ver uma maior inclusão e participação de minorias. Esse ponto foi executado com maestria pela Marvel no recente Pantera Negra. O diretor do mais recente blockbuster da marca, Joe Robert Cole, chegou a afirmar que Homem de Ferro talvez não fizesse tanto sucesso se lançado hoje.
De qualquer forma, é inegável a importância do filme para o que se tornou hoje o MCU, um universo de mais de dezenas de filmes de super-heróis que se interconectam, culminando no aguardado Guerra Infinita. Essa era de filmes pode ser representada por uma frase dita por Tony Stark no longa e que se aplica ao ambicioso início do projeto da Marvel: “Às vezes é preciso aprender a correr antes de começar a andar”.
Realmente, homem de ferro foi um dos melhores filmes da Marvel Studios até hoje. Eu cresci assistindo esses filmes e tenho muito orgulho de ser fã desse maravilhoso universo, tanto nas telonas quanto nas HQ’s.