Carol Dalla Vecchia e Layla de Oliveira
“Eu estou falando de mulheres violentas, perversas. Mulheres sinistras. Não me diga que você não conhece algumas”. Com dificuldades de se enturmar por conta de sua timidez, a jovem Gillian Flynn encontrou uma fuga na leitura e na escrita, o que a levou a cursar Jornalismo na Universidade do Kansas (KU). Uma vez formada, ela planejava se tornar repórter policial, no entanto, percebeu que era desajeitada para o ramo criminal por querer que toda história tivesse um começo, meio e fim. Assim, começou a trabalhar na Entertainment Weekly, escrevendo críticas de cinema e TV por dez anos.
Dedicar-se à avaliação de obras ficcionais trouxe duas percepções para Flynn. A primeira é que mesmo sendo revigorante trabalhar com histórias novas todas as semanas, isso não supriu sua necessidade de “construir um mundo e viver nele por um tempo”. A segunda é que ao analisar tantos materiais, ela percebeu que eram todas narrativas sobre homens, e que uma forma de mudar esse quadro era escrevendo seus próprios romances. Segundo ela, todos retratavam “homens brutais, presos em ciclos de agressão. Eu queria escrever sobre a violência de mulheres. Então eu fiz”.
Hoje, 24 de fevereiro, Gillian Flynn está completando 50 anos e duvidamos muito que exista arrependimento em relação às mudanças que fez em sua carreira: seus livros e produtos audiovisuais conquistaram milhões de fãs ao redor do mundo. Um feito que merece ser comemorado nesse dia especial, nem que seja com texto para homenagear sua trajetória literária e justificar nossa reverência à autora.
Observar que apenas a brutalidade masculina era representada na ficção levou Flynn a refletir sobre sua própria formação como mulher. Em 2015, ela escreveu sobre o assunto para o blog da livraria Powell’s Books, contando que desde cedo ela “não era uma menininha legal”; não porque era uma criança malévola, mas porque ela sempre se comportou de um modo que não é associado à feminilidade. De acordo com a própria autora, a mídia não relaciona às mulheres os discursos de hostilidade, sexualidade ou poder.
Em seu texto para a Powell’s, Gillian Flynn deixa claro que as falhas na representação de mulheres em âmbitos brutais gera uma divergência entre o que está explícito sobre a feminilidade e o que é subjetivo. “A violência feminina é um tipo específico de ferocidade. É invasivo […] Uma coisa muito mais temível de assistir do que dois caras se espancando”, reflete a autora, destacando que mulheres aprendem a se conter, e aparentar ternura, mesmo que seu íntimo seja cruel.
Flynn expõe essa maldade. Quando ela pensa nas mulheres de seus livros, ela pensa em uma foto de Frederick Sommer chamada Livia: é o retrato de uma menina que tem “todos os apetrechos da inocência”. Mas quando a autora observa o que está intrínseco em seu rosto, ela percebe a travessura, a perversidade. Essa garotinha lembra a Gillian Flynn de que “meninas — e mulheres — podem ser más”. A capacidade de ver além do superficial é o que torna o trabalho de Flynn interessante: “Mulheres têm muitos problemas com agressão e raiva […] elas expressam de maneira diferente dos homens. E eu [Flynn] senti que isso era algo que simplesmente parecia não ser falado”. Ela falou, e por isso suas obras se tornaram uma revolução.
Para tentar representar a verdade da violência feminina, ela se aventurou em seu primeiro romance, Objetos Cortantes (Sharp Objects), que foi publicado em 2006. Dentro dessa narrativa, Gillian Flynn explora uma família de mulheres nocivas, que dominam a sociedade de uma pequena cidade interiorana com sua soberania e falta de autocontrole. A criação de um cenário tão sórdido, comandado por figuras femininas, pode causar inquietação em pessoas desacostumadas a esse quadro. Entretanto, a autora explica que o “poder pode ser sangrento, seja um patriarcado ou um matriarcado. Só parece diferente. Mas isso não significa que será mais bonito só porque as mulheres estão no comando”.
A trama acompanha Camille Preaker, uma jornalista recém saída de uma clínica de tratamento psiquiátrico, que volta para sua pequena cidade natal, Wind Gap, a fim de fazer a cobertura de crimes envolvendo duas meninas da região. Ao chegar lá, Camille encontra uma resistência forte da população em divulgar as atrocidades, por conta da brutalidade dos atos: ambas foram estranguladas, tiveram seus dentes arrancados e seus corpos foram abandonados sem nenhum apreço.
A personificação dessa resistência foi encontrada na própria mãe de Camille, Adora Crellin, uma figura muito influente dentro da sociedade local pelo mérito político-econômico de seus antepassados. Por sua posição social, aparência e modos impecáveis que encantam todos os windgapianos, suas condutas são apresentadas como um modelo de decência a serem reproduzidos por todos os outros habitantes. Menos por Camille, que nunca se submeteu às exigências e desejos de sua mãe e por isso, sempre foi desmerecida; ao contrário de sua irmã mais nova, Marian, que foi a preferida de Adora até morrer tragicamente aos 8 anos.
Depois de oito anos longe da família, Camille encontra uma situação diferente da que deixou para trás: quando partiu, todos viviam o intenso luto de Marian, agora, a irmã foi substituída por Amma. Essa irmã desconhecida pela protagonista vive uma vida dupla: quando está dentro de casa é uma jovem adolescente que se comporta de acordo com os moldes de Adora, mas longe da visão dos pais vive como uma rebelde malvada e exigente sobre seus caprichos.
Camille conhece os dois lados de Amma e elas constroem um laço de identificação muito forte. A irmã mais nova se inspira nas convicções fortes da irmã mais velha, enquanto a primogênita vê a representação de sua própria juventude inconsequente na caçula. Mas além de visitar suas memórias, instalar-se por um tempo na casa da família Crellin faz com que Camille descubra segredos macabros envolvendo seu passado, e até mesmo o presente.
O propósito de Gillian Flynn de revelar a barbaridade feminina é evidenciado na jornalista, pois ela é a única que consegue enxergar a malignidade de Adora, e uma das únicas pessoas que tem consciência da verdadeira personalidade de Amma enquanto ela está fora de casa. Preaker legitima a capacidade de mulheres fazerem coisas erradas por conta própria, sem a influência de fatores externos, o que faz dela uma alegoria das convicções da autora.
Pensar que Objetos Cortantes foi o livro de estreia da autora causa muito fascínio pela maestria de sua escrita e de seu desenvolvimento de personagens e enredo. O thriller psicológico é gerado no leitor com capítulos angustiantes e uma reviravolta literalmente nas últimas páginas; torna-se improvável que uma pessoa acabe de ler o livro e não passe um tempo refletindo sobre a história. Ademais, a genialidade dessa trama foi adaptada para outras plataformas, sendo traduzida como uma minissérie pela HBO em 2018.
Camille Preaker ganhou vida através da talentosa Amy Adams, que conseguiu expressar visualmente tudo aquilo que era íntimo da personagem e conseguiu comover o espectador. Mesmo que Preaker não seja uma “boa menina”, Adams nos leva a sentir empatia por sua alma torturada. Já Adora, o retrato sulista da fragilidade, foi vivida por Patricia Clarkson, enquanto o mérito de manifestar tanto a pureza quanto a indisciplina de Amma é todo de Eliza Scanlen. Ambas as atrizes nos surpreenderam durante o decorrer da série, oscilando entre momentos de mínima simpatia e desprezo total.
Gillian Flynn foi a produtora executiva e roteirista de três episódios do seriado, o que garantiu uma admiração ainda maior por parte dos fãs e do público geral pelas suas habilidades de contar histórias. O resultado rendeu indicações a grandes prêmios como o Emmy e Globo de Ouro, tanto para ela quanto para as atrizes envolvidas no projeto.
Três anos depois de ter explorado o caos familiar de Objetos Cortantes, Gillian Flynn decidiu explorar uma mente fragmentada e as brechas que podem ser criadas após um trauma. Assim, em 2009 foi publicado Lugares Escuros (Dark Places), um romance que caminha entre os horríveis acontecimentos envolvendo a família Day. Em janeiro de 1985, Patty Day e duas de suas filhas, Michelle e Debby, foram assassinadas durante a noite, dentro de sua casa de fazenda.
A caçula da família, Libby, tinha apenas sete anos e conseguiu fugir do massacre. Quando a encontraram na manhã seguinte, ela testemunhou sobre o que tinha ocorrido e seu depoimento apontou seu irmão mais velho, Ben, como o culpado pelo crime. Assim, a mídia foi à loucura com o desenrolar das acusações: os holofotes mostravam Ben como um jovem de quinze anos problemático e adorador de Satanás, e Libby como uma pequena vitoriosa que precisava de ajuda para superar seu trauma. Desse modo, milhares de pessoas se comoveram e enviaram doações em dinheiro para a menina.
O livro alterna pontos de vista entre capítulos que se passam no dia dos assassinatos e vinte e quatro anos depois. No tempo presente, Libby é uma adulta emocionalmente instável e esse dinheiro das doações que a sustentou por tantos anos, está acabando. Como não se sente capaz de arranjar um trabalho, ela recorre à proposta de um grupo de fanáticos por soluções de crimes reais. Convencidos de que Ben é inocente, eles pagam Libby para que ela vá atrás de pontas soltas dessa história, revivendo suas memórias e contatando os membros ainda vivos de sua família.
Enquanto em Objetos Cortantes Flynn tem como temática o uso da delicadeza para amenizar a selvageria, aqui ela é escancarada. O uso do presente misturado com flashbacks de Patty e Ben no dia fatídico dos assassinatos exemplifica o grotesco e o desespero da impassibilidade e da raiva. Além dos recursos de tempo, a autora também dá uma aula sobre escrita criativa, colocando em prática o conceito conhecido como show, don’t tell (“mostre, não fale”).
Ao invés de simplesmente contar como são seus personagens, entregando sua personalidade logo de cara, Flynn mostra detalhes sórdidos das cenas. Criando ambientes assustadores, ela descreve ações que nos mostram mais sobre caráter dos envolvidos do que suas falas ou o discurso do narrador. Um claro exemplo dessa dinâmica é a cleptomania de Libby: em nenhum momento a autora relaciona essa palavra à protagonista, mas o leitor reconhece sua compulsão através de seus atos retratados.
Assim, Lugares Escuros se torna vívido na mente do leitor e todas as características indelicadas e grosseiras, que pareciam suaves no primeiro romance da autora, ganham muita força com episódios que podem ser considerados nojentos por aqueles com estômago mais fraco. Gillian Flynn usa esse poder de impacto para despejar certas críticas principalmente à formação moral do ser humano. Todos os indivíduos mostrados na narrativa viveram circunstâncias de grande perturbação em sua infância que não foram lidadas da maneira correta.
A total negligência e o excesso de cuidado são dois opostos muito bem trabalhados. Além de mostrar crianças que estão passando por essas situações delicadas, a autora também apresenta as suas consequências na vida adulta. Ninguém é considerado uma pessoa “equilibrada” nesse livro, e muito se deve à criação que tiveram.
Fora as críticas mais explícitas, Flynn deixa dicas sutis de sua opinião sobre assuntos como a espetacularização de crimes reais na mídia. A cobertura do massacre dos Day apontou Ben como culpado desde o começo, quando a única relação dele com o crime eram palavras satânicas pintadas nas paredes da casa e seu gosto por heavy metal. As questões mais minuciosas do caso eram ignoradas em troca de imagens da pequena Libby comemorando seu aniversário mesmo depois de tanta perturbação.
Essa banalização transforma o assassinato em um jogo. Quando Libby é procurada para falar sobre a suposta inocência de Ben, ela conhece vários grupos de pessoas que se reúnem para solucionar crimes reais como se fossem mais um episódio de C.S.I. e não um caso sério da polícia. Eles se denominam Kill Club, e alguns associados até fazem cosplay dos assassinos e vítimas.
Uma das críticas a esse assunto está muito bem escondida logo no epígrafe do livro: é uma cantiga de roda fictícia na qual as pessoas cantariam sobre o massacre dos Day como se fosse uma lenda folclórica e não uma verdade. “Os Day eram um clã que poderia viver à beça/Mas Ben Day perdeu a cabeça/O poder de Satanás o garoto queria/E matou a família em meio a uma gritaria./Da pequena Michelle torceu o pescocinho/Depois de Debby fez picadinho/A mãe, Patty, guardou para o final/E, sem piedade, em sua cabeça deu um tiro fatal./A bebê Libby conseguiu viva permanecer/Mas passar por aquilo de modo algum é viver.”
Nos Estados Unidos já existem algumas canções assim, como é o caso de “Lizzie Borden took an axe”, uma cântico tradicional que banalizou uma assassina que foi injustamente inocentada porque a mídia retratou que “uma jovem cristã de aparência dócil não seria capaz de cometer um crime tão horrendo”. Os jornais da realidade inocentaram Lizzie, e a televisão do universo ficcional de Flynn sentenciou Ben à prisão perpétua.
No ano de 2015, foi feita uma adaptação cinematográfica da obra estrelada por Charlize Theron no papel de Libby, e também contava com nomes como Christina Hendricks, Nicholas Hoult e Chloë Grace Moretz. Apesar do elenco bastante reconhecido e da história envolvente, isso não foi o suficiente para cativar a audiência; talvez seja o pouco envolvimento de Flynn no filme, causando uma pobreza na transferência das plataformas, mas o fato é que o filme de Lugares Escuros, dirigido por Giles Paquet-Brenner, não chega nem próximo do aprofundamento das temáticas apresentadas, deixando apenas um indício do que a narrativa realmente é.
Em 2012, foi publicado o terceiro romance de Flynn, tornando-se um grande sucesso com a crítica e com o público, e é considerado seu Magnum Opus. Garota Exemplar (Gone Girl) possui como plano de fundo o casal Amy e Nick Dunne, que moram às margens do Rio Mississipi, em North Carthage. No dia do aniversário de cinco anos do casamento, ao invés de Nick ser recebido em casa pela esposa, ele encontra uma cena terrível: porta escancarada, móveis virados, indícios de uma briga e nenhum sinal de Amy. Com a consequente ação da polícia, ele acaba se tornando o principal suspeito do crime, e seus comportamentos e falas singulares acabam o desfavorecendo mais ainda.
Mas será que Nick cometeria um assassinato? Tanto ele quanto a esposa escondem segredos, e isso é um fato incontestável; mas ao salientar o lado primoroso de Amy, e expor a postura de Nick de sempre esconder seus sentimentos negativos para agradar a todos, é difícil não escolher um lado, e o diário de Amy, com todas as suas anotações sobre o relacionamento, parecem justificar perfeitamente a preferência.
A investigação para encontrar Amy começa, e a comoção do público por ela é multiplicada pela sua fama: ela é a inspiração para a série de livros Amy Exemplar, escrita por seus pais para ajudar uma nação de progenitores desesperados em saber como educar seus filhos da melhor maneira possível. De maneira muito similar a Lugares Escuros, a infância é um ponto crucial da história; tanto Libby quanto Amy foram condicionadas a viver de certa maneira enquanto eram crianças, e usam essas circunstâncias para justificar seu comportamento quando mais velhas.
Contudo, elas divergem em como lidar com a pressão. Enquanto Libby foi profundamente marcada por seus traumas e roubada de uma experiência de vida normal, Amy nunca teve motivações para o descontrole: uma garota linda, rica, inteligente e fácil de se relacionar, possuindo admiradores e simpatizantes por todo lugar que passava. Ela é, inclusive, a mais diversa dentre as protagonistas de Gillian Flynn, pois é a única que apresenta uma história dentro de um relacionamento, em oposição às outras, que tinham problemas de conexão física e emocional.
Mas isso não torna o casamento algo fácil. Apesar dos eventuais altos e baixos da relação, as adversidades encontradas por Nick e Amy são inimagináveis, e o desfecho dessa catástrofe é ainda mais inesperado. A disposição dos acontecimentos é gradual, possibilitando o desenvolvimento de emoções nos leitores, que têm a sensação de estarem descobrindo o enredo junto das personagens, como se fossem, eles mesmos, detetives solucionando o caso. Desse modo, criam-se também diversos plot twists ao longo da história, causando inconformidade e interesse no público.
Além do sucesso literário, em 2014 David Fincher e Gillian Flynn trabalharam juntos no longa-metragem, que levou a história de Garota Exemplar ao máximo. Nele, Rosamund Pike e Ben Affleck interpretam o casal Dunne com tanta propriedade que é fácil acreditar que aquilo não passa de uma documentação do sumiço da bela Amy, enquanto o pobre Nick não sabe como agir diante da notoriedade do caso. O ajuste no roteiro do filme foi genial, já que Flynn mantém a narrativa cativante do original em um noir moderno premiado, garantindo uma indicação na categoria de Melhor Atriz ao Oscar.
O mais recente trabalho literário de Flynn é o conto O Adulto (The Grownup), lançado em 2014 na antologia Rogue, de George R. R. Martin, e publicado independentemente no ano seguinte. Flynn utiliza os gêneros de terror psicológico e thriller, regulares em seus outros livros, juntamente com um nunca explorado por ela antes: histórias de fantasma. A narrativa acompanha uma jovem que utiliza a mentira para ganhar a vida, trabalhando como vidente e oferecendo serviços de leitura de aura para as suas clientes, geralmente compostas por donas de casa ricas e frustradas com suas vidas monótonas.
Uma delas é Susan Burke, uma mulher recém-chegada na cidade que relata problemas em sua casa principalmente com seu enteado adolescente. A protagonista rapidamente identifica uma chance de aproveitar-se da ingenuidade de Susan, porém ela não esperava que ao visitar a mansão da família Burke, encontraria cenas bizarras e acontecimentos misteriosos, típicos das histórias de que tanto gosta. Ela, então, se sente compelida a entender e desvendar os segredos que envolvem o local e a família, sem imaginar o que pode estar por trás de tantos eventos sinistros.
Sendo uma obra de leitura rápida, Flynn deixou muitos fãs órfãos e com saudade de sua escrita. Mas isso não significa um desapontamento, até porque esta mulher é fisicamente e mentalmente incapaz de escrever algo mediano. Em menos de 100 páginas, a imersão causada pela história chega a tornar cada momento tenso palpável, a ponto de fazer o leitor questionar a lógica e as temáticas já utilizadas pela autora, que nunca havia trabalhado com o sobrenatural antes em seus escritos.
Vencedor de um Edgar Award, o conto é a única obra não adaptada da autora, mas possui os direitos comprados pela Universal. Aí entra a ambiguidade: querer muito ver essa história nas telas por sermos grandes fãs, ou manter a qualidade da história curta, que seria complicada de ser transformada em um filme. Mas desde que Gillian Flynn esteja envolvida, tudo o que ela faz será considerado uma obra-prima.
Faz quase sete anos que um novo livro não é lançado, e isso considerando a publicação de meras 65 páginas de O Adulto. Mas as boas novas estão chegando, e de acordo com Gillian, seu novo romance chegará ainda em 2021, tratando-se de uma reescritura do clássico de Shakespeare, Hamlet. O contrato do projeto foi assinado em 2014, e no ano passado ela resolveu nos dar algumas migalhas, dizendo que Brett, seu marido, leu a primeira página, e “é uma primeira página espetacular. Provavelmente a melhor que já escrevi”.
Enquanto o Hamlet de Flynn não chega a nós, temos de nos contentar com suas quatro obras publicadas e os roteiros de séries e filmes. Mas isso não é de todo ruim, pois com um material de tanta qualidade e com temáticas tão inquietantes, a última coisa que você pode sentir com Gillian Flynn é tédio. Nesse caso, deixamos a nossa admiração para a aniversariante que conquistou um espaço no meio literário para que sua voz, e a de muitas outras mulheres que não foram meninas boazinhas, fossem ouvidas. Parabéns, Flynn, pela trajetória inspiradora e por revolucionar os discursos literários. Esperamos que os próximos cinquenta anos tragam ainda mais narrativas perturbadoras. E pare de jogar Ms. Pac-Man no porão.