Mauê Salina Duarte
Perambulando pelo mundo publicitário em mais um clichê americano, Emily em Paris chegou causando à Netflix. Em poucos dias, a série de comédia romântica já estava entre as mais assistidas da plataforma, despertando a atenção até mesmo da crítica francesa, que, por sinal, não curtiu muito os estereótipos parisienses dos personagens. A trama é uma fuga de tudo que envolve a pandemia atual, ou seja, é exatamente o que estávamos precisando. Para completar, é dirigida por Darren Star, conhecido por Sex and the City.
Emily em Paris foi coproduzida pela Jax Media e MTV Studios, e desenvolvida originalmente para a Paramount Network, encomendada dois anos atrás. Entretanto, em 2020, a produção passou para a Netflix. Interpretada por Lily Collins, a protagonista Emily é uma jovem executiva de marketing que deixa os Estados Unidos para trabalhar em uma empresa na França, passando por um choque cultural. Acontece que a moça mal sabe falar francês, e ainda encara outras barras, como a não aprovação de sua nova equipe e o término de um namoro. Com o intuito de mostrar seu dia a dia na nova cidade, a estadunidense ataca como blogueira e cria um perfil no Instagram.
Emily chega sacudindo o mais novo job com sua criatividade, despertando a ira de alguns e a simpatia de outros no escritório, lindíssimo por sinal, da empresa Savoir. Enquanto a arquitetura é clássica, a mobília atrela o moderno ao glamuroso, ficando um charme. Sylvie, interpretada pela francesa Philippine Leroy-Beaulieu, é a mais nova chefe da blogueira, autoritária e inflexível. No escritório, também trabalham Luc (Bruno Gouery) e Julien (Samuel Arnold), colegas irreverentes de Emily.
Fora do ambiente de trabalho, a norte-americana logo faz amizades. Entre elas, Mindy, uma jovem de origem chinesa que trabalha como babá na cidade luz, dona de uma voz lindíssima, e que ainda guarda um segredinho. Ela é aquela personagem vibrante e divertida que dá até vontade de ter como amiga. A sintonia entre Mindy e Emily mostra que nem sempre a amizade precisa ser antiga para ser leal, além de ser uma delícia acompanhar os papos e as aventuras delas. A estadunidense também cria afinidade com Gabriel (Lucas Bravo), seu atraente vizinho de apartamento, que é chefe de cozinha. Logo, Emily se interessa amorosamente por ele. Porém, alguns minutos depois de beijá-lo pela primeira vez, ela descobre que está em um triângulo amoroso, quebrando suas expectativas e a do próprio público.
Patricia Field é a figurinista da produção. Ela carrega na bagagem o filme O Diabo Veste Prada e o vestuário da Carrie Bradshaw de Sex and The City. Não à toa, os looks da protagonista deram o que falar, com descontração e originalidade, o guarda-roupa da estadunidense chamou a atenção do público. Seu estilo é basicamente uma mistura caricata e exagerada de Serena Van Der Woodsen e Blair Waldorf de Gossip Girl, com toques mais atuais. Provavelmente imaginando a comparação, Darren Star, diretor da trama, agregou à produção referências ao Upper East Side, com direito até a um “spoiler” do final de GG em uma das cenas.
A trama é praticamente toda ambientada na França, principalmente na cidade de Paris e seus subúrbios. Algo interessante da série é que maioria dos atores e atrizes são realmente franceses, ainda sim, seus personagens são muito estereotipados, sendo taxados como antipáticos e sexistas na maior parte do tempo. Se a atuação fosse apenas de norte-americanos poderíamos entender o porquê disso ocorrer.
A própria situação ‘peixinho fora d’água’ já não é nada inédita e, ainda mostrando os supérfluos white people problems, Emily em Paris é superficial. Apesar dos percalços, a vida de Emily não é das mais difíceis. Emprego novo e romances fazem parte da história da maioria das tramas de séries e filmes, é só lembrar do próprio O Diabo Veste Prada ou de Como Eu Era Antes de Você. No entanto, todos querem uma fuga de seus problemas. Acompanhar produções que não abalam ainda mais o psicológico, como esta, é sempre um boa pedida.
A série é leve e até boba pois não aborda temas tão pesados e é fácil de assistir, perfeita para quem quer dar um tempo da vida fora da tela. Os 10 episódios de Emily em Paris demonstram que a comédia é aquela futilidade necessária. Notando isso, a Netflix já confirmou a renovação das histórias de Emily e companhia. “Dois é melhor que um”, diz o anúncio. Pelo jeito, o coração da norte-americana vai continuar dividido. Darren Star já comentou sobre a ideia da moça viajar pela Europa no segundo ano da trama, será que vai rolar?