Giovanne Ramos
O oitavo álbum de Rihanna, ANTI, completa seu quinto aniversário neste dia 28 de janeiro. Sob o selo da sua própria gravadora, Westbury Road Entertainment, o CD se tornou em pouco tempo um ícone musical, o que já é esperado da barbadiana que faz sucesso com tudo o que lança, desde a sua estreia no cenário. Marcado pela sua mistura de R&B contemporâneo com pop – e algumas outras influências -, o trabalho apresenta uma Rihanna madura, confiante e com mais controles de sua própria carreira.
Desde Music Of The Sun (2005), disco responsável pelo seu surgimento na indústria musical e pelos seus primeiros hits, Rihanna se mostrou uma cantora incansável, lançando praticamente um álbum por ano. De 2005 a 2012 foram um total de 7, mas isso nunca afetou seu desempenho nas paradas musicais, pelo contrário, fez com que o seu nome se mantivesse em alta constantemente com hits variados. No entanto, ao encerrar a era Unapologetic (2012) com a música de trabalho What Now, os fãs e admiradores experimentaram o sabor amargo de encarar pela primeira vez um intervalo de anos até um material inédito da cantora.
O período de espera durou quase 4 anos, e nesse tempo aconteceu de tudo! Começando pelo título provisório #R8, sendo o R de Rihanna e 8 do oitavo álbum, que marcou o trabalho misterioso durante o período em que ainda hão havia um nome confirmado. Em entrevista no tapete vermelho do Grammy em 2015, Kanye West revelou estar trabalhando como produtor executivo do tão aguardado álbum. Na época, o rapper também chegou a se apresentar com Rihanna e Paul McCartney com a parceria entre os três, FourFiveSeconds, e se cogitou na época que fosse uma das músicas presentes no álbum.
Em março do mesmo ano, Rihanna lançou Bitch Better Have My Money, que caiu no gosto popular pelo clipe polêmico e pela sua letra cativante, aumentando as expectativas do público para o futuro disco. Em março, foi a vez do single promocional American Oxygen, que assim como FourFiveSeconds, destoava dos lançamentos eletrônicos da cantora, dando assim os primeiros indícios do rumo que tomaria com o ANTI. O single ganhou um clipe com cenas de documentários que simbolizam a crítica ao ‘sonho americano’ contida nas letras da música.
Com o desempenho morno nas paradas musicais, em outubro do mesmo ano, durante uma festa no museu Mama em Los Angeles, foi revelada a capa e o título ANTI. Apesar dos detalhes, a data de lançamento não foi informada. Em novembro de 2015, a artista pegou os fãs de surpresa ao anunciar, em parceria com a Samsung, o ANTIdiary. A estratégia de marketing financiada pelo conglomerado sul-coreano consistiu em uma série de vídeos curtos revelando detalhes do álbum, e deixando subentendido que a tão aguardada espera poderia ter seu fim em meados do final de novembro e início de dezembro, com o álbum sendo disponibilizado direto no serviço de streaming do rapper Jay-Z, TIDAL.
Começando 2016 sem sinais do que já era considerado uma lenda, um novo contratempo: boatos surgiram de que Kanye West havia abandonado o seu até então envolvimento como produtor-executivo do disco. Rumores diziam que a cantora havia descartado um projeto que provavelmente já estaria pronto e teria começado uma nova produção do zero. Não se sabe se isso foi real, mas uma coisa é certa: os três lançamentos anteriores de 2015 não deram as caras no corte final do emblemático projeto.
Sem ninguém entender mais nada e quase crentes de que o ANTI nunca veria a luz do sol, no dia 27 de janeiro o hit Work foi inesperadamente disponibilizado nas plataformas de streaming e o assunto não foi outro: a era estava começando! Em parceria com Drake – com quem já havia trabalhado nas músicas What’s My Name e Take Care, por exemplo – o dancehall envolvente teve uma recepção melhor que os lançamentos anteriores e despontou como um grande sucesso comercial, atingindo o topo da Billboard Hot 100 e mantendo sua estadia por 9 semanas consecutivas.
O que ninguém contava é que no dia seguinte do lançamento do instigante single, o ANTI também seria oficialmente lançado no site do TIDAL e posteriormente em todas as outras plataformas. A primeira surpresa sem dúvidas foi a ausência das já conhecidas FourFiveSeconds, Bitch Better Have My Money e American Oxygen. Em seus lugares, 13 faixas inéditas – 3 adicionais na versão deluxe -, sendo uma delas uma colaboração com a cantora e compositora estadunidense SZA e uma regravação de New Person, Same Old Mistakes, da banda alternativa Tame Impala, que ficou contente com a versão pop.
A espera definitivamente valeu a pena. Deixando para trás o EDM (Electronic Dance Music) característico dos álbuns Unapologetic (2012), Talk That Talk (2011) e Loud (2010), a cantora escolheu o R&B contemporâneo e influências do hip-hop para construir a narrativa sonora do novo material sem deixar suas raízes pop de lado. O resultado não poderia ser mais do que satisfatório: além da boa aceitação pública, o disco não passou vergonha nas avaliações críticas, sendo destacado como um “trabalho intrigante”, “convincente”, “fascinante” e uma “curva artística” em sua carreira. É evidente como o novo som marca um amadurecimento da cantora como artista e como ela estava levando sua obra a sério.
Com dedo em praticamente todas as composições, o álbum é uma preciosidade de letras incisivas, que encarnam o seu lado ‘rapstar’ – como Consideration, Needed Me e Desperado – e que abraçam sua persona polêmica em 420 e sensual como a curta James Joint, Woo, Pose e Sex With Me. Por fim, ANTI traz também as baladas românticas que destacam a sua voz única: Love On The Brain, Higher e Close To You. Todo esse conjunto mostra uma faceta ainda não vista de Rihanna, mas que talvez já esperássemos dela. Assim como Beyoncé fez com Lemonade no mesmo ano e com o Self-Titled anteriormente, a cantora natural de Barbados estava ousando e se aprofundando musicalmente numa sonoridade mais densa e longe do dance pop.
No entanto, a divulgação foi bem curta, tendo oficialmente quatro singles: Work, Needed Me, Kiss It Better e Love On The Brain, sendo que a última não ganhou um videoclipe. Apesar de na época estar subindo por si só nas paradas, sem divulgações e sem um vídeo musical, Fenty decidiu parar a era ali sem nenhuma explicação. Mas isso não impediu dos fãs produzirem uma própria versão audiovisual da música que se tornou queridinha, aliás, quem não ama uma música sobre sofrer por amor?
Em questão de performances, a escolha foi a dedo. Se apresentou ao vivo em premiações pontuais, sendo a mais marcante de todas no VMA de 2016, onde fez um medley de alguns de seus diversos sucessos no palco e recebeu o prêmio histórico Michael Jackson Vanguard Awards, honraria destinada a artistas que contribuíram com a indústria musical. Ainda compareceu ao BRIT Awards em 2016 com SZA para promover Consideration e com Drake para cantarem juntos o sucesso Work.
Pelo visto, o foco da barbadiana foi a sua turnê mundial Anti World Tour, na qual passou por diversos países entre março e novembro de 2016. Infelizmente, não foi marcada uma data em solos brasileiros, então seus fãs tiveram de se contentar com o que era disponibilizado da turnê financiada em parte pela Samsung. O que marcou o final da era foi definitivamente o seu aparecimento na premiação do Grammy 2017, onde foi indicada à 7 categorias e saiu de mãos vazias. Apesar da decepção pela falta de gramofones, a estrela deu um show de carisma e arrancou memes e momentos icônicos entre umas bebidas e fofoca com a sua amiga que a acompanhou.
A era ANTI também ficou marcada pelas participações paralelas da cantora em músicas de outros artistas. Entre os destaques, a eletrônica This Is What You Came For, do DJ Calvin Harris, matando a saudade de quem sentia falta da voz de Rihanna num som feito para as pistas de dança. A polêmica Famous de Kanye West que repercutiu pela sua rivalidade com Taylor Swift, a viciante Wild Thoughts de DJ Khaled, Loyalty com o renomado rapper Kendrick Lamar, entre outros lançamentos, todas foram parcerias de sucesso em que a cantora pode mostrar a sua versatilidade pelos gêneros musicais além do seu próprio. O intervalo enorme de espera para a era valeu a pena porque os anos de 2016 e 2017 foram todos da musa de Barbados, e não havia como escapar de sua voz nas rádios, nas baladas e em qualquer outro lugar.
Apesar do excelente material e da dedicação de Fenty, nem tudo foi mil e uma maravilhas durante a trajetória de ANTI. A demora de seu lançamento, o cancelamento da performance no Grammy 2016 por conta de sua bronquite e a recusa em performar no intervalo do Super Bowl do mesmo ano em apoio ao protesto do atleta Colin Kaepernick, foram alguns dos obstáculos da cantora. Mas ainda assim, Rihanna entregou mais uma jornada icônica e nos deixou aqui, no replay eterno de 5 anos do álbum sem sabermos quando a agora empresária e dona de um império poderoso de cosméticos e vestimentas nos dará o gostinho de ouvir novos lançamentos. É como se estivéssemos em 2015 novamente. Rihanna, volte!
“Eu às vezes temo ser incompreendida.
É simplesmente porque o que eu quero dizer,
o que eu preciso dizer, não será ouvido.
Ouvido da maneira que eu mereço.”
– Trecho de “If They Let Us”, poema de Chloe Mitchell que compõe a capa do álbum