A liberdade criativa de Carly Rae Jepsen em The Loveliest Time

Carly Rae Jepsen, mulher branca e loira de cabelos longos, usando um top e saia cinza brilhantes de costas para um balcão, onde apoia os cotovelos e a cabeça inclinada para trás, olhando para cima, em um fundo amarelo sóbrio com sombras.
The Loveliest Time chega para provar que o Lado B de um álbum pode ser melhor que seu Lado A (Foto: Interscope Records)

Arthur Caires

Quando se trata de Carly Rae Jepsen, é de se esperar música pop de alta qualidade. A artista inicialmente se destacou com o sucesso Call Me Maybe, mas ao longo de sua carreira, demonstrou ser muito mais do que o fenômeno de um único hit. Em seu álbum de 2015, Emotion, conquistou uma base sólida de fãs e se consolidou como uma das principais figuras do gênero. Em seguida, com Dedicated em 2019, Jepsen reforçou sua posição como ‘princesa do pop’. Agora, em 2023, temos o resultado de um experimento que deu errado no início – The Loneliest Time – mas que gerou um resultado final surpreendente: seu sétimo álbum de estúdio, The Loveliest Time.

A artista canadense vem de uma tradição de disponibilizar para seus fãs as B-Sides de seus trabalhos, que são músicas compostas no meio do processo criativo, mas que não entraram no projeto final. Dessa vez, não foi diferente. Nove meses após o lançamento de The Loneliest Time (2022), Jepsen retorna com The Loveliest Time, companheiro do primeiro, que se completam em um projeto único, segundo a própria cantora para a revista Rolling Stone. Para a intérprete, a primeira versão é algo mais conciso, que foca em seguir algumas regras, enquanto a seguinte é seu ‘parque de diversões’, no qual gosta de experimentar coisas diferentes.

Trata-se de um movimento cada vez mais utilizado na indústria da Música. Com a ascensão do TikTok e do consumo de mídia acelerado, os artistas se veem na necessidade de constantemente entregarem novos trabalhos. Embora possa ser sufocante, é uma oportunidade de experimentar e ter menos compromisso com velhas regras de lançamentos: três singles, hit para rádio, videoclipe e assim vai. Versões deluxe e álbuns de remix deixam de ser uma estratégia comercial e se tornam uma forma de liberdade artística.

Carly Rae Jepsen, mulher branca, de olhos azuis e loira com cabelos longos e franja, usando uma calça jeans rasgada sentada apoiada na parede e com os joelhos levantados olhando para a câmera.
Por não possuir tanto alcance, Carly Rae Jepsen tem menos pressões com seus lançamentos (Foto: Meredith Jenks/Rolling Stone)

Introduzido pelo single Shy Boy, uma faixa deliciosa e cheia de atitude, The Loveliest Time, ao contrário de seu irmão, é sobre finalmente sair de um período conturbado e se sentir vivo para descobrir novos horizontes. Embora ainda possua faixas reflexivas, como a fusão de Kali Uchis e Men I Trust em Kollage, trata-se de uma autorreflexão originada dessas novas experiências, e não de agentes externos e fora do nosso controle como uma pandemia, assunto recorrente no álbum anterior. 

Entre os destaques do disco temos Psychedelic Switch, uma rendição dançante à experiência sensorial e aos sintetizadores dos anos 1980, marca registrada de Jepsen. Além dela, Kamikaze e Come Over representam muito bem o sentimento de euforia no começo de uma relação, com melodias e letras divertidas que fazem do replay irrecusável. No meio desses altos, faixas esquecíveis como Aeroplanes e Put It To Rest baixam a energia do álbum, mas não chegam a prejudicar a experiência.

Carly Rae Jepsen, mulher branca, de olhos azuis e loira com cabelos longos e franja olhando pelo ombro para a câmera, com um dos braços apoiado em uma mesa com pêras, folhas e flores em cima
Apesar de não ter sido a melhor experiência, The Loneliest Time tem seu propósito (Foto: Interscope Records)

A principal característica que difere The Loveliest Time de The Loneliest Time é a sua coesão. A versão mais solitária conta com uma extensa lista de produtores, resultando em faixas que não conversam entre si, principalmente em sua produção. Apesar de possuir alguns acertos, como a inteligente e engraçada Beach House e a inspirada no retorno aos anos 1980, Talking To Yourself, seu maior feito foi ter viralizado 15 segundos de áudio de sua – nem tão boa assim – faixa-título no TikTok.

Diante desse contraste, ouvir a versão mais amorosa se torna ainda mais prazeroso. Precisamos da chuva para ter o arco-íris, saber o que é a escuridão para apreciar a luz. O disco representa o primeiro passo que demos para fora de casa sem uma máscara, ainda apreensivos, mas com uma ânsia de viver de novo. A progressão do álbum também representa isso: no Lado A, somos a Rapunzel de Enrolados pisando na grama com cautela e no Lado B, nos entregamos à euforia de corrermos livres pelo mundo.

Com o sucesso crítico e a aprovação dos fãs, Carly Rae Jepsen se joga em um vasto horizonte musical de possibilidades com The Loveliest Time. Após explorar novas dimensões de sua sonoridade, a artista agora desfruta de uma liberdade para seguir qualquer direção que sua criatividade a conduza, podendo deixar para trás o pop chiclete que marcou a década de 2010. O que continua a enriquecer suas músicas são as melodias cativantes e a diversão de suas composições, não apenas os sintetizadores de décadas passadas.

 

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