Nós não nos falamos mais: 5 anos de Nine Track Mind e a premissa de Charlie Puth

Capa do álbum Nine Track Mind. Fotografia retangular com fundo amarelo. Charlie Puth, homem branco de cabelos castanhos escuros, está de perfil voltado para a direita e encontra-se no centro. Ele possui uma cicatriz na sobrancelha direita. Ele veste uma camisa verde musgo. Na parte inferior, pode ser ler “Charlie Puth” em preto seguido de “Nine Track Mind” em branco.
“Eu pensei que o dinheiro era suficiente/É apenas uma corrida temporária/Vou tentar ir encontrar alguma outra diversão” (Foto: Reprodução)

Júlia Paes de Arruda

Quem vê Charlie Puth agora, dono de hits como Attention e Girlfriend, mal sabe que o álbum Nine Track Mind, lançado em 2016, é um produto de sua autoria. Ele mesmo afirmou que esse disco era sua tentativa de se encontrar e se descobrir como artista. Porém, isso não significa que não possamos apreciar sua genialidade e seu imensurável talento na música. A verdade é que, 5 anos depois, o álbum só reafirma a preciosidade de cantor, compositor e produtor que Puth é. 

A viagem de autodescoberta de Charlie acaba virando a do público também. O mergulho em ritmos, notas e instrumentos conduz uma narrativa nem um pouco linear, isto é, você pode apreciar personalidades diferentes de uma pessoa que tenta se estabilizar na montanha-russa que é a carreira musical. O resultado é um compilado de diversas musicalidades, uma experiência sensorial realmente emocionante e intimista.

Mesmo tendo o pop como seu gênero predominante, Charlie nunca deixa sua formação em jazz e música erudita passar despercebida. Sons de teclado e piano são as bases para a grande maioria de suas produções, em exemplo das duas primeiras faixas, One Call Away e Dangerously. Na segunda, mais especificamente, as notas clássicas evocam a percussão e o timbre mais alto, tornando-a mais rítmica, similar a Grenade de Bruno Mars. Essa sofisticação instrumental enriquece o trabalho do artista, ainda mais se tratando de Puth, que a cada dia surpreende seus fãs com novas composições de home-office.  

Fotografia retangular do cantor Charlie Puth com fundo azul anil. Ele é um homem branco de cabelos castanhos escuros. Ele veste uma camisa cinza e uma jaqueta de moletom aberto azul marinho com o colarinho e as mangas em preto. Ele usa dois colares prateados, um com pingente em forma de triângulo mais curto e um com um pingente redondo mais comprido. Ele encontra-se próximo ao lado direito e olha para o lado esquerdo. Sua mão direita segura a parte direita do moletom, próxima ao peito.
Charlie teve uma pequena participação no clipe Dear Future Husband, de Meghan Trainor (Foto: Atlantic Records)

O maior sucesso de Nine Track Mind é a composição autoral que traz uma vibe mais dançante, apesar da letra melancólica. Tocada ao vivo, essa sensação de sofrimento pelo término do relacionamento é ainda mais marcante em We Don’t Talk Anymore, que conta com a participação da maravilhosa Selena Gomez. O sentimento que ambos os artistas colocam na voz é surpreendente, como se encarnassem o eu lírico da música. Isso poderia ter sido um sinal já que os dois, literal e ironicamente, não se falam mais

Pessoalmente, a obra prima do disco é Marvin Gaye, cantada juntamente com Meghan Trainor. A maleabilidade dos dedos de Charlie sob o piano, acompanhado de uma percussão mais agitada, demarca o pop que lhe é mais confortável. A sensualidade da música é mais evidente quando se apoia no clipe, porém não tira o mérito de uma harmonia envolvente e provocante. O cenário do vídeo poderia ser facilmente o Rydell High School de Grease, ainda mais pelo cabelo a lá brilhantina que Puth adota. Fora isso, é inevitável estalar os dedos e mexer o corpo de um lado para outro na parte mais calma da canção, especialmente na estrofe anterior ao refrão. 

Entretanto, a composição que lhe proporcionou mais reconhecimento é totalmente oposta à Marvin Gaye, tanto em temática quanto em melodia. Obviamente, é acompanhada de um piano, mais uma prova de que o cantor não abandona suas raízes clássicas. O sentimentalismo e a emoção são as palavras que a resumem, ainda mais por estarem associadas a uma perda irreparável. São nessas circunstâncias que See You Again, em parceria com Wiz Khalifa, mereceu seu espaço no sétimo filme da franquia Velozes e Furiosos. 

Cena do clipe Marvin Gaye. Fotografia retangular. No fundo, há pessoas dançando e fitas, respectivamente, vermelhas, brancas e amarelas cortando o teto do salão. Há uma luz forte de um holofote na parte central. O cantor Charlie Puth está sentado no canto inferior direito em frente a um piano marrom. Ele está de perfil e veste uma jaqueta verde com linhas amarelas no colarinho. No braço esquerdo da jaqueta, há um retângulo amarelo bordado. Atrás do piano, com a parte superior do corpo a vista, está a cantora Meghan Trainor, no lado esquerdo da foto. Ela possui cabelos compridos loiros e usa uma faixa preta. Ela usa um vestido preto de mangas longas e uma pulseira larga e dourada no pulso direito. Sua mão direita segura um microfone prateado. Sua mão esquerda possui os dedos apoiados em seu peito.
“Tem amor nos seus olhos/Que me puxa para mais perto” (Foto: Reprodução)

Quando se diz que Nine Track Mind é uma experimentação, não é mentira. A imersão foi tão intensa que até numa batida mais folk o cantor se arriscou. O fruto disso é My Gospel, que poderia facilmente ter saído da mente de Ed Sheeran (quem sabe uma inspiração para Nancy Mulligan, do álbum Divide?). Em contrapartida, Up All Night remete aos toques de piano mais voltados para o country de Tim McGraw, especialmente na música I Got Friends That Do. A “salada musical” que acabou se tornando não é ruim, mas quando comparado ao álbum Voicenotes (2018), dá pra perceber que Charlie estava às cegas tentando encontrar seu começo de algo novo

Mesmo que o artista de 2016 e o atual ‘não se falem mais’, Nine Track Mind ainda é o berço da sua maestria em expressar-se através de notas musicais. A partir daí, o garoto prodígio decolou e experimentou as delícias e os desprazeres da fama. Ainda sim, Charlie Puth mantém o sentimento que carrega consigo, tornando as canções quase íntimas, como se fossem relatos do seu diário pessoal. O resultado disso são trabalhos impecáveis e provas do fascinante potencial de músico que ele tem. 

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