Melhores Discos de Março/2018

Marina Diamandis, FKA twigs, Florence Welch e Lana del Rey: o squad reunido (Reprodução)

Gabriel Leite Ferreira, Leonardo Teixeira e Nilo Vieira

Março repetiu a tendência dos meses passados: o underground dominou, enquanto o mainstream marcou presenças pontuais. Do metal mais fúnebre ao r&b dor de cotovelo, enfim, tem pra todos os gostos! Confira:

Anna von Hausswolff – Dead Magic

trevosidade

Difícil classificar o som dessa pianista sueca sem cair em rótulos pretensiosos como neoclassical darkwave ou ethereal wave. Melhor, então, olhar a capa de Dead Magic, seu quarto disco de estúdio. O vermelho sangue banhando um rosto na melhor das hipóteses desfigurado é uma boa metáfora para o que reservam os 50 minutos de álbum.

Em cinco faixas, Hausswolff nos revela um mundo sombrio com nuances de terror gótico – o Drácula seria outra escolha adequada para a arte. Acompanhada de bateria, guitarras e sintetizadores, ela entoa lamentos dramáticos seja com sua voz visceral, seja com o piano ou o mellotron. Apague as luzes e dê play. (GL)

Drik Barbosa – Espelho EP

rap

“Pode me chamar de Kendricka Lamar” é um dos pontos altos do primeiro single do EP. Mas basta o mínimo de atenção na estreia da rapper para entender que Adriana Barbosa dá o nome mesmo sem a referência ao colega americano. Antenado nas tendências atuais da cultura negra, o registro cita ainda Beyoncé e o longa Corra! (2017), nomes bastante simbólicos no que diz respeito à luta contra o racismo. O trabalho de Drik no coletivo Rimas e Melodias vem para somar mais ainda ao currículo do disco.

Claramente, Espelho é fruto de seu tempo. Lançado na semana do assassinato da vereadora Marielle Franco, as cinco faixas são uma injeção de otimismo em uma realidade bastante dura. Mesmo assim, as composições seguem conscientes e com pé no chão. Os versos leves e maduros da compositora fazem valer cada um dos 16 minutos da tracklist e, longe de perder o fôlego, nos colocam no aguardo por grandes coisas na carreira de Drik. (LT)

Judas Priest – Firepower

heavy metal

O Black Sabbath pode ter sido pioneiro no som metálico, mas quem realmente consolidou a estética do gênero foi o Judas Priest. Das roupas de couro e spikes de Rob Halford (influências do artista homoerótico Tom of Finland, mais tarde utilizadas também por nomes como George Michael) aos solos faiscantes de guitarra de Glenn Tipton, passando pela imagética de máquinas mortíferas, motocicletas e batalhas violentas.

Este é seu décimo oitavo álbum, e em nada foge aos padrões estabelecidos por eles mesmos ainda na década de 70. Tem fogo, trovão, a força do mal, entidades sobrenaturais e a cartilha costumeira nas letras, cantadas com força invejável por Halford, no alto de seus 66 anos. No instrumental, os riffs ganchudos de guitarra e a cozinha pesadíssima (com Ian Hill no baixo e Scott Travis na bateria) são entregues em composições redondas e, mesmo que Firepower pudesse ter menos faixas, não soa cansativo ou pastichento. A produção precisa fornece roupagem moderna aos timbres da banda, sem apelar para a loudness war.

O Judas Priest não reinventa a roda, mas se mostra revigorado aqui – ao contrário do canto do cisne do Sabbath, por exemplo, não se ouve nenhuma semi-releitura ou referências forçadas a clássicos. Direto ao ponto e seguro de sua identidade, é o melhor trabalho da banda em décadas, na medida para os fanáticos do estilo. (NV)

Mount Eerie – Now Only

música triste, folk

Após lançar um dos melhores discos de 2017, Phil Elverum acaba de colocar novo trabalho na praça. Não seria surpresa – ele já acumulava 5 álbuns nesta década -, não fosse o tremendo peso de A Crow Looked At Me: o luto pela perda de sua esposa, Geneviéve, foi traduzido de forma tão visceral que chega a ser chocante que Elverum já tenha tido força para novas composições.

Em Now Only, a melancolia permanece, mas o olhar agora é no futuro. Phil reconhece que a mãe de sua única filha será insubstituível, ao mesmo tempo em que começa a aceitar que a morte foi apenas parte de um ciclo. O fluxo de pensamento é novamente peça central nas composições (presentes em menor número, mas com maior duração), e o instrumental é mais variado em relação ao antecessor. Além dos dedilhados ao violão, guitarras distorcidas e percussão marcam presença aqui. Novamente, não se trata de um disco de absorção imediata ou para todas as horas. O que de modo algum tira o mérito do Mount Eerie, que acaba de emplacar um álbum entre os destaques anuais em sequência. (NV)

Mournful Congregation – The Incubus of Karma

funeral doom metal

A banda australiana é uma boa porta de entrada para os leigos no funeral doom. Embora tenha discos e canções (obviamente) longos, a abordagem melódica e bem produzida das composições (relativamente distantes das gravações secas tradicionais ao gênero) cativa o ouvinte rapidamente, sem abrir mão da atmosfera densa exigida no estilo. O trabalho de guitarras é o destaque, quase um amálgama entre os vibratos sombrios de Tony Iommi (Black Sabbath) e os solos limpos de David Gilmour (Pink Floyd).

O quinto álbum do grupo não arrisca novas direções sonoras, mas é extremamente competente no que propõe. São oitenta minutos distribuídos em apenas seis canções, que passam num piscar de olhos. Com a chegada do outono, eis aqui uma boa pedida para momentos cinzentos. (NV)

Preoccupations – New Material

pós-punk

O terceiro álbum do quarteto canadense se inicia onde o autointitulado de 2016 terminou. As guitarras, antes na linha de frente do pós-punk desolado, curvam-se diante da parafernália tecnológica de vez. O resultado é um disco menos dançante e mais contemplativo, sem prejudicar a acessibilidade.

As letras de Matt Flegel (vocal e baixo) seguem didáticas e a produção encharcada de reverb cansa em alguns momentos. A vibe é notavelmente retrô; afinal, estamos falando de pós-punk em 2018. Mas o Preoccupations é sábio o bastante para, com o perdão do trocadilho, não se preocupar demais em reinventar a roda. Isso basta. (GL) 

The Weeknd – My Dear Melancholy, EP

r&b

Em 2011, Abel Tesfaye fez nome na cena com sua estética hedonista e som sujo. Foi com uma versão mais leve de si mesmo, no entanto, que The Weeknd ganhou fama e espaço nos tabloides. Lançado mais ou menos de surpresa, seu mais novo EP é a volta do canadense às origens, ainda que dessa vez a confusão interna venha acompanhada de uma gravíssima dor de cotovelo, sem precedentes na discografia do cantor.

São apenas 6 faixas, que enviam o recado claro: The Weeknd está na pior. Constantemente olhando para o passado, a tracklist parece narrar os primeiros momentos pós-término – período do qual a cultura pop sempre se serviu muito bem. A inaugural “Call Out My Name” é arrependimento puro, floreado pela influência clara de Michael Jackson (que nunca esteve tão presente na arte de Abel).

Consciente do burburinho recorrente com separações entre celebridades, Abel endereça sua carreira para o lugar mais coeso desde sua primeira mixtape. Agora, mais maduro e mais pop, The Weeknd deve agradar aos fãs nostálgicos e, ainda, recrutar novos ouvintes. (LT)

Young Fathers – Cocoa Sugar

r&b, hip hop

É bastante difícil definir o som do Young Fathers. A diversidade étnica — descendências britânicas, nigerianas e libianas fazem parte da identidade dos músicos — parece contribuir na massaroca de referências, mas parte dessa complexidade vem da confusão intencional que os trabalhos da trupe causam no ouvinte. Cocoa Sugar é a overdose dessa psicodelia, ao mesmo tempo em que lapida o modus operandido trio escocês, tornando-o mais acessível ao grande público.

Destaque para “In My View” e “Lord”, exemplos claros do maior atributo do novo disco: conciliar sua explosão lírica e sonora com uma produção pra lá de intimista. (LT)

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