Sem pudor, DEMIDEVIL transmite uma mensagem de empoderamento feminino e contra o machismo

 Capa do CD Demidevil. Arte gráfica com o fundo de nuvens cor de rosa. Na parte central está a personagem Ashnikko. Uma mulher branca, de longos cabelos azuis. Ela veste um maiô branco e rasgado com acessórios em preto e está calçando grandes botas na cor azul. Na sua mão direita está segurando uma bazuca rosa que está disparando um raio laser azul claro. Ela está montada em uma dragão verde que tem o rosto da personagem. Na parte superior pode-se ler “Demidevil” em um estilo gótico na cor prata.
A rapper em ascensão Ashnikko conta, em meio a um visual influenciado pelos animes, a luta de uma anti-heroína no combate ao machismo, enquanto ainda precisa lidar com suas desilusões amorosas (Foto: Reprodução)

Gabriel Brito de Souza

Para aqueles que ainda não conhecem a voz por trás de DEMIDEVIL, aqui vai uma breve introdução: Ashton Nicole Casey nasceu em uma pacata cidade no interior da Carolina do Norte, EUA, e foi ainda na adolescência que escutou, pela primeira vez, as músicas da rapper britânica M.I.A, e, a partir de então, apaixonou-se pelo rap. Porém, aos seus 13 anos, mudou-se com a família para a Estônia e, posteriormente, para a Letônia, onde sua dificuldade com a língua e o conservadorismo do país para com suas composições fez com que viajasse para Londres, aproximando-se cada vez mais da música.

Aos 18 anos, Ashton mudou-se definitivamente sozinha para a capital britânica. E foi então que, apresentando-se à noite em bares de microfone aberto, encontrou sua identidade e desenvolveu a Ashnikko que conhecemos hoje. Tendo como referência os gêneros musicais rap, pop e heavy metal, além das influências dos animes e estilo punk no seu visual, construiu uma persona de figura feminina e poderosa, a qual sua marca registrada são seus longos cabelos azuis e letras que exaltam a sensualidade e o feminismo.

Sua carreira ascendeu mundialmente quando seu single Stupid, parceria com Yung Baby Tate, viralizou no TikTok em 2019, mesmo ano em que lançou seu terceiro EP Hi, It’s me, atraindo fãs e ganhando espaço no cenário pop. Em 2020, a cantora emplacou novamente na rede social com a música Daisy, que gerou o desafio #beatsdaisychallage. Ashnikko segue crescendo nas plataformas de stream e, agora, em 15 de janeiro de 2021, lançou seu primeiro mixtape: DEMIDEVIL, tendo como parcerias Grimes, Princess Nokia e Kelis, além de uma releitura de Sk8er Boi, da cantora Avril Lavigne.

Fotografia da cantora Ashnikko. No centro da imagem, vemos o perfil da cantora, uma mulher branca de longos cabelos azuis usando maquiagem rosa na região dos olhos. Vestindo uma blusa decotada de látex com as cores azul, rosa, vermelho, preto e branco distribuídas pelo traje. Ela está sentada em um balanço com flores de cerejeira cor de rosa ao fundo.
Os figurinos chamativos, preferencialmente em látex, demonstram ainda mais força e poder à persona de Ashnikko (Foto: Reprodução)

Em DEMIDEVIL, Ashnikko mantém presente sua dualidade emocional entre bravura e vulnerabilidade, enquanto nos entretém com seu jeito brincalhão de fazer piadas amargas. A primeira das 10 faixas do álbum, Daisy, acompanha uma anti-heroína na luta contra o patriarcado, em um hino de empoderamento feminino ao toque de um hip-hop com um refrão bem afiado. Em Toxic, as batidas do rap trazem intensidade na hora de mandar o recado para aquelas pessoas invejosas e que só querem tirar proveito às custas do seu sucesso.

O último single a ser lançado para o álbum, Deal With It, conta com uma vibe electro pop e com uma amostra da música Caught Out Here, da cantora Kelis, como participação. Sendo uma das três faixas a ganhar um videoclipe, sua estética inspirada em piratas e criaturas marinhas torna ainda mais icônica a sua letra, que reforça a independência das mulheres diante dos relacionamentos. Já em sua ousada parceria com Princess Nokia, Slumber Party, Ashnikko não hesitou na hora de exaltar a feminilidade e explorar sua sexualidade, com direito a citação à Britney Spears.

Enquanto Drunk With My Friends é um quebra-gelo contando sobre loucuras com os amigos na juventude, a cantora se prepara para dar um soco no estômago do machismo e ego inflado de muitos homens em Little Boy. Seguindo para a sétima faixa, Cry, parceira com Grimes, percebemos, ao som raivoso de uma mistura de rap com heavy metal, que mesmo Ashnikko considerando-se uma vadia durona, ela ainda é sensível e não deve-se brincar com seus sentimentos.

Com a presença de referências pop do ano 2000, em L8r Boi temos uma reformulação do hit Sk8r Boi, da cantora canadense Avril Lavigne, mas mantendo fielmente a melodia base original. A música é um relato até engraçado de uma garota sobre um cara que a perdeu por não valorizá-la. E, tocando no assunto relacionamento, a suave acústica de Good While It Lasted é mais uma prova de que, até para a Ashnikko e seu temperamento forte, não é fácil lidar com desilusões amorosas.

Para finalizar, Clitoris! The Musical é um despedida em tom fofo, com sons de piano que mais lembram uma daquelas cantigas infantis que ensinam na pré-escola. Mas não se engane pela doçura, o single é uma sátira das frustrantes desventuras sexuais com homens heterossexuais cisgêneros que não sabem estimular suas parceiras, além de críticas ao tabu envolta do orgasmo feminino. E assim, Ashnikko conclui sua grande criação DEMIDEVIL, que, além de transmitir mensagens feministas, é uma amostra de que a cantora não é uma artista de sucesso momentâneo com apenas dois hits e de que ela nos promete ter muito a mostrar ainda pela frente.

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