Do catálogo do Netflix aos títulos que lotaram salas de cinema, cá vão quatro filmes opinados que tiveram destaque (bom ou ruim) no mês de novembro:
Bom Comportamento
O novo longa dos irmãos Safdie pode ser definido como um Depois de Horas (1985), de Martin Scorsese, reimaginado pelas lentes de Nicolas Winding Refn. É a típica trama onde o protagonista passa por uma maré de azar daquelas, com o tom de comédia substituído por tensão e a paleta saturada do diretor de Drive (2011).
Robert Pattinson incorpora Connie, um bandido juvenil impulsivo (mas com sangue frio) e segue entre os atores mais sólidos da década – com a antiga parceira Kristen Stewart aclamada recentemente por Personal Shopper (2016), o passado na saga dos vampiros que brilham está enterrado de vez.
Infelizmente, o ritmo frenético do roteiro freia bruscamente no encerramento, e o resultado acaba decepcionando. A exceção fica para a premiada trilha do produtor Oneohtrix Point Never, que entrega seu melhor momento no final. Divertido, só não compre o hype a priori. — Nilo Vieira
Chasing Trane – The John Coltrane Documentary
Quando morreu em 1967, aos 40 anos, John Coltrane já fazia parte do seleto time de grande jazzistas de todos os tempos. A morte precoce não o impediu de deixar uma obra vasta e influente, que elevou o jazz a outro patamar. Desde então, a aura em torno do saxofonista só cresceu. Chasing Trane não busca justificá-la, mas, sim, contar a trajetória de Coltrane por meio de fontes diversas.
O diretor John Scheinfeld acerta ao mesclar pessoas próximas a Coltrane, como seus filhos e colegas, e admiradores. Essa escolha dá uma dimensão intimista ao documentário, algo essencial ao se falar sobre um músico tão metafísico. A pessoa Coltrane é desvelada, seus traumas e anseios, e assuntos espinhosos como sua infância atribulada e vício em drogas não são evitados. Ao final da sessão, sabemos mais sobre ele do que sobre sua música. Nada mais justo, visto que as falas de fãs ilustres como Santana e Bill Clinton são unânimes: Coltrane se sente, não se explica. — Gabriel Ferreira
Liga da Justiça
Liga da Justiça não é ruim, mas pior ainda, é medíocre. Com personagens sem carisma, um roteiro óbvio e aquele que pode ser o pior vilão da história dos filmes de herói, Liga da Justiça faz até A Era de Ultron parecer um filme melhor. O que com um investimento de 300 milhões de dólares (incluindo os custos para remoção do bigode do Superman), o dobro de Mulher Maravilha, por exemplo, e um retorno financeiro abaixo do esperado pode botar em risco o futuro do universo cinematográfico da DC.
Ainda assim, apesar de tudo, o filme é um avanço em relação aos quase criminosos de tão ruins Esquadrão Suicida e Batman vs Superman, com o roteiro de Joss Whedon dando alguns toques cômicos há muito necessários. Ao apostar no extremamente seguro, a DC novamente perde de se consolidar, e continua atrás dos rivais. Resta torcer para que personagens como a Mulher Maravilha sejam aproveitados de forma melhor por nomes mais competentes, como a diretora Patty Jenkins, e que outros, como Aquaman, que ganha seu próprio filme em 2018, desapareçam nas profundezas de Atlântida. — Matheus Fernandes
Vazante
Mesmo que todas as polêmicas de Vazante pudessem ser ignoradas, ainda estaríamos distantes de um filme contemporâneo brasileiro. Retirando sua belíssima fotografia, a direção de Daniela Thomas escorrega não só em seu olhar sob o período escravocrata brasileiro, mas por não abordá-lo de forma condizente com o momento em que vivemos. O resultado é pouco convidativo, tradicional e monótono, e que pouco acrescenta para a filmografia do ramo. — Adriano Arrigo