Cineclube Persona – Junho/2019

A reunião mais comentada do mês: Mônica no Mônicaverso. (Foto: Reprodução)

O clichê é inevitável: junho é o mês da entrada de grandes blockbusters e os filmes para crianças. Tá chegando as férias, o capitalismo fala mais alto. Tivemos desde as animações que a gente só descobre nos trailers antes das sessões até live-actions e sequências mais esperadas do ano. No entanto, a nossa seleção cinéfila cavou mais a fundo e trouxe os grandes eventos do streaming e da TV, inclusive produções que não tiveram tanto alarde, mas foram os destaques de junho desse mês no cineclube do Persona. Confira!

Egberto Santana, Gabriel Oliveira F. Arruda, Mariana Godoy

Fora de Série (Olivia Wilde, 2019)

(Foto: Reprodução)

O primeiro trabalho na direção de Olivia Wilde te joga no pequeno mundo das duas garotas mais inteligentes (Kaitlyn Dever de Beautiful Boy e Beanie Feldstein de Lady Bird numa química perfeita) do colégio no último dia antes da formatura, com o único desejo de curtir tudo aquilo que elas deixaram de fazer por conta dos estudos. O resultado? Uma dos filmes mais aclamados do ano até agora.

Fora de série (ou no original que faz jus às personagens, Booksmart) inova o gênero coming of age ao dar representatividade sem se ater ao clichê de girar a história do personagem na questão da sua orientação sexual ou gênero, e isso vale para até os coadjuvantes. A sintonia e interação genuína entre os personagens te faz acreditar e se identificar com as situações, nessa que é com certeza um dos melhores feitos do gênero desde o já datado Superbad.

A direção de Wilde não falha e entrega diversas sequências memoráveis, críticas e divertidas. A seleção de músicas faz jus ao clima e momento vivido pelos personagens, e incrementa ainda mais a imersão na obra. Com certeza, um dos melhores de 2019. – Egberto Santana Nunes

Turma da Mônica: Laços (Daniel Rezende, 2019)

(Foto: Reprodução)

Arriscado, no mínimo, é a palavra para descer a ideia de adaptar os clássicos quadrinhos da Turma da Mônica para as telonas. Histórias essas que estiveram presentes na infância de quase todos os brasileiros.

Porém, o elenco amistoso e íntimo escolhido por Daniel Rezende foi capaz de lotar as salas de cinema de jovens, crianças e adultos, que se emocionaram e enxergaram ali personagens que os acompanharam durante anos. A experiência não poderia ter sido mais satisfatória.

As cores encantam e o mundo criado é exatamente aquele que estamos acostumados a enxergar como Bairro do Limoeiro. As refêrencia são rápidas e pontuais e não saturam nem esgotam, o prato cheio tá na clássica relação entre os quatro protagonistas, entre brincadeiras e discussões, o senso de construção, aprendizado e amadurecimento está aí, como se realmente fossem velhos amigos.

O roteiro é bem amarrado e atrativo e não deixa pontas soltas (nem nos cabelos), porém a economia de texto e o apego com a obra original da graphic novel de mesmo nome de Vitor e Lu Cafaggi reduziu a momentos onde a direção falha, fixando a câmera em um mesmo plano que poderiam ser ocupados por piadas ou sequências maiores. Tudo isso não tira o mérito do sucesso do longa, com uma uma sequência já garantida pelo mesmo diretor e que com certeza tem chances de repetir o mesmo impacto. – Egberto Santana Nunes

MIB: Homens Preto – Internacional (2019, F. Gary Gray)

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MIB: Homens de Preto – Internacional é um filme complicado de se falar sobre. Por um lado, o longa de F. Gary Gray (Straight Outta Compton: A História do N.W.A., Velozes e Furiosos 8) replica habilmente a estética e a vibe da franquia, mas falha terrivelmente na hora de expandir o universo de MIB para além dos Estados Unidos.

Apesar de contar com performances comprometidas de Tessa Thompson e Chris Hemsworth (que já haviam nos dado um gosto de sua parceria cômica em Thor: Ragnarok) e Kumail Nanjiani na voz do adorável Pawny, ambas as personagens são obrigadas a se arrastar através de um roteiro previsível que horas quer ser MIB e horas sonha em ser uma versão genérica de Kingsman. Apesar do filme reproduzir fielmente a estética dos anteriores, é difícil sentir que estamos realmente seu universo, afora algumas aparições de personagens recorrentes. Liam Neeson participa ativamente da trama, mas recebe tão pouco para trabalhar que dá até dó, assim como Emma Thompson no papel recorrente de Agente O.

O longa parece até ter esquecido do humor característico da franquia, marcado pelo uso do silêncio que deixava a audiência se aprofundar em cada uma das piadas ao mesmo tempo que a deixava respirar antes da próxima. Aqui, a maioria das piadas é entregue no diálogo, deixando os atores carregados e quase sem nenhuma oportunidade de aprofundar seus já rasos personagens. Os paralelos com a imigração também foram completamente deixados de fora e o filme parece não reconhecer (como seus antecessores reconheceram) as críticas a serem feitas nesse tema.

Ao final de cada um dos três primeiros MIB, éramos deixados com a sensação de que a humanidade era muito menor do que imaginávamos no grande esquema cósmico do universo e que é um milagre nós termos chegados até aqui. Se você busca um exemplo de como Internacional se esqueceu do espírito da franquia, saiba que ele apenas acaba, sem reflexão nenhuma. Não precisa nem de neuralizador: você não vai se lembrar de MIB: Homens de Preto – Internacional por tempo suficiente para se incomodar. – Gabriel Oliveira F. Arruda

X-Men – Fênix Negra (Simon Kinberg, 2019)

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A nova estreia da Marvel Entertainment, Fênix Negra, traz o desfecho de quase 20 anos de história dos mutantes, desde a estreia de X-Men em 2000. É o último filme de super-heróis distribuído pela 20th Century Fox e é perceptível a influência negativa da Disney nas mudanças. Este é o primeiro filme dirigido por Simon Kinberg, que está envolvido com a franquia como produtor e roteirista desde o início.  – Mariana Godoy

Séries e minisséries

Chernobyl (2019, Craig Mazin)

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Depois do fim de Game of Thrones, a HBO preparou mais um enorme sucesso para os órfãos do grande evento televisivo dos últimos anos.  Chernobly tomou a boca do povos nas redes sociais, bateu recordes e deu luz à um trágico acidente nuclear que causou inúmeras mortes e tem, literalmente, seus rastros até hoje nos arredores da cidade que dá nome ao crime. Jared Harris, Stellan Skarsgård e Emily Watson dão vida os heróis por trás do maior desastre ambiental da humanidade.

Dramatizado para as telinhas por Craig Mazin (Se Beber Não Case II, III e Super Herói: O Filme) e Johan Renck (dirigiu curtas do David Bowie e alguns episódios de Breaking Bad), o mega hit junta um trabalho perfeito de química do elenco com uma ambientação suja e pesada da União Soviética pós-explosão da usina. A trilha sonora ambiente arrastada e forte entrega um clima de horror constante, único sentimento descritível para os acontecimentos relatados.

Já sabemos o fim da jornada, mas os ganchos em cada fim prendem a audiência em acompanhar os esforços que o trio de protagonistas fazem para corrigir a incompetência dos poderosos. De fato, a produção americana faz um retrato de erros do governo comunista, e conseguiu irritar a gestão de Putin, mas não tinha como ser diferente. O grande destaque televisivo de junho definitivamente não poderia ficar de fora da nossa lista. – Egberto Santana Nunes

Olhos que Condenam (2019, Ava Duvernay)

(Foto: Reprodução)

Depois do premiado documentário 13ª Emenda, a Netflix traz de volta a aclamada diretora Ava Duvernay para adaptar uma das histórias mais assombrosas do conflito racial americano: a acusação falsa de estupro de uma garota branca no Central Park que levou cinco jovens negros do Harlem para a prisão em 1989.

A minissérie é divida em 4 episódios. Cada um deles é responsável por dramatizar parte dos acontecimentos, com a devida tomada de liberdade criativa. Porém, mais do que isso, é notável e explícito o paralelo com o sistema americano de hoje. Somos convidados a enxergar como funciona cada passo do encarceramento, desde o interrogatório até a saída e a tentativa de sobreviver após os anos como um penitenciário.

A direção escura – principalmente na prisão –  e emocional de Duvernay, além do retrato cruel e vívido dos acontecimentos torna a experiência dolorosa e difícil de ser assistida. Por se tratar de uma narrativa que propaga a dor e retratar o negro apenas na sofrência, não foram poucos o relatos de pessoas que não conseguiram terminar os episódios. Porém, ela já foi a série mais assistida no catálogo da plataforma de estreaming com duas semanas no ar, abrindo caminho para indicações de prêmios e da persistência na discussão, que já levou resultados reais. – Egberto Santana Nunes

 

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