Clara Sganzerla e Guilherme Machado Leal
Para uma geração, o MTV Video Music Awards foi um grande acontecimento. Mobilizou votações, foi palco de grandes anúncios e era uma das premiações mais aguardadas do ano, sendo prestigiada por diversos nomes de peso da indústria musical. Madonna, Michael Jackson, Whitney Houston, Spice Girls, Britney Spears, Eminem, Beyoncé, Lady Gaga e diversos ícones se apresentaram no palco ao longo das décadas, disputando as estatuetas do Homem na Lua e fazendo história em Nova York ou Los Angeles. No entanto, ao olharmos para o presente, não podemos afirmar que o evento tem o mesmo brilho, mas, aos trancos e barrancos, tenta recuperar os tempos de glória de um passado não tão distante.
A edição de 2023 foi realizada em Nova Jersey, no Prudential Center, e foi comandada por Nicki Minaj, vencedora do Vanguard Award de 2022. A rapper cantou Last Time I Saw You – música presente no seu quinto álbum, Pink Friday 2 –, envolta de brilhos e fumaça roxa. A apresentadora também ganhou uma estatueta na categoria Melhor Videoclipe de Hip-Hop com Super Freak Girl.
A ideia era celebrar os 50 anos do hip-hop ao lado de figuras importantes do gênero, como Darryl “D.M.C.” McDaniels, Grandmaster Flash and the Furious Five, Doug E. Fresh, LL Cool J e Lil Wayne. Diddy Sean, no entanto, roubou a cena ao se apresentar com as músicas I’ll Be Missing You, Bad Boys For Life, I Need a Girl e ao receber o prêmio Global Icon, uma honraria para a lenda do hip-hop.
Apesar de muitos famosos de alto nível não frequentarem mais o evento, Taylor Swift continua fiel. Desde 2008 marcando presença, a loirinha do momento elevou as expectativas: depois de ser indicada em 11 categorias pelo videoclipe e música Anti-Hero, a artista voltou para casa com oito prêmios e o título de maior vencedora da noite, além de ter dominado os melhores memes pela internet – que movimentaram mais o Twitter do que o próprio VMA’s em si.
Como se não bastasse esse título vitorioso ao fim da noite, Swift abriu a cerimônia com a maior das honras dentro do mundo pop. Na apresentação da primeira categoria, o grupo NSYNC reuniu-se oficialmente após uma década separados para entregar a estatueta de Melhor Pop para a artista. Ao anunciá-la, Justin Timberlake a definiu muito bem: “a imparável Taylor Swift“.
Outra figura que retornou depois de seis anos ao VMA’s foi Demi Lovato. Com um medley de seus hits em uma nova versão rock, Heart Attack, Sorry Not Sorry e Cool For The Summer foram performados com maestria pela cantora, que dividiu o palco com sua banda composta apenas por mulheres. Além de ter sido indicada nas categorias de Melhor Pop e Videoclipe com uma Mensagem Social, Lovato mostrou que sua nova era chegou para ficar.
O grande destaque da noite foi Shakira, vencedora do Vanguard Award de 2023. A cantora realizou uma grande performance de 10 minutos com diversos hits de sua carreira, entre eles Whenever, Whenever, Hips Don’t Lie, She Wolf e até Bzrp Music Sessions #53. Com muito carisma e talento, ela apenas confirmou que seu lugar de referência nunca será ocupado e que a homenagem foi mais do que merecida.
Seguindo para outra loira de sucesso, precisamos falar sobre Sabrina Carpenter. Marcando presença na The Eras Tour e conquistando corações por onde passa, a artista performou no pré-show os sucessos Nonsense – que viralizou no TikTok e levou a canção ao palco da premiação da MTV –, e Feather, presente na edição deluxe do álbum emails i can’t send.
No entanto, parece que não há um critério definitivo acerca de quem vai ocupar os holofotes da noite, algo que pode ter relação com o vasto número de apresentações que preenchem as três horas. É importante frisar que a voz de Nonsense, pelo seu talento e dedicação, merecia mostrar o que tem de melhor no palco principal: Carpenter cantou ao vivo e dançou, enquanto outros artistas usaram autotune.
Quem também arrasou com a sua apresentação foi a cantora Olivia Rodrigo. Performando dois dos três singles da era Guts, a mais nova princesa do pop rock norte-americano entregou ao público duas versões de sua persona. A primeira, com a balada Vampire, mostrando um lado mais sentimental da garota, enquanto a segunda, em Get Him Back, Rodrigo evoca toda a raiva que possui ao cantar sobre um homem babaca que partiu seu coração.
Comparando em relação à última vez da artista no VMA’s, o crescimento é notável. Na sua apresentação de estreia, ao cantar Good 4 u, ela foi criticada pela falta de fôlego. Agora, após 10 meses no período de criação do novo álbum, a ‘MC Detran’ chega com os dois pés na porta e confirma, de uma vez por todas, que não é dona de um hit só e veio para ficar.
E quanto ao território nacional, o funk brasileiro finalmente chegou às premiações estadunidenses – e não poderíamos estar mais felizes. Seria um erro ter a presença de um ritmo musical apenas em seu país de origem, então, ao exportar o gênero para o mundo, os artistas têm a possibilidade de levá-lo a um novo tipo de público.
Por esse lado, as influências brasileiras do gênero apareceram no VMA’s não só uma, como três vezes. Tudo começou quando Anitta se apresentou com o mashup das músicas Used To Be e Funk Rave – que, aliás, ganhou o prêmio na categoria Melhor Videoclipe Latino – além de encerrar com um break-dance da canção Grip, ainda não lançada.
Não foi apenas a ‘Girl From Rio’ que levou o funk brasileiro. A colombiana Karol G também nos presenteou com o gênero ao cantar as músicas Oki/Doki – faixa do seu último projeto, MAÑANA SERÁ BONITO (BICHOTA SEASON) – e o remix de Tá Ok, de Kevin o Chris. A artista parece ter tido uma boa experiência com a nossa cultura, já que virá ao Brasil em 2024 com a turnê homônima.
Com uma performance visualmente perfeita e toda trabalhada nas cores verde e rosa, o momento latino do MTV Video Music Awards foi um dos pontos altos da premiação. Por fim, Megan The Stallion e Cardi B voltaram aos palcos da MTV e apresentaram Bongos, a nova colaboração entre as artistas e que, sem dúvidas, traz referências do contato da voz de Bodak Yellow com cantores brasileiros, a exemplo de Ludmilla.
O intercâmbio entre culturas não se restringiu ao gênero musical: Anitta e o grupo de K-pop TXT estrearam a sua parceria, Back For More. O fruto dessa colaboração resultou em uma faixa deliciosa e diferente do que os meninos costumam fazer. Na parte da cantora, por exemplo, o funk tem destaque e consegue combinar as influências latinas com o som produzido pelo grupo coreano. Os fãs do gênero leste asiático, sempre muito fiéis, receberam a brasileira com gritos acalourados no momento em que ela dançou com um dos membros do Tomorrow X Together.
Um dos motivos que ainda fazem o público se importar com o VMA’s é a performance de artistas comprometidos com o seu trabalho, como a icônica apresentação de Britney Spears na cerimônia de 2001. Nesse sentido, toda vez que Doja Cat é anunciada na lista de shows da premiação, há a curiosidade em torno do que a rapper irá entregar ao público.
A voz de Say So, na edição desse ano, cantou três músicas do novo projeto, o Scarlet, quarto álbum da sua carreira. Tendo a cor vermelha como conceito do recente trabalho, a artista começou com Attention ao lado da plateia, depois cantou Paint The Town Red, sucesso na Billboard Hot 100, e finalizou com Demons já em cima do palco da MTV.
Metida em polêmicas, como a sua associação a grupos neonazistas, é triste ver que a sua Arte perde fôlego diante de suas atitudes. Não só isso, mas nos últimos tempos a cantora foi devidamente julgada pela forma como trata os seus fãs. Infelizmente, o histórico problemático de Doja Cat apenas a distancia daqueles que a acompanham e torcem pelo seu sucesso.
Os saudosistas da participação de Reneé Rapp em A Vida Sexual das Universitárias podem ficar tranquilos: a cantora e atriz é o novo nome da indústria musical que precisa da sua atenção. Ela cantou Pretty Girls, faixa do seu primeiro álbum de estúdio Snow Angel e Too Well, presente no EP Everything To Everyone. Infelizmente, Rapp não levou a melhor na categoria em que concorria, a de Artista Revelação, mas com certeza, apenas pela indicação, sua campanha para obter uma nomeação no Grammys 2024 será potente.
Atualmente, os artistas estrangeiros comandam a premiação. O grupo Stray Kids se apresentou com a faixa S-Class e levou o público à loucura. A performance, que contava com um jogo de câmeras característico das apresentações de K-pop, evidenciou ainda mais o talento dos ganhadores, pelo segundo ano consecutivo, na categoria Melhor K-pop. Além disso, os figurinos dos meninos, estilizados de preto e tons amarronzados, se destacaram aos olhos de quem acompanhou tanto no conforto de casa quanto na plateia do VMA’s. É sempre bom ver a excelência sul-coreana em ação.
Além da comemoração dos 50 anos do hip-hop, que levou diversos artistas ao palco do evento, o rapper Metro Boomin fez uma performance de cinco minutos com a presença de Future, Swae Lee, A Boogie Wit da Hoodie e NAV. Dessa maneira, todos tiveram o seu momento de brilhar e puderam mostrar o seu trabalho. Juntos, eles cantaram Superhero e a faixa Calling, da trilha-sonora do segundo filme do homem-aranha de Miles Morales. Vale destacar também que Boomin foi quem fez a curadoria do álbum de Homem Aranha: Através do Aranhaverso, o retrato mais aclamado do teioso nos últimos anos.
Sem contar com os grandes prêmios da noite, como Videoclipe do Ano, Artista do Ano e Canção do Ano (todos para Taylor Swift), tivemos Ice Spice como ganhadora da categoria Artista Revelação, SZA em Melhor Videoclipe R&B por Shirt e Karol G e Shakira em Melhor Parceria pela música TQG. Nos outros gêneros, tivemos Maneskin como ganhador de Melhor Videoclipe de Rock por The Loneliest, Lana Del Rey e Jon Batiste em Melhor Videoclipe de Música Alternativa por Candy Necklace e nossa querida Selena Gomez com Rema em Melhor Videoclipe de Afrobeats por Calm Down.
Em resumo, o VMA’s de 2023 não alcançou outras edições da premiação e não entrou para nenhuma lista das melhores apresentações de todos os tempos, mas trilha um caminho bonito até seu lugar de origem e relevância. Dessa vez, com novos nomes, estilos, gostos e hits, que bebem das referências de um passado brilhante e adorado.