Letícia Paviani
Você, caro leitor, já se sentiu paralisado de medo diante alguma dificuldade ou de algo que te assustou tanto, mas tanto, que você se sentiu fora do controle de sua própria vida? Bem, eu sempre me sinto assim quando vejo uma barata… Mas Esther Solar, bem, Esther Solar vive com medo…
É possível alguém viver à mercê do próprio medo? Bom, os Solar, centro de Uma lista (quase) definitiva de piores medos, vivem… Todos os Solares. E quando eu digo todos, quero dizer a família inteira. O pai de Esther tem agorafobia. O irmão, medo do escuro. A mãe, medo do azar. O avô, de água. E assim ocorre com toda a árvore genealógica de Esther. Menos ela. Porque Esther tem medo do próprio medo, se é que vocês me entendem.
E é assim que somos apresentados aos Solar: uma família amaldiçoada pela própria Morte. Não, não morte. A Morte. A dona da parada toda, do destino, da turma do Penadinho (ou dono, dependendo do contexto), enfim: a maldição é a seguinte: o que você tiver mais medo é o que te matará. Ora essa, já imaginou ser morto por uma infestação de ratos? Pois é! Para isso, Esther sai na empreitada de fazer uma lista dos piores medos para se ter medo – não resisti ao trocadilho, me desculpe – entre eles: medo de fantasma, medo de velejar, medo de penhascos, medo de aranha… uma lista infinita de muitos tipos de medo. Inclusive o medo de ser ela mesma.
No começo, Uma lista (quase) definitiva de piores medos, lançado em 2017 com tradução de Alice Klesck pela Editora Alt, parece muito engraçado, aquele livro excelente pra ler após uma ressaca literária – causada por ACOSF, por exemplo – mas não se deixe enganar pela sua capa simplista e pelos personagens principais serem adolescentes, pois a jornada de Esther, poxa, é de dar medo – risos, mais um, prometo que paro até o final dessa resenha. Logo nas primeiras páginas, Esther reencontra um velho amigo, do qual sente ressentimento por abandoná-la, sem mais nem menos, na pré-escola: Jonah. Jonah é um garoto popular, maquiador cinematográfico – pelo menos esse é o seu desejo do futuro – e muito misterioso.
Seu mistério, entretanto, nada tem a ver com o charme de bad boy. Jonah é um garoto sensível e um artista de mão cheia: pintor, maquiador, grafiteiro, o cara é a representação do lado esquerdo do cérebro em pessoa. E, por estar tão preocupado com os outros – mais uma piadinha- ele decide que vai ajudar Esther a se livrar de sua lista de piores medos, começando com as lagostas, porque, né? Quem tem medo de lagostas?
E é aqui que a coisa começa a ficar complicada, porque o que era pra ser um livro de comédia acaba se tornando um drama pesado e cheio de gatilhos. Sabe aquele famoso humor sádico? Pois é justamente isso que a Krystal Sutherland (quem é esse personagem? Ah não, esqueci de avisar que essa é a autora, conhecida na literatura jovem adulta pelo romance A Química que Há Entre Nós) faz com a nossa mente enquanto lemos esse livro. Tudo começa no Paraíso. E quando você vê, está se debulhando em lágrimas e refletindo sobre os seus próprios medos.
Enfim, Uma lista (quase) definitiva de piores medos tem tudo para ser emocionante, e, eu te garanto, você dificilmente será o mesmo ao terminá-lo, pois Esther nos provoca a vencermos nossas inseguranças e acreditarmos que há sim um futuro melhor, livre de maldições para quem tem coragem de ir em frente. Vamos juntos embarcar nessa história que vai trepidar inclusive os corações de pedra?