Todo Tempo Que Temos é receita para filme conforto

Cena do filme Todo Tempo Que Temos. Na imagem, Tobias, Almut e a filha do casal estão juntos em um jardim. Eles estão enfileirados, a criança está no colo de Tobias, olhando para trás, o rosto dela não está visível. Atrás de Tobias, na direita, está Almut. Eles estão felizes, sorrindo. Ela é uma mulher na faixa dos 30 anos, de pele clara e cabelos loiros, lisos e compridos. Ela está vestindo uma camisa social de botões na cor branca com listras pretas na vertical. Tobias é um homem branco, na faixa dos 40 anos, de cabelos curtos na cor castanho claro. Ele usa um suéter azul marinho. A criança também possui pele clara, cabelos castanhos com um penteado de tranças nos dois lados da cabeça. Ela usa uma jaqueta jeans e calça moletom na cor verde escuro. Na mão direita ela segura um ursinho de pelúcia com o corpo branco e orelhas e rabo na cor preta. O jardim possui muitas árvores secas, grama verde e flores vermelhas. No canto esquerdo há um espaço para descanso, com sofá com almofadas e uma cadeira de madeira.
O longa é uma produção de Benedict Cumberbatch (Foto: Imagem Filmes)

Davi Marcelgo

Ao assistir a um filme, a atividade é inconsciente. O cérebro vai interpretando através do olhar, dos ouvidos e das convenções e elementos em cena que são familiares. Uma pessoa andando sozinha em uma noite escura é sinal de que o assassino vem aí, já um parceiro novo em uma franquia de ação, na certa, é um agente duplo. Na Comédia romântica, clichês não faltam, mas são justamente eles que fazem tantas pessoas terem como confort movie 10 Coisas que Eu Odeio em Você (1999), por exemplo. Nesse sentido, Todo Tempo que Temos é o mais novo candidato para entrar na lista de filmes que assistimos quando precisamos. 

Tobias (Andrew Garfield) é um recém divorciado que, por obra do destino, conhece Almut (Florence Pugh), uma talentosa cozinheira. Eles se apaixonam, vivem um amor de Cinema e formam uma família – o que poderia dar errado? Sempre tem algo para tremer a relação de um casal e o longa de John Crowley entende isso muito bem. É um filme que lida com os códigos do gênero de uma maneira bem sincera, sem vergonha ou disfarce. Tudo que um ‘dramalhão’ tem direito está aqui: um problema grave, situações exageradas, um segredo, cena de despedida e um marido tão perfeito que só existe em ficção mesmo. 

Ainda que abuse, positivamente, dos clichês, a forma como a história é contada garante originalidade e coerência com a temática sobre ‘quanto tempo temos para aproveitar a vida?’. Indo e voltando para o passado e presente, às vezes, nem de forma linear, o filme se apresenta como uma espécie de livro de memórias sobre a história de duas pessoas, o que garante a construção de rimas visuais que atendem ao propósito de te fazer sentir.

Cena do filme Todo Tempo Que Temos. Na imagem, Tobias dirige um carrinho de bate-bate de parques de diversão. Ele está bem alegre, rindo, com uma das mãos no volante. O carrinho é na cor amarela e feito de metal. O cenário é de um parque de diversões, ao fundo, em desfoque, há luzes amarelas e outros brinquedos em vermelho. Tobias é um homem branco, na faixa dos 40 anos, de cabelos curtos na cor castanho claro. Ele está usando uma jaqueta verde escura.
Tanto Florence Pugh como Andrew Garfield já deram vida a personagens da Marvel: Yelena e Homem-Aranha, respectivamente (Foto: Imagem Filmes)

Em determinadas sequências, Crowley abraça o piegas e o absurdo sem medo algum de ser rejeitado por uma antipatia com a breguice, postura de outros públicos não interessados na linguagem romântica. A direção utiliza de movimentos rápidos e música triste para invocar a atmosfera perfeita na geração de laços com personagens. Nesse vai e vem de cronologia, o roteiro de Nick Payne instiga o público a criar sua própria colcha de retalhos sobre a história.

A dupla de atores está encantadora. Seguindo à risca os protagonistas de uma comédia romântica: são opostos que se atraem. Andrew Garfield é uma ótima escalação de elenco; carismático como já provou ser, dentro e fora dos sets, se é para fazer o público se apaixonar por um protagonista, a bola foi direto para o gol. Por outro lado, Florence Pugh é o lado mais dramático do casal, seja por sua trama ou dando o tom certo ao texto – em cenas mais sensíveis ou explosivas, ela sai como destaque. 

Todo Tempo Que Temos é tudo que o gênero tem de marcante. O longa não é rebuscado, porém tem exatamente o espírito que quer ter e sabe seu público-alvo. Brincando o tempo todo com os sentidos e a memória, provoca felicidade, riso, choro e ansiedade em um ótimo malabarismo com os elementos de romance. Se o casal Tobias e Almut aproveitaram todo o tempo que tiveram, o assunto é outro, mas o diretor com certeza aproveitou uma caixa de clichês ao seu bel-prazer.

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