The Letter Room e a violação dos sentimentos alheios

Cena do filme The Letter Room. Na foto consta um homem, vivido pelo ator Oscar Isaac, que possui pele morena, cabelos escuros em um topete e um bigode escuro longo. Ele está vestido com uniforme cinza de guarda prisional americano e segura um telefone, olhando fixamente para a frente. O cenário é formado por uma parede amarela clara, com uma lousa branca atrás com escritos em caneta preta, e um porto casacos ao lado.
The Letter Room concorre ao Oscar 2021 na categoria Melhor Curta-Metragem em Live Action (Foto: Reprodução)

Isabella Siqueira

A questão que envolve o sigilo da correspondência versus a segurança da comunidade, é o pano de fundo em The Letter Room. No curta-metragem indicado ao Oscar 2021, a curiosidade pelos sentimentos alheios traz à tona a falta de privacidade que existe no sistema prisional americano. Dirigido por Elvira Lind, conhecida anteriormente pelo documentário Bobbi Jene, a produção consegue dizer muito em apenas meia hora, e pelos olhos de um agente carcerário, vivido pelo talentoso Oscar Isaac, encontra-se um outro lado de uma estrutura já explorada pelo audiovisual.

Presente na categoria Melhor Curta-Metragem em Live Action no Oscar 2021,  a produção é uma das três obras norte-americanas indicadas, sendo as duas estrangeiras o drama israelita White Eye e o palestino The Present. Por The Letter Room estão concorrendo a diretora Elvira Lind e a produtora Sofia Sondervan, conhecida por seu trabalho em Cadillac Records (2008).

Esquecendo os dramas de gangues e fugas absurdas que já mostrados pela televisão, a exemplos de Prison Break e Alcatraz – Fuga Impossível, a obra de Lind retrata com cenas do dia a dia como é o processo de recebimento e fiscalização das cartas que chegam aos presidiários. Ao contrário do que é referenciado em uma das primeiras cenas, onde a diretora (Eileen Galindo) já presume que as cartas contém apenas informações sobre tráfico, pornografia e planos terroristas, Richard (Oscar Isaac) acaba ficando fissurado pelas sentimentalidade das palavras de Rosita (Alia Shawkat), que escreve ao amor de sua vida que está no corredor da morte.

Cena do filme The Letter Room. Na foto constam duas pessoas, um homem e uma mulher, sentados de frente para outro num restaurante. O homem, vivido pelo ator Oscar Isaac, usa uma camisa pólo marrom por dentro da calça, calça jeans clara e um cinto. Ele possui pele morena, cabelos escuros e um bigode escuro, e está com as mãos cruzadas em cima da mesa. A mulher, vivida por Alia Shawkat, possui cabelos castanhos curtos, estilo pixie até nuca, e pele clara. Ela veste um vestido estampado floral e um casaco azul. O cenário é composto por uma mesa marrom, e atrás está uma janela com uma decoração feita de vasos numa prateleira.
Alia Shawkat participou ainda de First Cow, um dos esnobados do Oscar (Foto: Reprodução)

A obsessão do guarda é reflexo de seu lado observador. Isaac encena muito bem a vida de um homem solitário, cuja vida resume-se a uma televisão, seu pet e alguns colegas vulgares. Aspirando entrar no RH da prisão, ele acaba como o Chefe das Comunicações, um bom título para fiscal da correspondência alheia. Apesar das boas intenções do moço, que possui um fraco por belas palavras, logo de cara entende-se que nem a saudade dos presos é algo respeitado pela instituição.

As interações de Richard são limitadas, as poucas conversas que ele tem ajudam a situar a vida pacata e solitária que ele vive. E, apesar de seu dever ser só um mero intermediário entre as cartas e os destinatários, logo ele fica obcecado com a correspondência que a moça enviou, quase como uma fanfic da vida real.

As coisas atingem o ápice quando o personagem chateia-se com a falta de resposta de Cris (Brian Petsos), o grande amor de Rosita. É importante citar também que a química entre Isaac e Shawkat, a eterna Maeby de Arrested Development, apesar de durar bem pouco merece destaque pela sinceridade. Com uma trama tão interessante, é fácil se decepcionar quando o fim do curta chega. Aos poucos, a curiosidade de Richard ultrapassa a tela e se instala no público.

E, infelizmente, apesar do bom coração do guarda, que talvez apenas estivesse desesperado por um pouco de emoção. Ainda é preocupante pensar que a invasão da vida privada por parte de Richard representa todo um sistema treinado para pensar o pior dos indivíduos. The Letter Room explicita como o sistema prisional americano recusa que apesar das grades e dos crimes cometidos, os sentimentos de amor e saudade existem e que essas páginas não deveriam ser violadas.

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