Geovana Arruda
O felizes para sempre teve vez na última temporada de The Bold Type. Com fechamento de ciclos, remember de cenas icônicas da série e mais reflexões de problemas da atualidade, o gostinho de final para as garotas da grande Nova York foi completo, conciso e deixará saudades. A série, que chegou este ano no catálogo da Netflix, está conquistando os amantes de uma boa comédia, principalmente aqueles que sentem saudade das primas, Gossip Girl e Girl Boss.
Embora a premissa seja o clichê óbvio, três amigas que vivem na cidade grande em busca dos seus sonhos, com seus amores e problemas, em cada episódio é possível refletir sobre pautas completamente atuais como preconceitos e minorias (racismo, homofobia, transfobia, religião, identidade de gênero, machismo, sexismo), política entre outros mil temas, da forma mais natural e leve, sem precisar dizer “ei, estamos falando sobre isso”. E, no desfecho da série, não foi diferente.
A 5ª temporada, diferente das anteriores, teve um número menor de episódios mas que não deixaram faltar emoção. Os seis capítulos do grande final foram, de certa forma, o necessário para as amadas protagonistas, Jane Sloan (Katie Stevens), Sutton Brady (Meghann Fahy) e Kat Edison (Aisha Dee). No começo, o questionamento de que não vai dar tempo parece ser real porque havia muito em jogo, a vida das personagens estava repleta de decisões importantes, entretanto cada personagem conseguiu seu final feliz, embora de forma rápida.
Para contextualizar bem resumidamente e depois ir direto aos spoilers, as três protagonistas, Jane, Sutton e Kat trabalham na Scarlet, uma revista de Moda, e é nesse lugar que a magia acontece. Cada uma das personagens carrega consigo bagagens e objetivos diferentes, que se desenvolvem ao longo da série e têm desfecho nesta temporada. Jane em sua carreira de escritora, Sutton e o mundo da Moda e Kat no seu espírito revolucionário das redes sociais, ganharam o coração do público, visto que a série esteve no top 10 das mais assistidas da Netflix após sua estreia no catálogo.
Ok, vamos aos finalmentes. Os últimos episódios começam com Jane, Sutton e Kat em frente a decisões importantes em suas vidas adultas, que envolvem o amor, a carreira e outros personagens queridos pelo público. Apesar disso, acredite, os ciclos se fecham. As escolhas que as garotas de Nova York fazem no fim não são das mais surpreendentes, não tem um grande plot twist, e nem deveria ter. A linearidade da série dependia desses fechamentos para agradar os fãs na season finale.
O final de Jane, é o mais fora da curva, porém não chega a ser um drift e “dá aulas aos crias”. Ao chegar no auge de sua carreira dentro da Scarlet, percebe que, nem sempre o que sonhamos, almejamos e vemos como o pico em nossa vida profissional é o que nos brilhará os olhos para o resto da vida. Às vezes, chegar lá significa mudar de planos, e como dizem os Geração Z “e tá tudo bem, é sobre isso”, Sloan mostrou que o mundo é pequeno perto dos sonhos.
Sutton tem um final clichê? Sim. Queria que fosse diferente? Óbvio que não. A estilista da série dá um aulão para a sociedade ao escolher sua carreira em vez de ter filhos e insistir nisso até o fim, porém, quando o mel é bom, meus queridos, o Richard Hunter (Sam Page) sempre volta para viverem felizes para sempre. Além do amor, o autoconhecimento de Sutton fica evidente nos últimos capítulos, gerando reflexões para além da série, como a importância da terapia e em onde, ou em que depositamos nossa tristeza.
Nossa rainha revolucionária, lacre atrás de lacre, Kat, finalmente tem o lugar que merece na carreira e se encontra também no amor. A personagem, junto com a ex-namorada Adena El-Amin, interpretada por Nikohl Boosheri, irão mudar o mundo com ideias incríveis e assuntos pertinentes, disso temos certeza. Mas sobre como lidar com os sentimentos evidentes desse ship eterno? Problemas para a Kat e Adena do futuro.
Outros personagens incríveis e muito bem construídos de The Bold Type encerram ciclos de forma objetiva, porém um pouco previsíveis. Começando com Alex Crawford (Matt Ward), o único homem hétero e preto que trabalhava na redação da Scarlet, que nos ensinou muito sobre masculinidade tóxica, machismo e sexismo, e deixou, no meio dos episódios, a revista para levar todas as quatro temporadas de ensinamento e evolução do personagem para a concorrente masculina Pinstripe.
Jacqueline Carlayle, interpretada por Melora Hardin, passa a vibe editora-chefe Meryl Streep em O Diabo Veste Prada, uma chefe imponente que todos querem ser quando crescer, porém, sem a maldade. Ela continua até o fim sem nenhum defeito e com uma atuação incrível. Tentando equilibrar o profissional com o social, assim como muitos de nós jornalistas ainda iremos enfrentar, a editora decide ir rumo ao desconhecido e encerrando, mais do que qualquer um, seu ciclo. Oliver Grayson (Stephen Conrad Moore) e Andrew (Adam Capriolo), francamente, mereciam mais. Apesar de serem coadjuvantes, eles são ótimos.
A temporada deu continuidade a detalhes marcantes da série, o levantamento de pautas polêmicas do cotidiano como o uso de drogas e o alcoolismo. Também, serviram looks fashionistas, a sororidade sempre e o plano de fundo da comunicação se manteve, já que tudo se passa em uma revista. O último episódio, em especial, trouxe o fechamento de ciclos sem pontas soltas, principalmente pelas cenas e referências idênticas ao episódio de número um da primeira temporada.
Para fechar com chave de ouro, os produtores apostaram em um final rápido, contudo, que serviu para deixar os corações dos fãs quentinhos. A temporada entrega o que a série sempre fez desde seu primeiro episódio, ótimos looks, boas risadas, muito drama, romances acalorados, pautas do cotidiano, uma playlist atual, a independência feminina e um combo de tudo isso, com uma pitada de quero mais. Mesmo com o amor e a carreira, as meninas de The Bold Type encerraram seus ciclos fazendo a melhor escolha: escolhendo a si próprias acima de tudo.