Amábile Zioli
O The X-Factor UK de 2011 foi o fator determinante na caminhada de Harry Styles, Liam Payne, Louis Tomlinson, Niall Horan e Zayn Malik. Se os cinco jovens tinham pretensões de seguir carreira solo no mundo da música, Simon Cowell foi o responsável por não deixar isso acontecer, pelo menos não naquele momento. Assim nasce a One Direction, que, meses após conquistar o pódio em terceiro lugar, estreou no mercado cultural com Up All Night.
Quase um ano depois, a boyband britânica estava prestes a descobrir se seu sucesso expoente perduraria ou se cairiam no esquecimento no ano seguinte: será que ainda poderia contar com a legião de fãs que os acompanhou desde sua formação? É sob essa pressão que o quinteto lança Take Me Home, seu segundo álbum de estúdio, em 9 de novembro de 2012.
É certo que até o último disco de sua carreira juntos, a One Direction preferiu não se arriscar no que diz respeito aos refrões chicletes e ritmos dançantes adorados pelas rádios, e é isso que acontece no segundo lançamento da banda. Inicialmente, o disco contava com 13 faixas, se tornando 20 na versão Expanded. Com influências de Should I Stay or Should I Go, do The Clash, a música de abertura é Live While We´re Young e parece que o fato de ser a primeira foi proposital. A faixa lembra o pop genérico, animado e dançante explorado no trabalho anterior – e não é à toa que foi um grande sucesso, ganhando videoclipe e tocando nos intervalos da Nickelodeon durante anos após sua estreia.
Por mais que tenha semelhanças, são vários os pontos que devem receber destaque em relação ao seu antecessor. A evolução é notável e os samples são os diferenciais de Take me Home: além da inspiração em The Clash, a banda também buscou ritmo em We Will Rock You, clássico do Queen, na produção de Rock Me. O pop-rock fica bem marcado no álbum; faixas como Kiss You e C’mon, C’mon destacam a vontade dos jovens de se desvincularem da imagem de boyband pop cultivada ao longo de sua formação.
Os cinco, porém, não ficam presos em apenas uma melodia e passeiam por diversos ritmos ao longo do disco. Little Things é um dos destaques e conta com uma melodia calma e harmônica, guiada apenas pelos acordes de um violão. A letra parece um flashback do lead single de Up All Night, What Makes You Beautiful, evidenciando mais uma vez as inseguranças da pessoa amada como tentativa, talvez falha, de exaltá-la.
A faixa tem mais uma particularidade: Ed Sheeran quem a compôs- e o cantor só poderia ter deixado a canção mais com a sua cara se ele mesmo a cantasse. Katy Perry e Tom Fletcher também compartilharam suas experiências musicais com o grupo. A cantora norte-americana co-produziu o hit Rock Me e o vocalista do Mcfly compôs I Would, deixando a produção dos garotos britânicos repleta de colaborações.
A produção parece prezar pela temporalidade do disco, não dando importância para a longevidade das faixas produzidas. Last First Kiss e Heart Attack são dois grandes exemplos – ambos soam tão 2012 que alguém que não faz parte do fandom não passaria a conhecer as músicas na atualidade. O resultado final é um álbum datado, já que a musicalidade não atrai tanto quanto na época de seu lançamento, fazendo com que o produto não tenha a relevância que as próximas obras da banda ainda carregam em 2022.
Take Me Home não dificulta para seus sucessores. É um disco fácil de superar, principalmente quando as composições autorais se tornam mais frequentes e os garotos passam a firmar seus lugares na indústria. É isso que acontece nas produções seguintes: a banda começa a ganhar personalidade e ser levada a sério, finalmente se desprendendo da imagem superficial e rasa atribuída aos cinco, e Midnight Memories exemplifica isso muito bem. No terceiro álbum de estúdio, Tomlinson se destaca como compositor principal, escrevendo 12 das 18 faixas produzidas e trazendo a maturidade e unicidade que faltava para o grupo.
Os sentimentos predominantes ao ouvir os primórdios da banda são a saudade e a nostalgia. Após a pausa, em 2016, os atuais quatro integrantes seguiram carreira solo e tomaram rumos diferentes. Em 2017, Styles estreou em seu álbum homônimo com um rock que já deveria estar preso em sua garganta há muito tempo. Louis e Liam surfaram por vários gêneros musicais até se encontrarem na indústria musical, enquanto Niall parece que sempre soube que o que funcionaria para ele seria uma fusão de pop e country, acompanhado de seu inseparável violão. Zayn, o primeiro a deixar o grupo, em 2015, estreia em carreira solo apenas um ano depois, com Mind of Mine, mostrando seu amadurecimento desde os tempos de One Direction.
Em geral, Take Me Home cumpriu seus objetivos: manteve a banda nos charts e conservou a legião de seguidores conquistados no CD anterior. Apesar de não se arriscar e repetir muito do que já vimos em Up All Night, o grupo mostrou sua evolução do primeiro para o segundo trabalho, trazendo letras mais profundas e ousando nas notas agudas. A produção não revolucionou o cenário musical da época, mas foi o suficiente para manter a One Direction no topo.