Arthur Caires
Após muitas especulações de qual seria a próxima regravação de Taylor Swift – como easter eggs em merchs indicando 1989 e Speak Now, referências no clipe de Bejeweled do álbum Midnights, e a presença de nada mais nada menos que Enchanted na setlist da The Eras Tour – Speak Now (Taylor’s Version) finalmente está entre nós. Originalmente lançado em 2010, a regravação do terceiro disco de estúdio de Swift foi anunciado em um grande telão de seu show em Nashville, e chegou para reafirmar o desejo da artista de recuperar os direitos de seus seis primeiros trabalhos, ao mesmo tempo que presenteia nostalgia para os fãs.
O disco contém 22 faixas, sendo dezesseis regravações e seis da parte From The Vault – coleção de músicas originais nunca lançadas que foram produzidas na época do álbum, mas não entraram na seleção final. Além disso, com o intuito de provar sua habilidade de compor no início de sua carreira, todas as canções foram inteiramente escritas por Swift. Dentre as canções, Mean, uma resposta a um crítico que disse que a artista não sabia cantar, conquistou dois Grammys nas categorias country em 2011. Agora, em sua regravação, a canção se torna ainda mais irônica com os vocais aprimorados da cantora e sua posição atual na indústria da Música.
Embora seja um feito simbólico, ao priorizar faixas apenas escritas por ela, Swift acabou limitando a regravação e deixando algumas outras de lado. No início da The Eras Tour, a cantora liberou a nova versão de If This Was A Movie, inicialmente da versão deluxe do Speak Now, mas que foi jogada para a era Fearless (Taylor’s Version), por ser co-escrita por Martin Johnson, vocalista da banda Boys Like Girls. Além disso, Drama Queen – também assinada pelo cantor – e Battle (Let’s Go) são dois descartes conhecidos pelos fãs que não entraram no álbum regravado. Junto deles, as versões acústicas de Haunted e Back To December foram também encontrar Long Live, com participação de Paula Fernandes, no quase literal cofre da loirinha.
No âmbito das regravações, a nova versão do terceiro álbum foi a que mais gerou controvérsias entre os fãs. Enquanto o relançamento de Fearless melhorou o disco original em todos os aspectos – vocais, produção e mixagem – e Red (Taylor’s Version) teve seus grandes pontos altos, como a versão de 10 minutos de All Too Well, e alguns baixos, como a perda de força nas faixas co-escritas por Max Martin, Speak Now (Taylor’s Version) sente falta da voz jovem e embargada de emoções da versão de 2010.
É necessário muito mais tempo para se acostumar e apreciar os vocais maduros da cantora nessas canções que há tanto tempo fazem parte do nosso repertório musical. Essa transição se torna particularmente notável em faixas como Last Kiss, em que a característica respiração trêmula na ponte desaparece, e em Enchanted, na qual, apesar da produção ganhar uma grandiosidade notável, os vocais ingênuos que anteriormente capturavam o encanto de um amor à primeira vista parecem se dissipar.
Outra mudança contraditória foi a alteração de uma frase polêmica do refrão de Better Than Revenge. A música que sempre foi conhecida, até mesmo pela própria cantora, pelo seu teor misógino teve em sua regravação uma reparação histórica: “Ela é mais conhecida pelas coisas que faz no colchão” se transformou em “Ele era uma mariposa para a chama, ela segurava os fósforos”. Por um lado, a mudança é uma forma de Swift passar uma mensagem diferente para as novas gerações; por outro, se Paramore pode cantar Misery Business com a consciência de seu significado pejorativo, a loirinha também é capaz.
Embora a perda das emoções à flor da pele da artista seja algo que apenas os grandes fãs irão notar, ainda mais por se tratar de algo fora do alcance da cantora de reproduzir, o novo nível técnico dos vocais faz valer a pena. Apesar de tudo, músicas como Mine e The Story Of Us ganham uma imensa qualidade, sobressaindo sua voz e praticamente se transformando em um instrumento junto com a produção, que está superior à original em todas as faixas.
Além destas, a quinta música do disco, Dear John, é outra que foi cuidadosamente regravada. A canção, que teve como inspiração o relacionamento da artista com o cantor John Mayer, ganhou um novo significado após o lançamento da Would’ve, Could’ve, Should’ve da versão 3am de Midnights, de 2022. Saber que esta relação de grande diferença de idade – Swift com 19 e Mayer com 32 – assombra a cantora até hoje em versos como “Eu me arrependo de você o tempo todo”, faz com que, ao ouvirmos a regravação, se sinta um gosto amargo ainda maior.
Enquanto isso, na seção From The Vault, temos como destaque a faixa I Can See You, com uma produção um tanto quanto diferente em relação ao resto do disco e até mesmo dos últimos trabalhos originais de Swift. Trata-se de um pop/rock delicioso à la Fleetwood Mac, mas com um toque do estilo de Daisy Jones & The Six. Como um todo, essa nova coleção de músicas teve como propósito celebrar a nostalgia da época com as participações de Fall Out Boy e Paramore, e mostrar que até mesmo os descartes da artista têm um valor significativo.
Com a The Eras Tour programada até o fim de 2024 – incluindo uma parada no Brasil em novembro deste ano – os próximos passos de Taylor Swift são incertos. Uma das certezas é o álbum 1989 (Taylor’s Version), anunciado durante seu último show dos Estados Unidos, com cinco faixas adicionais e diversas capas colecionáveis. Mas a questão é: irá Swift lançar as duas últimas regravações até o fim de sua turnê? Ou um disco de inéditas pode estar a caminho com a cantora entrando e saindo de estúdios? Nada se sabe ao certo, mas com certeza há um easter egg perdido com a resposta para todas essas perguntas.