Thuani Barbosa
Se você está procurando algo fofo e divertido, mas que tenha sua pitada de realidade e lição de vida, Red: Crescer é uma Fera é o filme certo. Mantendo uma estética focada nos anos 2000, a era dos tamagotchis e boy bands, a animação esbanja fofura, musicalidade e tradição. Lançado em março de 2022, o longa animado faz parte do conjunto de produções da Pixar com a Disney, assim como Luca, Soul e Viva: A Vida é uma Festa.
O filme, originalmente chamado de Turning Red, é comandado pela diretora e roteirista Domee Shi, responsável pelo curta-metragem Bao, que lhe rendeu um Oscar na categoria Melhor Curta-Metragem de Animação, em 2019. Já Red é sua estreia em longas na Pixar, cujo lançamento deveria acontecer nos cinemas, mas, devido à pandemia e ao crescimento dos catálogos de streaming, chegou diretamente no Disney+. A produção também foi o primeiro longa-metragem do estúdio a ser dirigido unicamente por uma mulher.
A trama se inicia apresentando a protagonista Meilin Lee (voz original de Rosalie Chiang e dublada por Nina Medeiros na versão brasileira), uma pré-adolescente canadense com descendência chinesa, espontânea, animada e extremamente amável. Mei tem fortes laços com sua família, principalmente sua mãe (voz original de Sandra Oh e dublada por Flávia Alessandra), e ambas cuidam do templo da família, dedicado aos ancestrais e aos pandas vermelhos, em Toronto. Ming se mostra uma mãe controladora e extremamente preocupada com o futuro de sua filha, deixando-a pressionada à perfeição, limitando o tempo de Mei-Mei às tarefas e filtrando as amizades da garota.
Entretanto, suas amigas Miriam (Ava Morse), Priya (Maitreyi Ramakrishnan) e Abby (Hyein Park) são parte fundamental da história. Simpáticas, excêntricas e fofas, elas possuem suas próprias paixões e estilos, como toda adolescente comum, mas são unidas pelo amor Philia. Após sua primeira transformação em panda vermelho, frustrada com a fera que a habita, Mei-Mei se descontrola e encontra no amor pelas amigas seu lugar de paz e tranquilidade. Contudo, o grupo das meninas se mantém firme não somente pelo poder da amizade, mas também pela boy band 4*TOWN.
As letras da banda 4*TOWN foram compostas pelos ícones do pop atual Billie Eilish e Finneas O’Connell, recém ganhadores do Oscar de Melhor Canção Original pela música No Time To Die. Os irmãos escreveram canções especialmente para o filme: Nobody Like U, o hit de maior sucesso, U Know What’s Up, uma canção de empoderamento, e 1 True Love, com uma letra mais romântica e melodiosa. Todas são cantadas pelos rapazes talentosíssimos: Robaire (Jordan Fisher), Aaron Z. (Josh Levi), Aaron T. (Topher Ngo), Jesse (o próprio Finneas O’Connell) e Tae Young (Grayson Villanueva). O papel do quinteto na trama está diretamente ligado ao amadurecimento das garotas, sua liberdade de expressar os sentimentos e admiração por seus ídolos, mesmo que questionados pelos pais.
Outro ponto de destaque para a animação é a diversidade facilmente encontrada em várias cenas e personagens, como no zelador muçulmano da escola, ou em Priya, que possui descendência indiana e recebe, por parte da direção, importância para com sua cultura e ancestralidade, atitude demonstrada em outras produções, como a já citada Viva, em que a atenção aos detalhes foi vista com a montagem dos altares e representações culturais. Tais qualidades foram colocadas a prova com a dublagem nacional, e com certeza reprovaram, pois a atenção que os produtores tiveram ao escolher dubladores que contemplassem a nacionalidade de seus personagens não tiveram qualquer consideração na versão brasileira.
Os gráficos utilizados também foram muito criticados pelos internautas, uma vez que a postura anterior da Pixar foi produzir filmes mais clássicos e com traços mais robustos, como a franquia Toy Story. Já a Disney, parceira nas criações, tem um lado mais versátil, focando em momentos diferentes. Portanto, a crítica dos fãs veio da fofurização do desenho, julgando que o estilo Pixar se aproxima mais de gráficos como os de Raya e o Último Dragão, que são menos caricatos, corroborando a ideia de inversão dos papéis entre as produtoras. Mas, a reclamação do público não está totalmente correta, uma vez que ela ignora a versatilidade da produtora.
Ao fim, a história mergulha em vulnerabilidade, mostrando o quanto cada pessoa tem suas feridas e como elas podem afetar gerações, reafirmando a frase dita no início: “Honrar os seus pais parece ótimo, mas se não tomar cuidado pode acabar não honrando a si mesmo”. Red: Crescer é uma Fera apresenta um diálogo atual sobre o amadurecimento e pressão social e familiar, e ainda assim consegue manter a graciosidade de uma menininha de 13 anos, com toda a sua espontaneidade e paixões. O longa animado deixa uma mensagem de liberdade, pois Meilin libertou sua fera interior e a deixou guiá-la. E você, vai abraçar a sua fera?