Mauê Salina Duarte
Quase Uma Rockstar chegou a Netflix no finalzinho de agosto, e já está fazendo barulho na plataforma de streaming. O filme é baseado no livro All Together Now, escrito por Matthew Quick, o mesmo autor de O Lado Bom da Vida. O longa tem direção de Brett Haley, diretor de Por Lugares incríveis. A mais nova produção cinematográfica tem estilo adolescente mas, não pense que se trata de romance platônico, líderes de torcida ou qualquer outro clichê do cinema americano teen. Aqui a história é outra: a adaptação de Quase Uma Rockstar mistura drama e amadurecimento, com doses de humor e romance.
Amber Appleton é uma jovem extremamente esperançosa e empática de 17 anos. Ela é musicista e excelente aluna, e seu sonho é ingressar na Universidade Carnegie Mellon. A personagem dá aulas de inglês para imigrantes coreanas de graça, ajuda em um lar de idosos, trabalha em uma loja de donuts e tem seu cãozinho Bobby Big Boy sempre ao seu lado.
Entretanto, seu sorriso esconde os dramas familiares que vive. A garota perdeu o pai anos atrás e a mãe, que é alcoólatra, está namorando um cara violento. A mãe ainda dirige um ônibus escolar que ela e a filha usam como moradia. Como se não bastasse tudo isso, a vida segue dando rasteiras na menina e assim o filme se desenrola.
A protagonista esconde seus dramas de todos, se afundando cada vez mais em si mesma, e acredita que deve resolver tudo sozinha. Porém, ao decorrer da história, entende que pode (e deve) aceitar ajuda de quem a ama. Amber é interpretada pela talentosíssima Auli’i Cravalho, conhecida por dublar a protagonista de Moana – Um Mar de Aventuras na produção infantil da Disney.
A atuação de Auli’i em Quase Uma Rockstar é encantadora. A jovem realmente sabe se aprofundar em um papel e passar emoção ao público, o destaque aqui é definitivamente ela. Todavia, um filme dificilmente se estrutura por completo em torno de um único personagem. Esse é o erro do longa, a maioria dos demais personagens não cativam.
Nem a mulherada do coral coreano nem os amigos de Amber conquistam o espectador, pois sequer tem suas histórias mostradas superficialmente. Desse modo é difícil criar um laço de proximidade com eles, comprometendo o envolvimento do público. A própria mãe da menina, interpretada por Justina Machado (que deu vida a Darci Factor em Jane The Virgin e Penelope Alvarez em One Day At a Time) não tem seu lado mostrado, o que seria muito enriquecedor à trama. A diversidade de personagens e elenco tinha tudo para ser um destaque, inclusive pela representatividade que possui. No entanto, Quase Uma Rockstar tem seu ponto negativo justamente no que mais brilharia caso fosse diferente.
Resumindo, o filme é bem bacana e comovente, porém, para quem leu a obra original de Matthew Quick, é um tanto decepcionante. Não é novidade para ninguém que na maioria das vezes o livro tem detalhes riquíssimos que não vão para o filme, contudo, a adaptação de Quase Uma Rockstar para o cinema peca demais nesse quesito. Deixando para trás personagens e outros dramas, que realmente podiam deixar qualquer um com lágrimas nos olhos.
Sim, o filme também é emocionante, mas sem dúvidas o livro o supera. Assim como na adaptação para o cinema do livro O Lado Bom da Vida, também escrito por Quick, Quase Uma Rockstar parece se apressar para o final. O enredo poderia conter mais detalhes, ganhando mais tempo no filme. Mas, apesar dos defeitos, a história de Amber merece ser conhecida.
Para quem quer passar um tempinho assistindo algo tocante e que deixe o coração quentinho, o longa é uma ótima sugestão. Caso deseje algo mais profundo e gostar de ler, a obra original é uma excelente pedida. A história é bem diferente dos atuais filmes teen, trazendo problemas reais. Sendo no livro ou no filme, não se nega que Amber muda a vida das pessoas com quem convive.
Seus amigos, os idosos e as imigrantes que ajudam, todos tem a vida tocada pela jovem, e até mesmo o público. A garota ensina aquela velha história de que os problemas existem, mas a esperança deve ser maior, e mais: receber ajuda não é sinal de fraqueza. Pode soar bobo, mas é verdade: Quase Uma Rockstar te faz sentir abraçado.