Laís David
Após dominar 2016 com a refrescante Lush Life e a elétrica Never Forget You, Zara Larsson se encontrou entre uma gravadora ineficiente e uma gama de músicas sem o êxito esperado. Lançando diversos singles na tentativa de engatar um disco e também paralisada pela pandemia, parecia cada vez mais difícil enxergar um lançamento completo para a carreira da sueca. No entanto, em 2021, ela finalmente conseguiu se desvencilhar dos adiamentos com Poster Girl, seu terceiro álbum de estúdio.
Ter um álbum de sucesso pode ser desafiador. So Good, primeiro lançamento mundial de Larsson, foi o trabalho que definiu sua carreira: ela conquistou um grande público mundial e se destacou como uma das principais apostas pop da Europa. Depois de um grande período de destaque, aparentava ser quase impossível lidar com as expectativas da gravadora e dos fãs sobre seu próximo álbum de estúdio. Originalmente planejado para lançamento em 2019, Poster Girl só viu a luz do dia dois anos depois. É uma boa adição em sua discografia, mas não consegue surpreender com seus momentos de mesmice.
A produção da obra é variada: por mais que conte com dezenas de colaboradores, como renomado produtor pop Max Martin, a compositora destaque Julia Michaels e o agora requisitado Ian Kirkpatrick, a sonoridade do álbum é a mesma em todas as músicas. Love Me Land é um delicioso dance-pop que mistura traços sombrios com a sensualidade do disco que, até o momento, Zara não tinha apresentado. Por mais que o som oitentista esteja em alta na indústria, a construção dos versos soa levemente frenética e foi uma arriscada opção de single – o álbum tem sons muito mais radiofônicos do que esse.
Infelizmente, Zara não consegue mostrar muita originalidade. Talk About Love é clichê demais até para ela. Os versos parecem replicados de um gerador de palavras que ecoam no Top 40 e a produção é genérica e cansativa. A adição de Young Thug é a cereja do bolo – adicionar um rapper para mais 30 segundos de bordões repetitivos é tão datado que Talk About Love parece mais um outtake adolescente, que se repete como um barulho cansativo em corredores de lojas de departamento. O mesmo acontece com I Need Love, o mid-tempo tenta ser emocionante, mas ultrapassa a superficialidade que a cantora tenta fugir durante todo o álbum.
Need Someone é a maior surpresa de Poster Girl. Sob um coral infantil e baixos nostálgicos interpolados de Tame Impala, ela repete como um mantra: “Estou feliz, eu não preciso de alguém/Estou feliz, mas eu quero você’’. É interessante enxergar um resquício de maturidade emocional na voz de Larsson. Já o europop Right Here suplica pela atenção de um amor desamparado em meio a propostas quase cômicas: “Eu poderia estar tocando o garçom/Tendo o pior comportamento/Mas eu estou bem aqui’’.
A presença de WOW na tracklist é controversa. Lançada como single promocional no início de 2019, a canção não foi divulgada e sequer teve um videoclipe. No fim de 2020, ela finalmente viralizou ao ser utilizada na soundtrack do longa-metragem estadunidense Work It. Talvez, sem o impulsionamento do filme, ela passaria longe do disco – e deveria, já que a produção é extremamente datada para a vibe pop e oitentista da obra. Com produção de Marshmello, ela passa longe de sucessos do DJ como Happier ou FRIENDS e acerta direto em um Summer Eletrohits de 2004.
O que mais surpreende é a composição divertidíssima na faixa-título Poster Girl. De início, pode parecer uma canção de amor comum, mas na verdade é uma alegoria sobre o uso recreativo da maconha. Para uma compositora não tão virtuosa como Larsson, é surpreendente ver uma música tão autêntica entrar dentro do trabalho da artista, já que ela nunca se aventurou tanto em falar de outros assuntos. Na faixa, ela descreve seus melhores momentos sob o efeito da droga: “Caramba/Eu quero a sua doce cura orgânica/Na ponta da minha língua”.
O verdadeiro destaque do álbum é a fenomenal Look What You’ve Done. A infusão de violinos misturam a superprodução pop de Steve Mac com um som vintage tirado de um LP do ABBA. Os vocais excepcionais trazem um sentimento inigualável dentro de Poster Girl: independência e amor próprio. É quase inevitável imaginar Zara sozinha em uma pista de dança enquanto entoa: “Não preciso de ninguém/Essa garota está se divertindo / Me veja pegar fogo”.
A linha visionária que trouxe Future Nostalgia de Dua Lipa para o mundo tenta ser seguida por Zara, mas parece se perder no meio de produções confusas e composições meia-boca. FFF parece ser uma versão mais pobre do synth-pop icônico de Pretty Please, enquanto a tentativa de performance acústica de Stick With You destaca os vocais de Larsson sob uma melodia maçante. O álbum é finalizado por What Happens Here – um fim decepcionante, desconexo e repetitivo.
Depois de anos de espera, Poster Girl é mais do mesmo que Zara entrega desde o início de sua carreira. Com os singles não lançados All the Time e Don’t Worry About Me, parecia que a cantora se desvencilharia de antigos vícios líricos em caminho da própria autenticidade, mas a obra completa mostra justo o contrário. Fica claro que, enquanto presa em um contrato puramente comercial, Zara não consegue mostrar sua verdadeira identidade artística. Mergulhada em clichês rasos sobre amor e sexualidade, ela mostra pouquíssimo de si mesma e, ao invés de entregar uma obra completa, entrega um compilado de singles que tocariam na rádio.
Poster Girl soa como algo que você gostaria se fosse melhor produzido: as canções não passam longe do conteúdo entregue por Dua Lipa ou Ariana Grande, mas não se consolidam como dignas de um replay. É talvez por isso que Zara se distancia cada vez mais das principais paradas musicais e do gosto do público. Agora, ela tem duas escolhas: aprofundar seu verdadeiro potencial como compositora e vocalista ou mergulhar em sua própria mediocridade.