Andreza Santos
3 gerações. A mesma casa. É assim que conhecemos a história de Porque as Mulheres Matam, nova série de Marc Cherry (também criador de Desperate Housewives e Devious Maids). A produção conta a história de três esposas em diferentes épocas cujas histórias têm algo em comum: a infidelidade e como elas reagem a ela. O diretor que sempre colocou as mulheres em destaque nas suas produções, surge novamente com uma antologia viciante, perspicaz e também divertida.
A abertura da série inspirada em quadrinhos mórbidos de esposas matando seus maridos é embalada pela lindíssima voz de Frank Sinatra cantando L.O.V.E.. Além dos créditos iniciais, a série tem uma direção de arte invejável, roteiro empolgante e plot twists bem interessantes, mas além da grande produção por trás das câmeras, podemos também destacar as excelentes atuações de seu elenco, especialmente das protagonistas. Beth Ann, interpretada pela Ginnifer Goodwin (de Once Upon A Time), é uma típica dona de casa dos anos 60, que descobre a traição de seu marido Rob (Sam Jaeger) com uma garçonete local e tenta fazer de tudo para conquistá-lo de volta.
A situação fica mais complicada quando Beth Ann decide se tornar amiga de April (Sadie Calvano) – amante do seu marido – a fim de tentar convencê-la a largar dele. Desta amizade cercada de interesses por parte da esposa, a garçonete descobre estar grávida, o que deixa Beth Ann mais abalada ao relembrar de um acidente fatal que levou sua filha. Conforme a história segue, Beth Ann se vê encurralada entre uma amizade sincera e um casamento infeliz, com o tabu do divórcio (algo muito presente nesta época), a morte de Rob parece ser a única saída encontrada por ela para pôr fim nesta história.
Na história de Simone, interpretada pela irretocável Lucy Liu (de Elementary) – em um dos melhores papéis de sua carreira –, ela é esposa de Karl (Jack Davenport) uma socialite dos anos 80, elegante e espalhafatosa, que descobre por acaso a traição de seu marido com outro homem. Entretanto, devido ao seu amor incondicional por Karl e também para não causar escândalo – e evitar um 4º divórcio –, ela decide manter as aparências para a sociedade.
O que ela não previu é que o filho de sua amiga Naomi (Katie Finneran) nutre uma paixão genuína por ela. Tommy (Leo Howard) se declara para Simone e, quanto mais ela tenta escapar deste relacionamento com alguém muito mais novo, mais envolvida ela fica, o que rende cenas cômicas entre os dois. O pulo no tempo de uma geração para outra dentro do mesmo episódio se torna algo bem trabalhado na narrativa e na direção de arte.
Trazendo elementos próprios das épocas, o que não incomoda pois tudo é muito bem escorado no roteiro de Por que as Mulheres Matam, deixando fácil acompanhar as 3 histórias simultaneamente. O drama, o mistério e o humor ácido formam uma combinação matadora que empolga, e a construção dos personagens secundários é bem desenvolvida, o que contribui ainda mais para a qualidade da série e também a resolução de Kill Me as If It Were the Last Time, o último episódio da temporada.
A história da 3ª protagonista se passa no tempo atual, precisamente no ano de 2019. E conta a história de Taylor, vivida por Kirby Howell-Baptiste (de Killing Eve) uma advogada, ativista e bissexual, com seu marido Eli (Reid Scott), que é escritor. Os dois mantêm um casamento aberto com uma única regra: ambos não devem se envolver emocionalmente com seus parceiros exteriores. Apesar disso, tudo muda quando Taylor traz sua nova conquista, Jade (Alexandra Daddario) para morar com eles temporariamente.
A chegada de Jade desperta algo em Eli e a relação se torna a três. Tudo é diversão, até o homem perceber a intimidade de sua esposa com a moça. Isso o deixa aflito e com medo de perder Taylor. Do outro lado da moeda, Jade – que saiu de um relacionamento conturbado – se aproxima muito de Eli quando Taylor não está por perto, e assim eles iniciam um caso à dois.
A manipulação de Jade em Eli é profunda, o que traz à tona um lado sombrio e dependente dele, que se revolta contra a própria esposa. E quando todos descobrirem os segredos que Jade esconde, pode ser tarde demais. O enredo do trisal talvez seja o com menor fôlego, no entanto, os plot twists que carregam a história até o fim são bem interessantes.
A série se torna algo viciante pois, ao fim de cada episódio o espectador anseia por mais até a chegada pela resolução final. E quando esta acontece, é de uma forma tão especial e requintada em formato de uma dança, numa sequência bem executada. É impossível não se chocar com as surpresas preparadas para concluir as histórias e também saber como serão a vida delas dali em diante.
Tratando de assuntos como aborto, feminismo, AIDS e a não-monogamia, Porque as Mulheres Matam convence em mostrar como as mulheres lidam com suas próprias complexidades e quais os limites que cada uma ultrapassa quando se trata da traição. Apesar de trazer estereótipos já explorados pela mídia, como a descoberta do marido gay e a traição no casamento, a ressignificação constante das histórias e a fuga do clichê é o que a difere de outras do mesmo gênero. A série, original da CBS All Access, é digna de maratona, conta com dez episódios e está disponível no Globoplay.