Mariana Chagas
O ano era 2020. Mês de abril. Foi nas primeiras semanas presos em casa que a Netflix veio ao nosso resgate com o seguinte convite: viajar para uma ilha paradisíaca com adolescentes decididos a achar um tesouro e quebrar todas as regras possíveis. Para aqueles que aceitaram e deram play na recém-chegada série, a vida nunca mais seria a mesma. Uma vez que você conhece Outer Banks, é impossível sair. Afinal, estamos falando do paraíso na terra, como diria John B.
E a viagem foi, de fato, divina. Apesar de parecer apenas outra história coming-of-age, Outer Banks impressionou com um roteiro que se torna cada vez mais viciante, crescendo de um simples mistério para algo bem maior. É o tipo de programa que sempre te deixa com vontade de ver só mais um episódio, até que você olha para a janela e percebe que, ops, já amanheceu.
Dessa forma, o quinteto conquistou uma multidão de fãs. Viver como um pogue se tornou um estilo de vida que muitos querem ter – fala sério, quem não daria de tudo para ter mais tempo na praia do que nas salas de aula? O sucesso da série foi tanto que ela logo virou uma das mais populares da plataforma. Rapidamente, a Netflix confirmou a renovação e a espera pela continuação começou.
A segunda temporada foi produzida durante a pandemia. Com tanta expectativa e inconveniências, os atores sabiam que precisavam de um roteiro que elevasse ainda mais a qualidade para conseguir suprir as esperanças dos fãs, como conta Chase Stokes em entrevista com o cast. E não é que eles conseguiram? Com tantas chances de decepcionar, OBX, mais uma vez, surpreendeu.
Depois do final emocionante onde o grupo é dividido em dois, o trio de pogues acredita que o casal amigo foi levado pela tempestade e carregado para as profundezas do mar. É em um ambiente de luto que se inicia os primeiros minutos, mas não demora muito para Sarah Cameron (Madelyn Cline) e John B (Chase Stokes) surpreenderem com a notícia de que estão vivos e iniciarem a longa lista de personagens que voltaram dos mortos – será que alguém vai realmente morrer em Outer Banks? Deixo aqui o questionamento.
Decididos a voltar para casa, os pombinhos enfrentam aventuras que os unem mais do que nunca. A dupla que conquistou o coração do público tem uma química que ultrapassou as telas, trazendo o romance para a vida real. Madelyn e Chase estão juntos desde as gravações da primeira temporada e, apesar de tentarem, nunca foram bons em esconder o namoro.
“Ainda era novo. Então eu acho que a gente queria aproveitar primeiro”, comentou a atriz em entrevista sobre o motivo de terem decidido manter a privacidade no início. Mas, para a felicidade do fandom, ambos não escondem mais que estão unidos e felizes. Quando ganharam o prêmio de melhor beijo no MTV Awards, se beijaram na frente de uma multidão com sorrisos mais verdadeiros do que qualquer atuação poderia ser.
Apesar de dividirem bem os sentimentos reais dos fictícios, o amor deles escorrega para as gravações, enriquecendo a atuação dos artistas. Em uma cena onde a vida de Sarah corre risco, as lágrimas e tristeza de Chase não apenas pareciam, mas eram reais. O ator confessa ter imaginado perder a parceira, o que resultou em boas 8 horas chorando mesmo após o fim das filmagens do dia. Não tem como não shippar esses dois.
Mas se o romance é um dos principais pilares da temporada, o suspense e a aventura com certeza a sustentam também. Enquanto a busca pelo ouro continua, outro tesouro surge para chamar a atenção dos jovens. Envolvendo o passado de Pope, o novo mistério traz mais relevância e protagonismo para o personagem.
Jonathan Daviss, que interpreta o garoto, não falha em provar constantemente o quão profundas são as questões do adolescente com sua ancestralidade. Abordando escravidão e libertação, Outer Banks não precisa forçar discursos prontos ou clichês para homenagear a luta negra que tanto sofreu para garantir os direitos que essa população tem hoje.
Tal força que corre pelo sangue do menino é demonstrada desde a primeira temporada, nas diversas cenas em que Pope vai contra seus próprios amigos para correr atrás de oportunidades para o seu futuro e seus estudos. Apesar das eventuais brigas, o esforço do jovem é motivo de orgulho para seus pais.
Quem falha constantemente em obedecer a sua família, por outro lado, é Kiara. A menina, vivida por Madison Bailey, tem uma das mães mais compreensíveis, mas consegue tirar ela do sério com atitudes completamente infantis. Perdendo as chances de ter conversas sinceras e tranquilas, a adolecente insiste em argumentos que nenhum casal sensato levaria a sério vindo de uma garota de 16 anos. Você diz que seus pais não te entendem, Kie, mas você não entende seus pais.
E quem leva o prêmio de ter o pior responsável é JJ. O queridinho dos telespectadores usa do seu jeito sarcástico e descontraído para esconder as dores causadas pelo abandono e abuso que sofreu de seu pai. Taylor Jenkins Reid uma vez disse que nós amamos pessoas bonitas e quebradas e talvez seja por isso, então, que o papel de Rudy Pankow seja tão adorado pelos fãs do seriado.
Sem desperdiçar as individualidades de cada um, a amizade do grupo é construída. No meio de brigas, choro e muito amor, os pogues nos conquistam de pouquinho em pouquinho. Eles mostram a importância da amizade e de relações estáveis independente da situação. Quando tudo parece dar errado, a certeza que um tem do amor do outro mantém a paz dos adolescentes.
Por conta de tudo isso que o reencontro do grupo é uma das melhores, se não a melhor, parte da segunda temporada de OBX. Em uma entrevista onde tinham que destacar as cenas mais selvagens que gravaram como pogues, Madelyn confessou que a reunião foi uma das mais divertidas de serem feitas. “É sempre incrível ter nós cinco trabalhando juntos”, acrescentou Chase.
Quem roubou a cena e se estabilizou como o destaque da temporada foi Rafe. O personagem, que mal era secundário no começo, teve um crescimento maior do que se pudesse esperar. Graças a Drew Starkey, conseguimos ver o irmão mais velho de Sarah se tornando um vilão muito difícil de odiar.
Completamente influenciado pelo pai, Rafe vai se afundando em um poço cada vez mais complicado de sair. Todos os crimes cometidos se juntam no ponto em que o garoto começa a duvidar da sua própria sanidade. É com muita sutileza que o adolescente vai, literalmente, enlouquecendo. A atuação impecável de Drew nos permite ver com sensibilidade o caos que se instala na cabeça de Rafe, e isso o consome tão lentamente que é doloroso de assistir.
Além dos personagens e seus atores que sabem dar conta do papel, a fotografia nos deixa hipnotizados. Outer Banks é, na realidade, Charleston. A cidade mais antiga na Carolina do Sul é de tirar o fôlego por suas paisagens maravilhosas e praias com água cristalina. Nas mãos de Janes Pate, Cherie Nowlan e Valerie Weiss, a direção capta o mais belo do pôr-do-sol em cenas que ficam eternizadas na cabeça de quem vê.
Ampliando as gravações para as Bahamas, a mansão em que ocorrem várias partes de ação é uma das mais caras da região, avaliada em 200 milhões de dólares. Não é de surpreender, então, que entre os seus visitantes esteja ninguém mais, ninguém menos que Elton John. Certamente, um ótimo lugar para esconder o ouro encontrado – ou melhor, roubado – por Ward.
A trilha sonora é digna de playlist do Spotify – e digo isso como um elogio. As músicas alegres que acompanham os jovens são perfeitas para escutar bem alto em uma noite de verão com os amigos, então a escolha não poderia ter sido outra. Toda a história é construída com elementos que nos deixam com uma vontade absurda de pegar um ônibus e fugir em direção à praia mais próxima.
Terminar de assistir os 10 episódios é como voltar às aulas depois das longas e alegres férias de verão de quando tínhamos oito anos. É deixar toda a inocência, euforia e tranquilidade para trás quando sobem os últimos créditos. É falar tchau, mais uma vez, para o nosso grupo favorito de amigos caóticos e apaixonados. O final da segunda temporada só nos deixa mais ansiosos para continuar acompanhando a jornada de Pope, JJ, Sarah, Kie e John B. Até lá, nos despedimos novamente do paraíso na terra, Outer Banks.