2020 começou chutando as portas dos eventos inéditos. No Oscar, Parasita abocanhou a estatueta mais importante da noite; no Grammy, Billie Eilish quebrou um recorde de 39 anos e se tornou a primeira mulher a ganhar o Big Four, os quatro prêmios principais, em uma mesma noite (Álbum do Ano, Gravação do Ano, Música do Ano e Artista do Ano).
E um pouco depois disso o mundo acabou.
A partir de março nos vimos num limbo temporal e espacial, onde a arte era a nossa melhor amiga, nossa única distração, nossa única oportunidade de viajar, e tudo mais que você já deve ter cansado de ler nesse ano. Sem a possibilidade de fazer shows, assistimos pequenos e grandes artistas se virarem nos 30 com lives diversas. Os nomes gigantes do mainstream perderam uma receita ou outra nesse tempo, mas é com os independentes que devemos nos preocupar. Sem dinheiro não há música, e é agora que saberemos as consequências reais disso tudo. Por enquanto, só podemos esperar que as promissoras vacinas façam o segundo semestre de 2021 seguro o suficiente para retornarmos com os shows.
Para os que tinham estrutura e condições de produzir em casa, 2020 foi mais interessante. Charli nos deu o colaborativo how i’m feeling now e Taylor surpreendeu o mundo com seu folklore e o novíssimo evermore (e dizem as línguas que a terceira irmã está vindo). No Brasil, vimos artistas como Silva, Sandy e Adriana Calcanhotto também lançarem seus projetos frutos do isolamento social.
O dia infinito que foi 2020 ainda trouxe mais uma porrada de coisas: a volta bíblica de Fiona Apple e a primeira nota 10 em uma década, da impiedosa Pitchfork; a xenofobia sofrida por Rina Sawayama ao ser considerada ‘não elegível‘ para o British Music Awards mesmo sendo britânica; o racismo sofrido por The Weeknd ao não ser indicado ao Grammy 2021 nas categorias principais; a febre de documentários de artistas (Ariana Grande, Shawn Mendes, BLACKPINK, Taylor Swift…); e tantos outros acontecimentos.
Justin Timberlake já dizia em seu The 20/20 Experience: o ontem é história e o amanhã é um mistério. Se 2021 vai ser melhor? Torcemos que sim. Por agora, você pode conferir Os Melhores Discos e EPs que salvaram o apocalíptico ano de 2020, elencados pela Editoria do Persona e por nossos colaboradores.
Raquel Dutra
Nenhum lugar foi capaz de proporcionar maior consolo e conexão em 2020 como a música. Taylor Swift talvez tenha sido a artista que mais compreendeu isso e as necessidades atípicas do ano. Mudando totalmente sua estética e sonoridade, mas nunca a sua essência, em agosto, de surpresa, ela nos presenteou com as histórias íntimas e aconchegantes de folklore, e ganhou o mundo inteiro com ele. Já rasguei elogios para o álbum aqui, então, agora, vou me contentar em coroá-lo com meu primeiro lugar. Só que, não satisfeita, a fome criativa de Swift ainda dividiu conosco a irmã mais nova, mais solta e animada do primeiro álbum, evermore, como uma forma de celebrar seu aniversário de 31 anos (que não vai repetir o nome de Taylor no meu top 5, mas vale a lembrança). Outra menção honrosa é CTV3: Cool Tape Vol.3, disco lindo do Jaden, que consegue colocar em canções a doçura do amor, as delícias de viver, a liberdade da vida e a paz de assistir um pôr-do-sol.
Chegando nas mais alegrinhas, YHLQMDLG do Bad Bunny quase começava a tocar sozinho quando era hora da faxina ou de lembrar para o meu corpo o que era a vitamina D e a endorfina com uma caminhada pelo quarteirão. No maior país da América Latina, o ano foi de Marcelo D2 e Assim Tocam os MEUS TAMBORES. A obra-prima do artista transcende a ideia de um registro fonográfico tradicional, concretizando um trabalho transmídia grandioso em significado, identidade e importância para a produção cultural brasileira.
De volta ao top 3, dominado pela calmaria necessária para domar a ansiedade de 2020, a serenidade, constância e charme de Lianne La Havas também me capturaram, especialmente com Green Papaya, Please Don’t Make Me Cry, Sour Flower e, claro, a majestosa Bittersweet. O esperado ALICIA também merecia um lugar nesta lista só pela sua carro-chefe, Underdog. Ela vem ao lado de delícias como So Done, Gramecery Park e A Beautiful Noise, e também das batidas mais sexys de 3 Hour Drive e Show Me Love. O hino aos ‘oprimidos’ ainda se junta à injeção de ânimo que Keys direciona aos corações, corpos e mentes cansados em Good Job; e, assim, a artista transfere todo seu calor e esperanças divinos para quem teve um ano especialmente difícil. “Você está fazendo um bom trabalho” e “Continue se prendendo ao que você ama”, ela canta em apoio aos sobreviventes do ano da pandemia, e ainda deixa um verso que é quase uma promessa para 2021: “Muito em breve você irá se erguer.” Amém, Alicia.
Discos Favoritos: 1. Taylor Swift – folklore / 2. Alicia Keys – ALICIA / 3. Lianne La Havas – Lianne La Havas / 4. Marcelo D2 – Assim Tocam MEUS TAMBORES / 5. Bad Bunny – YHLQMDLG
Elder John
Apesar das dificuldades de 2020, o rap nacional se mostrou muito presente no quesito de lançamentos, com grandes nomes da cena se destacando. Falar sobre o BK’, Djonga e Rashid é redundante, cada um no seu estilo, com assuntos importantes e a qualidade que já conhecemos.
Ainda devo ressaltar Diomedes Chinaski se colocando no mesmo patamar. Prometeu o disco do ano e trouxe um produto completo: conceito, musicalidade e relevância.
Por outro lado, no funk tivemos muitos lançamentos importantes, com o Hariel sendo um dos poucos que incorporaram a cultura dos discos. Normalmente, os artistas só lançam singles, como foi o caso do MC Paulin da Capital, um dos principais nomes do gênero que não pôde aparecer na lista.
Discos favoritos: 1. BK’ – O líder em movimento / 2. Diomedes Chinaski – Crocodiloboy / 3. Djonga – Histórias da Minha Área / 4. MC Hariel – Avisa que é o Funk / 5. Rashid – Tão Real
Ana Laura Ferreira
Mais do que nunca, a música embalou nossas vidas em 2020, ressignificando ou até mesmo dando significado aos difíceis momentos que enfrentamos. E, apesar da divulgação interrompida, adiamento de shows e uma grande incógnita que ainda permanece, é reconfortante saber que, mesmo assim, as trilhas sonoras não pararam. Em meio a diversos álbuns, os que, para mim, se destacam foram aqueles que trouxeram intimismo, profundidade e também alegria para a quarentena.
Queria poder citar dezenas de discos que escutei repetidamente, contudo, confesso que foi fácil decidir o top 3. No topo está o álbum surpresa mais falado dos últimos meses: folklore trouxe uma Taylor Swift mais aberta, crua e livre como nunca visto antes. Seu irmão gêmeo, evermore, ficou com o terceiro lugar por atingir o mesmo nível de perfeição que o primeiro, mas ainda não ter conquistado um espaço tão grande em meu coração quanto a sinfonia em branco e preto.
Entre os dois está After Hours, que, mesmo não sendo o número um por conta do meu gosto pessoal, é, sem dúvida alguma, o melhor álbum de 2020. Dançante, incisivo e atemporal, essa é a obra que nos lembraremos quando perguntarem sobre o ano da quarentena. E, junto ao The Weeknd, Dua Lipa e Don’t Start Now marcaram as rádios mundo afora. Entretanto, não poderia, de forma alguma, deixar passar o renascimento de Selena Gomez em Rare, mais linda e empoderada do que nunca.
Discos favoritos: 1. Taylor Swift – folklore / 2. The Weeknd – After Hours / 3. Taylor Swift – evermore / 4. Dua Lipa – Future Nostalgia / 5. Selena Gomez – Rare
Jho Brunhara
Até então, Ellie Goulding se encontrava em uma posição desconfortável: depois do insosso Delirium (2015), a cantora perdeu o interesse dos amantes do pop, ao mesmo tempo que passou a soar genérica demais para manter o interesse do mundinho alternativo. Esse talvez seja um dos motivos que justificam Brightest Blue ter passado tão despercebido em 2020, mesmo sendo o trabalho mais coeso, íntimo e sincero da artista. A outra razão pode ser a terrível exigência da Polydor Records em favorecer os featurings ultrarradiofônicos da segunda parte do CD, em vez de divulgar o projeto em si. Agora é tarde, e de gravadoras incompetentes o mundo está cheio, Ellie infelizmente não será a primeira nem a última a passar por isso. Mesmo com essa pista de obstáculos, Goulding entregou o melhor projeto da sua carreira e se coloca de volta ao mapa: Brightest Blue transborda honestidade, melodias de encher a sala e um sinal claro de que a mente por trás do Halcyon (2012) não perdeu uma gota sequer de sua visão e talento.
O ano também foi delas: Chloe x Halle provam que o R&B e o pop podem andar lado a lado sem depender dos mesmos recursos de sempre. As irmãs apadrinhadas por Beyoncé deixaram a inocência de lado para o maravilhoso Ungodly Hour. Já Troye Sivan e Christine and the Queens brilharam com seus respectivos EPs. In A Dream é uma viagem pela mente de um Troye despido de toda a parafernália superproduzida de seus projetos anteriores, e mostra sua força como compositor. La vita nuova consolidou mais uma vez Christine como uma das vozes para se ficar atentíssimo, e a faixa-título com Caroline Polachek é uma das melhores coisas proporcionadas por 2020.
Por fim, chegamos em Georgia. A talentosíssima compositora e produtora britânica abriu o ano passado, em janeiro, com Seeking Thrills. A artista é claramente influenciada por Robyn, e talvez, nas devidas proporções, About Work The Dancefloor é uma prima muito próxima (e mais feliz) de Dancing On My Own. Regado a paixão e sintetizadores, o disco é um dos imperdíveis de 2020. Menções honrosas: o cheio de juventude Kid Krow, de Conan Gray; o genuíno SAWAYAMA, de Rina Sawayama; o flashback futurista Future Nostalgia, de Dua Lipa; e o avassalador Punisher, de Phoebe Bridgers.
Discos favoritos: 1. Ellie Goulding – Brightest Blue / 2. Troye Sivan – In A Dream (EP) / 3. Chloe x Halle – Ungodly Hour / 4. Christine and the Queens – La vita nuova (EP) / 5. Georgia – Seeking Thrills
Henrique Gomes
O ano de 2020 na música e a música no ano de 2020, uma dicotomia confusa, porém gritante quando se olha em retrospecto. Se trata da divisão entre sons que te levam para um campo de paz e conforto em tempos difíceis, e sons que te mostram o caos mundial impresso em cada detalhe. Na linha dos acalantos, o disco Philadelphia, de Shabason, Krgovich & Harris, caiu como uma luva ao manusear o ambient, o new age, o R&B e o jazz para moldar um retrato minimalista e sutil do cotidiano.
Outro álbum foi o Decision Time, de Charles Webster, em que o deep house é dilacerado entre sons de trip-hop e ambient, com as mais variadas influências, seja na bossa-nova ou no blues, cada detalhe do som gera uma meditação sombria e necessária. Um disco como Alfredo, de Freddie Gibbs & The Alchemist, serviu como um devaneio ao ouvinte, em que o produtor e o rapper dialogam e executam o conceito nu e cru do hip-hop entre beats, flows e participações variadas, levando o espectador para longe dentro de suas ambiências e texturas cinemáticas, narradas sob a voz tão raivosa quanto serena do rapper de Indiana.
O outro lado da moeda são os sons experimentais, barulhentos, porém belos. Como, por exemplo, o SAWAYAMA, de Rina Sawayama, em que a cantora/produtora faz um casamento entre o nu-metal, hyperpop, dance, entre várias outras influências, enquanto discorre sobre sua identidade, soando como algo extremamente caótico e criativo dentro do pop. Para finalizar, o que há de mais fiel ao que passa pela cabeça de qualquer um durante uma desordem mundial é o disco Piorou, de Tantão e os Fita. O trio rasga todas as possibilidades de adequação à lógica ao fazer músicas completamente desordenadas e barulhentas dentro da instrumentação eletrônica e industrial. A fragmentação de frases e repetição de termos são extremamente profundas quando colocadas nesse contexto sonoro e social. Eis o som de um trauma. Deixo também minhas menções honrosas: Fontaines D.C – A Hero’s Death; The Koreatown Oddity – Little Dominiques Nosebleed; Lianne La Havas – S/T; Destroyer – Have We Met; 100 gecs – 1000 gecs and The Tree of Clues; Cícero – Cosmos; e Dehd – Flower of Devotion.
Discos Favoritos: 1. Tantão e os Fita – Piorou / 2. Freddie Gibbs & The Alchemist – Alfredo / 3. Rina Sawayama – SAWAYAMA / 4. Charles Webster – Decision Time / 5. Shabason, Krgovich & Harris – Philadelphia
Vitor Evangelista
Já virou costume meu abrir as listas de fim de ano condecorando os trabalhos que não passaram do corte, então vamos lá. Depois de florescer, Troye Sivan se aventurou pelos sonhos. Lauv usou dos clichês para expressar com alívio sentimentos da solidão. Conan Gray saiu do ninho. E, do tédio do isolamento social, Charli XCX dedilhou inspirações fenomenais. Vocês se lembram do álbum sensual que Ariana Grande prometeu com seu lançamento de 2020? Pois bem, foi Kali Uchis quem o entregou. Sin Miedo liquidifica o lado sexy da cantora, brindando nossos ouvidos com uma parafernália de influências latinas, sem nunca deixar de lado sua assinatura classuda. la luz(Fín) já nasceu clássico.
Antes de pintar os cabelos de vermelho e se aventurar pelos sete mares, Halle teve tempo de nos hipnotizar ao lado da irmã Chloe no R&B mais possante do ano. A hora ímpia a que a dupla tanto se refere em Ungodly Hour é o melhor momento do dia. Elas são tão charmosas e inebriantes confessando um assassinato em Tipsy quanto implorando pela saída fácil de uma relação dolorosa em Don’t Make It Harder On Me. O quarteto britânico The 1975 deu adeus às estribeiras e, ao invés de lançarem um disco, o resultado final de Notes on a Conditional Form soa como uma playlist (mas sempre de muito bom gosto). Jesus Christ 2005 God Bless America e If You’re Too Shy (Let Me Know) concentram o suco do talento dos músicos.
E não foram apenas as irmãs Bailey que merecem o Tocantins inteiro em 2020. As HAIM, instrumentalistas estudadas e artistas louváveis, liberaram Women in Music Pt. III cantando sobre namoros ruins, jornalistas mal intencionados e, o mais importante, sobre elas mesmas. O ano não nos entregou nada melhor que The Steps, música para ouvir com o fone no volume máximo e tocando bateria no ar. O pódio é reservado para a cantora com o melhor desempenho na hora de criar músicas-reflexo de sua própria alma. Phoebe Bridgers é mestre em transformar os anseios da depressão e do desconforto em canções espirituais, suas letras específicas crescem pela honestidade. Seu Punisher exorciza 2020. No fecho de I Know The End, Phoebe grita até os pulmões sangrarem, e, ao som de seu lamurio libertador, damos adeus junto dela.
Discos favoritos: 1. Phoebe Bridgers – Punisher / 2. HAIM – Women in Music Pt. III / 3. The 1975 – Notes on a Conditional Form / 4. Chloe x Halle – Ungodly Hour / 5. Kali Uchis – Sin Miedo (del Amor y Otros Demonios) ∞
Leonardo Teixeira
A música salva – em 2020, mais do que nunca. Um dos grandes assuntos musicais do ano passado foi o revival da disco music (como se a dita cuja tivesse morrido algum dia). Dentre várias versões manjadas do som imortalizado por Donna Summer, Giorgio Moroder e Nile Rodgers, dois lançamentos se destacaram. O groove sensual da britânica Jessie Ware em What’s Your Pleasure?, e a veterana Róisín Murphy, com o desafiador e aventureiro Róisín Machine. Só por essas duas, o ano já estava ganho.
Mas teve muito mais coisa boa. Dar play em Set My Heart on Fire Immediately é ouvir o som do peito atordoado de Perfume Genius se rasgar todinho, uma das experiências imperdíveis do ano. Enquanto isso, Chloe x Halle mostraram que sabem a que vieram com o seu Ungodly Hour; o homônimo de Lianne La Havas foi pura perfeição acústica; me apaixonei por Bad Bunny, o maior, mais estiloso e prolífico nome da música latina atual; e Thundercat deu o nome com o soul/funk bem-humorado e cheio de experimentações de It Is What It Is.
Experiências mais curtas também ganharam meu coração em 2020. Os EPs de Christine and the Queens, Shygirl, Tkay Maidza e Troye Sivan foram grandes vitoriosos, enquanto CORPO SEM JUÍZO, a estreia da Jup do Bairro, injetou as doses cavalares de força que tanto precisei. O mantra “All you need is love/Tenho tanto pra te dar” deu o tom de um ano que começou esperançoso, desmoronou lá pelo terceiro mês, mas fechou bem, cheio de amor por aqui.
Discos favoritos: 1. Jessie Ware – What’s Your Pleasure? / 2. Perfume Genius – Set My Heart on Fire Immediately / 3. Róisín Murphy – Róisín Machine / 4. Bad Bunny – YHLQMDLG / 5. Lianne La Havas – Lianne La Havas
Giovana Guarizo
Como uma boa selenator, eu não poderia deixar de exaltar o álbum da minha artista favorita. Depois de quatro anos, Selena Gomez finalmente lançou Rare, o qual eu não parei de ouvir o ano todo (é sério, todas as músicas do disco estão na minha retrospectiva do Spotify). Repleto de mensagens sobre autoconfiança, amor próprio e superação, foi um dos álbuns pop mais aclamados neste ano caótico. Apesar dela seguir o conceito de “raro” e ser a única a não divulgar um novo trabalho, no meu ano, ele fez sentido em momentos psicologicamente necessários. Mas, por incrível que pareça, Rare, na verdade, é o meu top 2. O top 1 só poderia ser de The Weeknd. Tudo vindo dele brilha, mas After Hours é, de longe, o melhor que ele já nos concedeu. Um CD que se difere por se inspirar nos anos 80, mas que não consegue largar o R&B atual. Sem contar que o cantor manteve um fantástico personagem desde o final de 2019, o qual perdura até agora. Uma era longa, mas que, com certeza, valeu a pena ser vivida. Abel Tesfaye trouxe o que eu precisava na sua penumbra musical. Na calada da noite, eu ouço Too Late sem parar.
Um artista que entregou tudo e se revelou ainda mais esse ano foi Joji. O eterno pink guy transferiu a autenticidade dos seus vídeos do Youtube para a música, e eu amei. O álbum Nectar reuniu 18 músicas impecáveis e que me viciaram logo de cara. Eu já não parava de ouvir o BALLADS 1, de 2018, e com o disco de 2020 tive a mesma reação. A loucura de Joji me anima e o novo CD é, sem dúvidas, uma experiência valiosa. O cantor japonês me dá altas expectativas e me deixa ansiosa para futuros projetos.
No cenário nacional, não teve como não me impactar com O líder em Movimento, do rapper BK’. A faixa Pessoas é a minha favorita, ouso dizer que a melhor do CD, e com o sample de Minha Gente de Erasmo Carlos ficou realmente difícil errar. O disco é um grito antirracista, necessário e que, definitivamente, me fez passar horas ouvindo essa aula. E, como de costume, não consegui passar o ano sem as sofrências. Dessa vez, de um jeito mais animado, com Barões da Pisadinha. Os baianos encantaram o Brasil e lançaram o DVD Novo dos Barões da Pisadinha Ao Vivo, o qual é cheio de sucessos. Foi praticamente impossível não dar ouvidos ao trabalho deles nas rádios ou no topo de qualquer plataforma de streaming. Uma dupla que tem muito pela frente e que, se depender de mim, o stream continua em 2021.
Discos favoritos: 1. The Weeknd – After Hours / 2. Selena Gomez – Rare / 3. Joji – Nectar / 4. BK’ – O líder em Movimento / 5. Barões da Pisadinha – DVD Novo dos Barões da Pisadinha Ao Vivo
Vitória Lopes Gomez
Pra sobreviver o filme de terror que foi o ano passado, só com uma boa trilha sonora, o que não faltou em 2020. Tentando organizar um pódio de álbuns, sofri por ter de deixar muitos de fora. Para começar, não consegui não coroar The 1975 em primeiro lugar, talvez por ser fã de longa data, talvez porque Notes on a Conditional Form é o álbum mais desafiador que tive o prazer de tentar entender. Passeando por gêneros e sonoridades, sem se preocupar com a coesão, a banda entrega uma bagunça, no melhor sentido: ao mostrar sua versatilidade, a cada faixa, The 1975 evoca e inspira uma emoção diferente, e torna cada play em Notes uma experiência única. O grupo inglês, ainda, foi a inspiração para o The Aces conceberem o meu segundo lugar, o Under My Influence. Misturando solos de guitarra e melodias pop dançantes como acompanhamento para retratar os problemas, as inseguranças e as belezas da juventude moderna, o álbum torna-se ainda mais pessoal ao ser cantado pela banda de mulheres LGBTQ+.
E no ano atípico (que provavelmente é a palavra mais falada em 2020), aproveitei para explorar novos gêneros, e me rendi ao folklore. Que Taylor Swift é uma força eu já sabia, mas mergulhar nas letras honestas e intensas escritas por ela me fez sentir de tudo um pouco e a ficha caiu. Quem explorou outros estilos também foi Machine Gun Kelly, de quem eu não era grande fã até ouvir seu novo trabalho, Tickets to My Downfall, que difere das produções antigas do rapper e ganha meu quarto lugar. O álbum traz letras descontraídas e outras brutalmente honestas, sempre embaladas por um divertido e estimulante pop punk, à la blink-182.
O meu quinto lugar (que só ficou nessa posição porque fiz um uni-duni-tê para elencar) vai para Cool Tape Vol. 3 do Jaden, que me fez querer dançar pela rua, me apaixonar e mudar o mundo, tudo ao mesmo tempo. Infelizmente, quarentenada em casa, tudo o que eu pude fazer foi balançar na sala ao som das batidas animadas e encarar o teto pensativa enquanto escutava o artista cantar sobre o amor. Ainda, em uma menção honrosa, lembro do EP In a Dream do Troye Sivan, que surtiu o mesmo efeito em mim. A torcida é para que, em 2021, as danças não fiquem restritas às nossas salas de estar.
Discos favoritos: 1. The 1975 – Notes on a Conditional Form / 2. The Aces – Under My Influence / 3. Taylor Swift – folklore / 4. Machine Gun Kelly – Tickets to My Downfall / 5. Jaden – Cool Tape Vol. 3
Gabriel Gomes Santana
Há quem diga que 2020 foi o ano das trevas, mas o capeta também trouxe coisas boas. Os ‘cidadãos de bem’ que me desculpem, Power Up veio com tudo na primeira posição por ser um clássico! Sim, estou falando do disco de retorno de uma das maiores bandas de rock já existentes: AC/DC. Com treze faixas que farão você querer entrar em êxtase, os velhinhos Brian Johnson, Phil Rudd, Clif Williams, Angus e Steve Young ainda sabem como fazer uma “sonzera” como poucos!
Na mesma pegada, James Hetfield nos relembrou o porquê de sua originalidade. O mais novo álbum, S&M2, reúne o que há de melhor entre harmonias completamente opostas: metal e música clássica. Em terceiro lugar neste ranking, Jorge e Mateus invadiram meu coração através do mais recente EP: T.E.P, mostrando que se o nosso coração estiver em paz, não há o que se preocupar.
evermore de Taylor Swift foi essencial em 2020. Além de trazer um novo conceito artístico com o clipe willow, o álbum trouxe a confirmação que todos suspeitavam: Taylor é corinthiana. Só por isso, a artista já ganhou meu coração. Para fechar com a sensação de ser mais poderoso, esse top 5, com certeza, merece a participação de Avisa que é o Funk e do single Ilusão (Cracolândia). O MC Hariel fez um funk consciente sensacional e, por isso, encontrou espaço dentro da minha playlist de 2020.
Discos favoritos: 1. AC/DC – Power Up / 2. Metallica – S&M2 / 3. Jorge e Mateus – T.E.P / 4. Taylor Swift – evermore / 5. MC Hariel – Avisa que é o Funk
Gabriel Leite Ferreira
Em 2020, o tempo para se dedicar a ouvir álbuns inteiros foi abundante. Afinal, passei a maior parte do ano em casa, no meu quarto. Logo no começo do ano, fui arrebatado por Fetch the Bolt Cutters, o 5º e mais aguardado disco de Fiona Apple. E ela segue ditando suas próprias regras: criou um álbum inegavelmente pop, mas com organicidade. Fetch é um organismo vivo, onde Fiona nos convida a adentrar como nunca fez antes.
Outra popstar que privilegiou o intimismo foi Charli XCX. Em um dos primeiros discos lançados durante a pandemia, ela contou com a ajuda de fãs através de chamadas pelo Zoom e construiu seu álbum mais vulnerável e mais barulhento. how i’m feeling now desvela outras camadas do som da britânica, adicionando ainda mais ruído ao pop hiperaçucarado. Piorou, novo disco do trio industrial/eletrônico Tantão e os Fita, também maximizou tendências extremas. O resultado? Um caldeirão de sons rascantes que evocam a velocidade brutal da vida mediada pelas redes sociais em meio ao caos do governo Bolsonaro. Tudo isso sem perder o groove e a irreverência. Um feito para poucos.
40º.40, estreia do rapper carioca SD9, evidencia os contrastes por vezes mortais da vida à margem da sociedade: crime e sexo, bailes funk e operações policiais, sol quente e sangue frio. Além da destreza lírica, impressiona a versatilidade do MC, que se sai muito bem tanto em canções de temática mais tradicional ao rap, como a faixa-título e Números, quanto em faixas que se aproximam do funk proibidão. Por último, uma surpresa: Guerrilla, do produtor angolano Nazar, é uma simulação da atmosfera da guerra pela independência da Angola, atravessada pela esperança de um futuro melhor. Indicado especialmente para fãs de Burial.
Discos favoritos: 1. Fiona Apple – Fetch the Bolt Cutters / 2. SD9 – 40º.40 / 3. Tantão e os Fita – Piorou / 4. Charli XCX – how i’m feeling now / 5. Nazar – Guerilla
Giovanne Ramos
A seleção de um top 5 de melhores discos de 2020 não foi uma tarefa fácil. Foi um ano de muitas descobertas musicais, a quarentena proporcionou isso, a música foi uma terapia e uma grande aliada para enfrentar esse ano controverso. Entre as pérolas que conheci nesse período, quero dar um destaque para Moses Sumney. Sucessor de Aromanticism de 2017, encontrei em Græ conforto e uma certa identificação entre as 20 faixas divididas em álbum duplo. Num tom existencialista, Moses dá voz – e que voz! – às suas poesias líricas, que envolvem temas como isolamento, incertezas e angústias, embaladas numa harmonia vocal dos deuses.
Falando em harmonia dos deuses, outro destaque bastante positivo esse ano foi da dupla Chloe x Halle. Já as conhecia da série Grown-ish, mas vê-las brilhar em 2020 com um dos álbuns mais aclamados do ano foi uma surpresa incrível. Seguindo o caminho sonoro da madrinha Beyoncé, a dupla entregou em Ungodly Hour um trabalho maduro, sensual, romântico e empoderador – sem falar da estética encantadora das performances. O ano também foi espetacular para Rina Sawayama e seu álbum de estreia, SAWAYAMA. A nipo-britânica criou uma atmosfera alucinógena em 13 faixas regadas a um metal–pop, perfeito para momentos de descontração e para esquecer, por instantes, a trágica pandemia.
Fora da língua inglesa, deixei um espacinho para bajular duas das minhas artistas preferidas: LOONA e Ludmilla. Em 2018, o álbum de estreia do grupo sul-coreano figurou na minha lista de melhores discos do ano, e aqui estão de volta com o 12:00. Dois anos se passaram, mas a qualidade lírica e experimental do grupo continua. Ludmilla, conhecida pelos seus trabalhos no funk e no pop-melody, entregou o prometido e tão aguardado Numanice. O álbum de pagode, além de explorar a versatilidade da Lud como artista, ressaltou também o seu vocal em ritmos contagiosos à moda brasileira.
Discos Favoritos: 1. Moses Sumney – græ / 2. Ludmilla – Numanice / 3. Chloe x Halle – Ungodly Hour / 4. Rina Sawayama – SAWAYAMA / 5. LOONA – [12:00]
Carlos Botelho
2020 ficará marcado em nossas memórias como um dos anos mais conturbados da história recente. Porém, deixando a pandemia e seus desdobramentos caóticos a parte, foi um dos anos mais frutíferos para o cenário musical. Um dos grandes assuntos pertinentes ao tema foi, sem dúvidas, a influência da disco music nos lançamentos pop. Desta onda, destaco o excelente What’s Your Pleasure? de Jessie Ware. A cantora britânica deu uma verdadeira aula de como trabalhar referências de décadas passadas para criar o próprio universo sonoro.
Todavia, o ano não se resumiu a globos espelhados e pistas de dança. As mulheres empunhando guitarras, contrabaixos, e incorporando até latidos fizeram do rock sua plataforma criativa e reinventaram o mais transgressor dos ritmos. Fiona Apple nos presenteou com seu Fetch The Bolt Cutters, trabalho singular no qual a artista trata com crueza e verdade temas como traumas do passado, relacionamentos desastrosos e feminismo. O álbum, gravado inteiramente em sua casa, se destaca pela riqueza instrumental e pela adição de ruídos cotidianos. Não é à toa que a sinfonia doméstica de Fiona encabeçou grande parte das listas de fim de ano, um disco que já nasceu clássico.
Outro grande destaque foi o segundo álbum de estúdio da roqueira Phoebe Bridgers. Em Punisher, a artista elevou ainda mais o domínio de suas baladas apocalípticas, com letras e arranjos de complexidade milimetricamente calculados. Adrienne Lenker, do Big Thief, capturou na dobradinha songs / instrumentals o inverno da alma, em um registro marcado pela atmosfera acústica que nos transporta diretamente para uma cabana gelada de um bosque inóspito. E, por fim, as irmãs do HAIM lançaram seu terceiro e mais afiado disco até o momento, Women In Music Pt. III. Reunindo referências que transcendem ritmos e décadas, as meninas usaram toda sua bagagem musical para falar de experiências traumáticas, depressão e misoginia na indústria musical. O disco, que se tornou meu companheiro no último mês do ano, se encerra leve com Summer Girl, provando que sempre teremos um verão de amores ensolarados por vir.
Discos favoritos: 1. Fiona Apple – Fetch The Bolt Cutters / 2. Phoebe Bridgers – Punisher / 3. HAIM – Women In Music Pt. III / 4. Jessie Ware – What’s Your Pleasure? / 5. Adrienne Lenker – songs e instrumentals
João Batista Signorelli
Olhar para dentro de si e buscar alguma alegria em meio ao caos foram desafios do ano de 2020, e a música, de alguma maneira, foi um reflexo para essas e outras questões. Muitos lançamentos do último ano combinaram com a solidão de estar em casa sozinho consigo mesmo: às vezes sendo só uma voz chorosa com um violão, outras com sons improvisados de panelas e latidos de cachorros no quintal.
Fiona Apple nos presenteou com o estrondoso Fetch the Bolt Cutters, que, apesar de não ter sido gravado durante a pandemia, é uma apogeu da música “feita em casa”. Seguindo um caminho mais introspectivo, Adrianne Lenker se destaca com uma delicadíssima coleção de canções em songs. Mas o provável título de álbum do ano vai para Laura Marling com o arrebatador Song for Our Daughter, que explora questões difíceis da maternidade, e que rouba alguma lágrimas nesse caminho.
Mas seria fácil querer resumir o ano a uma playlist de música deprê e ignorar que alguns discos nos salvaram do buraco trazendo um pouco de alegria à vida. Depois de alguns lançamentos mornos, a banda virtual mais amada da música voltou com uma inesgotável fonte de energia que é Song Machine, Season One: Strange Timez. E Jacob Collier retorna a sua megalomania pop de harmonias complexas e pirações musicais em Djesse Vol. 3. Sem esquecer de Shore, de Fleet Foxes, que fica por aqui como menção honrosa, e que é otimista da maneira mais terapêutica possível para quem sobreviveu a um ano tão turbulento.
Discos favoritos: 1. Laura Marling – Song for Our Daughter / 2. Adrianne Lenker – songs / 3. Gorillaz – Song Machine, Season One: Strange Timez / 4. Fiona Apple – Fetch the Bolt Cutters / 5. Jacob Collier – Djesse Vol. 3
Marina Ferreira
2020, com todos os seus períodos de tensão e silêncio, me fez olhar com ainda mais carinho para o valor da música brasileira. Por isso, foi fácil até demais escolher o meu top 5 de melhores do ano, misturando obras do tão distante período pré-quarentena e as produções do surto de criatividade pandêmico. Em quinto lugar, lançado em janeiro de 2020, o álbum coletivo Acorda Amor, que regravou clássicos da música nacional de forma afetiva e nas maiores vozes da nova geração, como Liniker, Xênia França, Letrux, Maria Gadú e Luedji Luna. O quarto lugar fica com o EP Baile de Máscara, de Luana Carvalho. Visitando a temática carnavalesca e prestando uma linda homenagem à sua mãe – a lendária Beth Carvalho – Luana reinventa o samba e traz versões modernas de canções atemporais.
O terceiro lugar da lista vai para o pré-pandêmico Letrux Aos Prantos, que, na época, não sabia, mas se transformaria na perfeita trilha sonora da quarentena e do Brasil quase distópico de 2020, como nas canções Eu Estou aos Prantos e Dorme com Essa. No ano marcado pela feiura, na arte, prevaleceu a beleza, e o disco de estreia de Francisco Gil, ou somente Fran, é o perfeito exemplo de como as coisas ainda podem ser bonitas. Trazendo a Bahia, os orixás e a mistura deliciosa de seu axé acústico, raiz se firma como um dos melhores do ano, e mostra que o talento corre solto pela família Gil, levando o segundo lugar do top 5.
Para o primeiro lugar da lista, não poderia haver outro que não Assim Tocam os MEUS TAMBORES, de Marcelo D2. Produzido inteiramente em lives da Twitch, com parcerias de outros rappers e cantores, ATOMT é o disco que melhor traduz a situação política e social do Brasil. As músicas dão voz à insegurança da pandemia, aos absurdos raciais, à revolta e à insatisfação do povo para com o governo, e à fagulha de esperança para um amanhã melhor. É um álbum político, mas também uma declaração de amor e fé. Além dos citados, deixo menções honrosas ao coletivo Replay – Acabou Chorare e Bom Mesmo é Estar Debaixo D’Água, de Luedji Luna.
Discos Favoritos: 1. Marcelo D2 – Assim Tocam os MEUS TAMBORES / 2. Fran – raiz / 3. Letrux – Letrux Aos Prantos / 4. Luana Carvalho – Baile de Máscara / 5. Vários Intérpretes – Acorda Amor
Ana Júlia Trevisan
Cresci ouvindo grandes nomes da música nacional, e me sinto privilegiada quando um lançamento desses ícones, que me acompanham a tanto tempo, consegue me arrebatar. Por isso, não tinha como não dar o primeiríssimo lugar à Adriana Calcanhotto. Margem, Finda a Viagem chegou às plataformas digitais em novembro, já nos fazendo embarcar junto a ela. A forma como Calcanhotto guia a viagem marítima através das canções deixou o gosto de, talvez, essa ter sido a minha única grande viagem de 2020. E, se Adriana Calcanhotto nos colocou no mar, Luedji Luna mostrou que Bom Mesmo É Estar Debaixo D’Água. O novo álbum da cantora é emoção e sentimento à flor da pele do começo ao fim, tornando-se ainda mais forte com a participação da escritora Conceição Evaristo recitando um poema na faixa Ain’t Got No.
Hoje, muitos bebem da fonte daqueles que construíram a nossa MPB há 60 anos. Referenciar as maiores obras da nossa música é, quase sempre, um tiro no escuro por tamanha importância delas. Talento e respeito são as chaves principais para uma grande homenagem, e isso não faltou no Replay – Acabou Chorare. Contando com variados nomes da nova MPB, a regravação abrilhantou ainda mais músicas que tem um gosto tão atual, e, acima disso, manteve total respeito aos grandiosos Novos Baianos. Essa importância do legado é algo cotidiano na família Gil, que está aí para mostrar que “quem sai aos seus não degenera”. Além de termos os Gilsons presente no Replay e o Bem Gil no instrumental de Margem, 2020 foi o ano de Francisco Gil, neto de Gilberto, deixar sua marca na música com o álbum raiz. O disco, com a temática ancestralidade, tem canções reflexivas trazendo muito axé.
Preciso ser justa nesta lista e também citar o pop internacional. Poderia fazer um ranking apenas com grandes lançamentos que passei horas ouvindo esse ano, como o de Lady Gaga, Jessie Ware e Miley Cyrus. Mas, merecidamente, reservei o último lugar do meu top 5 para a loirinha. 2020 foi o ano de Taylor Swift servir ao mundo do pop com dois lançamentos em apenas 5 meses. Minha menção honrosa vai para folklore, ele é, sem dúvidas, o álbum que eu esperava após o Reputation. Não que o Lover seja ruim, pelo contrário, mas o salto de eras feito por Taylor não foi nada parecido com o que eu imaginava para o futuro, me deixando à espera de algo mais monocromático como vemos nas composições e produção de folklore.
Discos favoritos: 1. Adriana Calcanhotto – Margem, Finda a Viagem / 2. Luedji Luna – Bom Mesmo É Estar Debaixo D’Água / 3. Vários intérpretes – Replay – Acabou Chorare / 4. Fran – raiz / 5. Taylor Swift – folklore
Egberto Santana Nunes
Perdoem o clichê, vocês já sabem. Ano pandêmico. Foi complicado, foi difícil. O que abraçar artisticamente quando o real já não está em paz com a gente? Os toques são proibidos e o mundo nos ataca. Como a música, aquilo que apenas escutamos (de certo modo o único sentido longe dos protocolos), vai nos confortar nesse apocalipse? A resposta encontrada aqui foi na criação ou afirmação de mundos, um elemento de destaque nos selecionados do meu ano musical.
BRIME!, 40º.40 e Fundamento ressignificaram, criaram e posicionaram universos através do contato com o local ou com o estrangeiro. A influência londrina acelerada do grime encontra a correria perseverante das quebradas paulistas e cariocas. Fundamento cria um universo mais localizado. Se o caldo de Febem, Fleezus, CESRV e SD9 atravessam pontes, Marabu faz uma viagem pelo baile de funk, pelas vias estreitas da periferia, onde as vozes se misturam com o grave, com o batuque do tambor de funk e o esquenta da moto.
Depois da correria e da canseira do embalo do baile, há o respiro, a volta para casa. Vem a ligação ancestral, espiritual, leve e calma do violão de Olorum, do baiano Mateus Aleluia, ex-membro do finado grupo de afroxé Os Tincõas. E, na saída do respiro, neste mundo que aprisiona, atira e machuca, que venha o gutural e experimental eletrônico de Tantão e os Fita, em Piorou. Talvez a liberdade do grito radical atravessado pelos distorcidos eletrônicos riscados desse disco seja a sensação que mais representou o ano de todos nós. E, agora, em 2021, “vai piorar a qualquer hora”.
Discos favoritos: 1. Febem, Fleezus e CESRV – BRIME! / 2. SD9 – 40º.40 / 3. Marabu – FUNDAMENTO / 4. Mateus Aleluia – Olorum / 5. Tantão e os Fita – Piorou
Fellipe Gualberto
Nenhum álbum é melhor para iniciar a lista de obras que se destacaram em 2020 do que how I’m feeling now, que foi uma genuína experiência da quarentena e a expressão sonora do que se passou ao longo desse ano. O álbum de Charli XCX foi feito de maneira colaborativa em lives e chamadas de vídeos com os fãs, a temática é o isolamento causado pela pandemia.
Longe dos Estados Unidos, Pabllo Vittar entregou o melhor de brasilidade do começo ao fim em 111 Deluxe. Seja abrindo espaço para artistas ainda não tão conhecidos, como em Tímida com A Travestis, ou em músicas novas, como o forró-pop de Eu Vou, Pabllo não erra em nada e consegue elevar ritmos nacionais a nível mundial. Já na Coreia do Sul, BLACKPINK lançou The Album, que passeia por diversos ritmos entregando um pop de qualidade para derrubar qualquer preconceito que alguém pode ter com produções musicais sul-coreanas.
Ainda no pop, um dos destaques do ano sem dúvida foi Future Nostalgia, Dua Lipa inicia seu álbum com uma faixa homônima que funciona como um manifesto de toda sua arte. Usando de referências aos anos 90 (que pasmem, já se foram a 3 décadas), a cantora traz de volta o que nem sabíamos que tínhamos saudade de forma sincera. Por último, o retorno de Lady Gaga com Chromatica chamou a atenção, com participações de Ariana Grande e BLACKPINK, a cantora fala sobre transtornos psicológicos, cria um universo ficcional e entrega interlúdios que te envolvem ainda mais no álbum.
Discos favoritos: 1. Dua Lipa – Future Nostalgia / 2. Pabllo Vittar – 111 DELUXE / 3. Lady Gaga – Chromatica / 4. BLACKPINK – The Album / 5. Charli XCX – how i’m feeling now
Caio Savedra
Para lançamentos musicais, sem dúvidas, 2020 foi um ano bom (e talvez apenas nesse quesito). Com a quarentena, diversos artistas tiveram seus trabalhos reduzidos a fim de evitar aglomerações como em turnês e, assim, puderam focar em lançar músicas. Um exemplo disso é Pabllo Vittar, que apenas nesse ano lançou dois álbuns (um com metade de inéditas e outro com remixes que abrasileiraram ainda mais as faixas); ou então Charli XCX, que criou e lançou um disco inteiro no que chamamos primeira temporada da quarentena. Não faltam exemplos de artistas que aproveitaram o tempo em casa para nos entregarem excelentes materiais.
Trabalhos grandiosos foram lançados, Dua Lipa, que teve sua divulgação interrompida pela pandemia, entregou um trabalho muito mais coeso que seu álbum de estreia e, sem precisar encher de fillers e músicas externas em versões exclusivas do CD (pelo menos até agora), conseguiu se estabelecer como um dos grandes nomes do ano. Kali Uchis marcou sua carreira com um manifesto em forma de álbum em espanhol através do Sin Medo, deixando seu público estadunidense se mordendo de raiva e abraçando suas origens latinas. Little Mix entregou o que viria a ser o seu último álbum com sua formação original, e que também se consolidou como um marco em sua carreira após se livrarem de Simon Cowell, que as acompanhava desde o The X Factor, em 2011.
A música, sem dúvidas, ganhou mais importância na vida de inúmeras pessoas, assim como na minha, e as principais obras que me acompanharam durante esse nada fácil ano se tornaram mais do que apenas meus álbuns preferidos lançados em 2020. Cultivo um carinho muito grande por todos os citados e pelas experiências que me proporcionaram. Menções honrosas: Lady Gaga – Chromatica, Troye Sivan – In a Dream, Ebony – Condessa e Jessie Ware – What’s Your Pleasure?.
Discos favoritos: 1. Chloe x Halle – Ungodly Hour/ 2. Dua Lipa – Future Nostalgia / 3. Pabllo Vittar – 111 / 4. Little Mix – Confetti / 5. Kali Uchis – Sin Miedo (del Amor y Otros Demonios) ∞
ADOREI a lista.
Meus Álbuns favoritos de 2020 são:
1) Dua Lipa – Future Nostalgia
2) Lady Gaga – Chromatica
3) Kylie Minogue – Disco
4) The Weeknd – After Hours
5) Jessie Ware – What’s Your Pleasure?
6) Ariana Grande – Positions
7) Pet Shop Boys – Hotspot
8) Taylor Swift – Folklore
9) Two Feet – Pink
10) Cigarretes After Sex – Cry
11) Harry Styles – Fine Line
12) Ava Max – Heaven and Hell
13) Taylor Swift – Evermore
14) Tiësto – The London Sessions
15) Kygo – Golden Hour
16) Troye Sivan – In A Dream
17) Melanie C – Melanie C
18) Adam Lambert – Velvet
19) Sam Smith – Love Goes
20) Emma Bunton – My Happy Place
21) Miley Cyrus – Plastic Hearts
22) Rina Sawayama – Sawayama
23) HAIM – Women in Music part 3
24) Alicia Keys – Alicia
25) Chloé and Halle – Ungodly Hour
26) Jack Garrat – Love, Death & Dancing
27) Katy Perry – Smile
28) Doja Cat – Hot Pink
29) Megan Thee Stallion – Good News
30) Kiesza – Crave
31) Selena Gomez – Rare
32) Charlie’s Angel Soundtrack
33) Birds of Prey Soundtrack
34) Alanis Morissette – Such Pretty Forks in The Road
35) Toni Braxton – Spell My Name
36) Celine Dion – Courage
37) Beyoncé – The Gift (Black is King)
38) Black Pink – The Album
39) Halsey – Manic
40) Hayley Willians – Petals for Armor
Menção Honrosa (Atualizado em Janeiro de 2021):
41) Dermot Kennedy – Without Fear
42) Lady A – Ocean
43) Morgan Wallen – Dangerous
44) Miranda Lambert – Wildcard
45) Sam Hunt – SouthSide
46) Thomas Rhett – Center Point Road
47) Little Big Town – Nightfall
48) BTS – Map of The Soul : 7
49) Luke Combs – What You See is What You Get
50) Jhené Aiko – Chilombo
E ainda faltaram os de La Roux, Sufjan Stevens, Harrison Storm, Raye, Kelsea Ballerini, Blake Shelton, Luke Bryan, Coldplay, Chromatics, Cannons, Russell Dickerson, Florida George Line, Keith Urban e Gabby Barret que vou incluir na lista de 2021. Ufa! Que ano maravilhoso foi 2020 na música. Aleluia!