Os melhores discos de 2019

Nem toda tradição tem de ser mantida, mas o Persona não mexe em time que tá ganhando. Por isso, a nossa lista anual de discos do ano mantém o formato da edição passada: reunimos colaboradores, ou quem quisesse participar, para elencarem seus momentos musicais preferidos de 2019.

A intenção é garantir a diversidade de sons e pessoas, não ficando restritos às preferências pessoais da editoria ou ao que já foi abraçado pela crítica mundo afora. E esperamos ter alcançado esse propósito. A lista passeia por gêneros extremamente brasileiros, mas o rolê se expande para o mundo todo, do house ao sertanejo universitário. Confira:

pandora melhores do ano
Inspirada em Michael Jackson, a capa do disco de estreia da Luisa Sonza, é uma das mais bonitas do ano (Divulgação)

Cezar Augusto

Meu ano musical foi uma grande descoberta de estilos e musicalidades. Sempre fui muito preso ao pop e seus desdobramentos, buscando desde músicas mais antigas até mesmo novos artistas. Em termos de estilo, pude descobrir o country  — que para mim, antes, se resumia em músicas antigas—, mas bebi da fonte de artistas como a atual ganhadora do Grammy  de Álbum do Ano Kacey Musgraves, que mostrou-me um outro lado da música tradicional americana.

Além disso, o R&B se tornou mais presente esse ano, com cantoras como HER, SZA e Tinashe. Elas invadiram minhas playlist de forma desproporcional, tanto que o ritmo foi o segundo que mais ouvi esse ano. Finalizando, continuei fiel ao pop, descobrindo diariamente novos singles e álbuns que estremecem meus ouvidos até agora. Artistas como Ariana Grande, Kim Petras e Lizzo são algumas das artistas mais frequentes no meu Spotify em 2019.

Discos favoritos: 1. Pandora – Luísa Sonza / 2. thank you, next – Ariana Grande / 3. Songs For You – Tinashe / 4. TURN OFF THE LIGHT – Kim Petras / 5. Cuz I Love You – Lizzo


As dualidades do corpo humano com a tecnologia, o Manifesto Cibernético – a capa já entrega o conceito de GEO_01. (Foto: Reprodução)

Egberto Santana Nunes

A minha promessa da lista passada era ouvir mais álbuns nacionais. Não posso dizer que a concretizei, porém, mantive o equilíbrio. E, sem dúvidas, foi de terras brasileiras que ouvi as vozes mais originais e únicas deste ano. A paulistana Geovana Mantovani entregou seu primeiro álbum, que parece ter saído diretamente do mundo cibernético. São vastos os gêneros encontrados nas 9 faixas de GEO_01, e a mão do produtor Guilherme Mobilesuit dá harmonia e consistência para os glitchs e grooves. O vocal, as letras e a produção da dupla criam um universo tecnológico único no electropop brasileiro e que me impressionou a cada escutada. Merecem muito mais atenção dos holofotes nacionais.

Da gringa, o rap brasileiro transformou o grime, estilo de música urbana surgido no Reino Unido, mistura do ritmo de gêneros eletrônicos como o dubstep, para criar a batida das músicas. O destaque vai para o álbum Running, do Febem, que embala a correria de São Paulo, entre a discriminação, o ganha-pão e a reafirmação da sua presença no rap. Febem é versátil e não difere de outros simplesmente pela produção de qualidade, mas por mirar e atirar em todos, até mesmo na cena nacional, sem isenção de crítica. O grime no Brasil vem forte e esse ano também contou com a presença de LEALL e Fleezus, com excelentes singles e EPs embalando os bailes.

Viajando para o Nordeste, Nego Gallo debutou com Veterano, em fevereiro, e mesmo sendo lá no início, marcou muito aqui. Entre o reggae, dancehall, funk e rap, a estética da periferia de Fortaleza está nesse disco, e vale muito o repeat.

A dinamarquesa Erika de Casier debutou com Essentials, doce e tocante R&B com batidas pop retrô, mas com a mais perfeita vibe do chill out contemporâneo. Para ficar de olho na dona da voz, tem futuro. Pode não ter dominado as listas, mas aqui no meu Spotify esteve muito presente. Assim como Tyler, the Creator. Por mais que IGOR não seja seu melhor álbum, ele se reinventou novamente, mudou a persona, a voz e gênero, e reafirmou sua posição na lista dos melhores artistas do rap americano.

Discos Favoritos: 1. GEO_01 – GEO/ 2. RUNNING – FEBEM/ 3. Essentials – Erika de Casier/ 4. Veterano – Nego Gallo/ 5. IGOR – Tyler, the Creator


Como de costume, a capa do terceiro disco de Djonga tem vida própria (Foto: Reprodução)

Elder John Pereira

Em 2019 ouvi basicamente rap, funk e pagode, os meus estilos preferidos. O funk não tem a cultura de lançar álbuns, logo, fica fora da lista… A explosão de Kevin O Chris juntamente com outros Mc’s de destaque do Rio de Janeiro. Em São Paulo, PP da VS se manteve no auge e Lele JP surgiu com ótimos lançamentos. Se algum desses artistas tivesse um álbum, teria lugar cativo no meu top 5.

E falando no top 5, Djonga mais uma vez lançou o disco do ano, acertou em tudo, é até redundante falar, artista completo, um dos melhores do país. 

Hot e Oreia me surpreenderam com a ousadia de um trabalho totalmente original, trabalhando temas atuais e de extrema importância. Completando sobre o rap, Coruja BC1 se estabeleceu de vez entre os melhores com um disco diversificado e contundente. A curiosidade dessa lista é a participação de Djonga nos outros dois álbuns, nas faixas Eu vou e Gustavos, respectivamente.

E finalizando, Thiaguinho e Péricles (saudades Exaltasamba) vieram com produções solo de muita qualidade, cada um no seu estilo, tocando no coração como só eles sabem. 

Vale ressaltar também o disco Padrim do FBC, lançado em novembro, com participações de artistas importantes na cena nacional e que não entrou na seleção por ser muito recente. Além do álbum Mais Feliz do Zeca Pagodinho, consagrando ainda mais o já esplêndido sambista.

Discos favoritos:  1. Ladrão – Djonga / 2. Rap de Massagem – Hot e Oreia / 3. Vibe – Thiaguinho /  4. Psicodelic – Coruja BC1 / 5. Pagode do Pericão – Péricles


All wrapped in cellophane, the feelings that we had (Foto: Reprodução)

Gabriel Leite Ferreira

Meu 2019 foi majoritariamente brasileiro. Dentre os vários lançamentos que passaram pelos meus ouvidos, a relação foi mais profunda com Rente, de Jair Naves, e O Jogo Humano, do Test. O terceiro disco do ex-vocalista da seminal Ludovic é um grito aos quatro ventos contra o fascismo que assola o país, uma meditação sobre a epidemia de assédios sexuais, uma carta de amor, um pedido de socorro. É o melhor disco de Jair, aquele em que suas letras complexas são pela primeira vez correspondidas pelos arranjos, num equilíbrio entre o pop rock, o rock alternativo e o folk.

Com O Jogo Humano, também terceiro álbum do duo Test, fui relembrado do poder catártico da música extrema. A formação é minimalista e a proposta, ambiciosa: 54 trechos de músicas que podem ser juntas de qualquer maneira. Sendo assim, cada versão física do álbum (digital, CD, vinil e K7) é diferente. Uma obra tão sufocante quanto curativa. Destaque para as letras, assinadas por uma variedade de artistas tão díspares quanto Kiko Dinucci (Metá Metá), o próprio Jair Naves e Quique Brown (Leptospirose).

Na esfera internacional, as mulheres dominaram. Billie Eilish uniu tribos com seu pop orgânico e autêntico. A veterana Kim Gordon, por outro lado, separou tribos com No Home Record, um disco que tem tudo e nada a ver com sua carreira no finado Sonic Youth. Caroline Polachek entregou o debut mais redondo dos últimos tempos com Pang, mesclando Charli XCX e Kate Bush em um caldeirão multicor. Mas o pódio ficou com FKA twigs, LINGUA IGNOTA e Lana Del Rey.

Lana e seu Norman Fucking Rockwell! foram a maior surpresa de 2019, sem dúvidas. Como desconhecedor da obra de Elizabeth Grant, eu não poderia ter me surpreendido mais com a consistência de seu sexto disco de estúdio. Foram incontáveis replays desde agosto e ainda não consigo apontar destaques – e acho que esse é o maior destaque de todos. “Mariners Apartment Complex”, contudo, merece nota: desde a letra irretocável ao arranjo que relê o melhor do folk rock setentista, minha música favorita do ano.

Caligula, da LINGUA IGNOTA, não suscitou muitos replays. Não por falta de qualidade, longe disso; o caso é que o segundo disco de Kirstin Hayter é de uma visceralidade tão intensa que chega às raias do cruel. Cantora lírica, Hayter se voltou à música extrema para dar conta de traumas pessoais (dentre eles, a anorexia e relacionamentos abusivos). Em Caligula ela atinge um novo patamar na recente carreira, subvertendo noções cristãs como o Deus do Velho Testamento para anunciar sua vingança contra todos aqueles que a oprimiram. Some isso à um direcionamento musical que mistura música clássica ao mais puro noise e temos o disco mais difícil de 2019. Ouça no escuro.

MAGDALENE, o segundo disco da inglesa FKA twigs, embalou meus momentos mais vulneráveis; foi o disco certo no momento certo. Ao incrementar seu R&B experimental com influências de hip hop e música eletrônica, Tahliah Barnett encerra seu hiato de três anos e ressurge mais forte do que nunca após uma cirurgia delicada e um término amargo. Para dançar, para chorar, para pensar: twigs nos entregou o pacote completo.

Que venha 2020!

Discos favoritos: 1. MAGDALENE – FKA twigs / 2. Caligula – LINGUA IGNOTA / 3.  Norman Fucking Rockwell! – Lana Del Rey / 4. Rente – Jair Naves / 5. O Jogo Humano – Test


(Foto: Reprodução)

Gabriel Oliveira F. Arruda 

Musicalmente, 2019 foi um ano de estreias e reinvenções para mim. Alguns artistas que eu acompanhava há algum tempo lançaram seus primeiros álbuns, enquanto outros retornaram com força para a minha lista de mais tocados, depois de algum tempo fora.

Foi Shura quem capturou meu coração e minha alma, com seu segundo álbum, forevhercuja crítica você pode ler aqui mesmo. Nele, a cantora inglesa trançou todas as suas paixões e expectativas, resultando no melhor disco que eu ouvi esse ano, equilibrando perfeitamente o seu pop indie melancólico com um jazz eletrônico que fez com que o disco se tornasse uma obra completamente autoral.

Foi bom também descobrir coisas novas, como o synthpop de Aly & AJ, que voltaram com o EP Sanctuary, que confirmou a habilidade do duo de criar batidas que silenciosamente revitalizaram o pop internacional. Foi bom também ver o retorno do The Last Internationale com o fantástico Soul on Fire, um exemplo de hard rock comunista com algumas das faixas mais elétricas que eu tive o prazer de ouvir.

O debut da norueguesa Sigrid, Sucker Punch, atingiu novos tons e ao mesmo tempo aperfeiçoou sua apresentação musical ao ponto do absurdo. A estreia de Tessa VIolet foi um dos momentos marcantes do ano, sendo transmitida através de caçadas ao tesouro virtuais que anunciaram o lançamento do aguardado Bad Ideas, que contou com uma série de singles bem recebidos e algumas canções novas que reforçam o som sólido da americana.

Discos favoritos: 1. forevher – Shura / 2. Soul on Fire – The Last Internationale / 3. Sanctuary – Aly & AJ / 4. Sucker Punch – Sigrid / 5. Bad Ideas – Tessa Violet


Ouvi dizer que colocaram meu amor numa estante de brechó(Reprodução)

Isabella Siqueira

Em um ano de conflitos, entre afetos e desafetos as minhas preferências musicais refletem esses tantos sentimentos. No segundo álbum da banda Liniker e os CaramelowsGoela Abaixo, impera  a saudade e o consolo. É aquele MPB que acalma o coração, a mais delicada Amarela Paixão ou De Ontem dão a sensação de intimidade e complementam os momentos felizes e tristes do meu 2019. 

Nada Ficou no Lugar não é só a frase inicial da música Mentiras da cantora brasileira Adriana Calcanhotto. O álbum lançado este ano reúne interpretações de canções dela nas mais diversas vozes, entre os artistas convidados estão Duda Beat, Letrux, Jaloo, Preta Gil, Rubel, Baco Exu do Blues e outros. São reinventadas as músicas de Adriana Calcanhotto seja mudando o tom ou inovando a batida, existe o brega, a melancolia, e o extrovertido. A banda Vanguart optou também por uma homenagem, Vanguart sings Bob Dylan contempla as músicas mais famosas desse cantor do folk norte americano. A celebração da obra de Bob Dylan inclui a sensível Don’t Think Twice, It’s All Right e a ambígua Blowin’ In The Wind.  

A estreante Rosa Neon fez sua estreia esse ano com o álbum de nome titular da banda que conta com a participação do rapper Djonga e traz uma estética moderna e contagiante para o pop brasileiro. Passando para os sentimentos mais opostos e existenciais vem o trio O terno com seu quarto álbum <Atrás/Além>. Um trecho particular da música Eu vou na verdade reflete uma promessa minha pro ano que vem, “Vou correr na direção daquelas tantas, coisas lindas que eu anseio”.

Discos favoritos: 1. Goela Abaixo – Liniker e os Caramelows / 2. Nada Ficou no Lugar – com músicas de Adriana Calcanhotto / 3. Vanguart sings Bob Dylan – Vanguart / 4. Rosa Neon – Banda Rosa Neon / 5. <Atrás/Além> – O terno


Isabelle Tozzo Fernandes

2019 foi um ano difícil em tantos termos que mal ouvi novos artistas. Aliás, segundo meu Spotify, passei menos tempo ouvindo músicas do que em anos anteriores. Para períodos em que fico sem paciência para dar chance às novidades recorro aos que já caminham há um tempo na minha playlist. No caso, O Terno e Lana Del Rey —  que lançaram belíssimos álbuns em 2019.

Sem dúvidas, Norman Fucking Rockwell! é o melhor disco do ano. Elegante, Lana se reafirma como uma excelente cantora e compositora. Minha artista da década em sua melhor versão. Já O Terno apresentou em abril <atrás/além>, quarto álbum da banda paulistana. Dando continuidade as cordas e metais da produção anterior e trazendo os conflitos existencialistas da geração millenial como pano de fundo.

No segundo semestre do ano enjoei de tudo que ouvia e entrei numa maré de tentativas frustradas ao tentar descobrir coisas novas. Mas Angel Olsen me salvou. Com seu incrível All Mirrors, a cantora orquestra suas dores e se utiliza de uma força descomunal para rasgar seus sentimentos.

Seguindo essa linha também me apaixonei por MAGDALENE da FKA twigs. Um pop alternativo eletrônico que traz a religiosidade na figura de Maria Madalena dissociada de jesus. A força feminina aqui em sua melhor forma. A mistura dos sintetizadores eletrônicos com o clássico piano me faz cantar as dores de FKA e me sentir em meu próprio templo sagrado.

Discos favoritos: 1. Norman Fucking Rockell! – Lana Del Rey / 2. <atrás/além> – O Terno / 3. WHEN WE ALL FALL ASLEEP, WHERE DO WE GO? – Billie Eilish / 4. All Mirrors – Angel Olsen / 5. MAGDALENE – FKA twigs


(Foto: Junior Franch)

Jho Brunhara

Na fé de Zambi e de Oxalá, pedimos licença pros trabalhos começá.’ Rito de Passá rasgou os céus de 2019 como uma flecha, sacudiu o chão como um trovão e iluminou a música brasileira como um relâmpago. Sem medo e com muito orgulho de mostrar suas raízes e o que faz Thais da Silva ser Mc Tha, a artista trouxe um disco destruidor cheio de conceito, letras elaboradas, uma sonoridade única, e claro, uma capa maravilhosa.

Meio Luiza Lian com uma macumba-funk-eletrônica, Mc Tha encontra em sua relação com a umbanda, funk e suas experiências de vida a inspiração para construir seu debut – e torná-lo o melhor álbum desse ano. 2019 foi maravilhoso para a música pop brasileira, que continua a revelar novos artistas e os rumos que estamos tomando. YMA, com seu disco Par de Olhos e GEO com GEO_01 fazem parte dessas novas vozes muito comprometidas com a arte.

No hemisfério norte, Lana Del Rey presenteou o mundo com o maravilhoso Norman Fucking Rockwell!. O melancolismo de suas letras – mais poéticas e fascinantes que nunca –  atingiu um novo ápice, resultando em um disco impactante e poderoso, mas ainda assim sutil e sincero. ‘They mistook my kindness for weakness, I fucked up, I know that, but Jesus, can’t a girl just do the best she can?‘ Ainda que aqui ocupe o segundo lugar, NFR! divide o #1 no meu coração. O olhar melancólico também trouxe outros LPs escritos direto da alma que merecem uma menção, como o Remind Me Tomorrow da Sharon Van Etten, e Fine Line de Harry Styles. 

Além de 2019 ter sido um ano incrível por parte das artistas mulheres, foi um ano ótimo para o pop. A volta de Banks acompanhada de composições geniais e suas produções fortes e marcantes no álbum III, também regado de sua visão obscura e única sobre o amor. Também tivemos o  debut de Billie Eilish, WHEN WE ALL FALL ASLEEP, WHERE DO WE GO?, talvez sendo o grande diferencial da cantora de 18 anos a abordagem de suas letras e a produção mais experimental de suas músicas. E Sigrid, outra voz jovem que com Sucker Punch lançou um dos discos mais gostosos de se ouvir de 2019. Regado de faixas pop perfection, a norueguesa soube exatamente o ponto de soar chiclete sem parecer genérica. 

Discos Favoritos: 1. Rito de Passá  – Mc Tha/ 2. Norman Fucking Rockwell! – Lana Del Rey/ 3. III – Banks/ 4. Sucker Punch – Sigrid/ 5. WHEN WE ALL FALL SLEEP, WHERE DO WE GO? – Billie Eilish


“LEGACY! LEGACY!” traz, no título de cada faixa, o nome de algum pensador ou artista que tenha contribuído na jornada pessoal de Jamila (Reprodução)

Leonardo Teixeira

A música me confortou em 2019. Foi isso que busquei nas minhas escolhas: aconchego, consolo. A paisagem política do país, aliada a uma série de mudanças pessoais, exigiram do meu Spotify a resposta para uma série de reflexões, neuras e medos. É o caso de Jamilla Woods e a poesia complexa de seu LEGACY! LEGACY! A cantora e professora americana me ensinou um bocado sobre auto cuidado e orgulho, no que considero o melhor disco de R&B do ano.

Vozes modernas da brasilidade foram meu canal de contato com a resistência contra o conservadorismo atualmente injetado nas esferas da vida cotidiana. Nomes como Luísa e os Alquimistas, MC Tha e Urias ofereceram esse escape, que todos nós tanto precisávamos no decorrer do ano. No espectro pessoal, o destaque fica para Liniker e o Caramelows e o belíssimo Goela Abaixo. “O nosso carinho não dói em ninguém”, ela canta. Juro que tem um pedacinho de mim em cada verso do registro.

O ano foi pouco aventureiro no quesito de gêneros musicais. Poucas vezes fugi do pop, soul ou R&B (e suas vertentes) que sempre habitaram meus fones de ouvido. Mas é interessante como Caroline Polachek e Carly Rae Jepsen — que lançaram trabalhos impecáveis em 2019 —, artistas que coabitam no mundo pop, têm sons tão discrepantes.

Ainda, meu queixo caiu várias vezes por culpa de duas figuras seminais da música pop: Madonna e Beyoncé. MADAME X não foi só flores, mas momentos épicos como “God Control” ou “I Don’t Search I Find”, que demonstram dois extremos da mistura do house de Detroit com a discoteca, lembram que Madge inventou a roda e ainda a dirige com maestria.

Por sua vez, Yoncé reescreveu a própria história com o seu HOMECOMING: THE LIVE ALBUM. O disco revisita as duas lendárias apresentações da cantora no Coachella 2018, ao mesmo tempo em que redige uma carta de amor à juventude negra. Tudo isso acompanhado da excelência técnica e artística que já se tornou freguês na discografia de Bey. Obrigado por tudo, madrinha.

Discos favoritos: 1. LEGACY! LEGACY! – Jamilla Woods / 2. Goela Abaixo – Liniker e os Caramelows / 3. Dedicated – Carly Rae Jepsen / 4. Rito de Passá – MC Tha / 5. Pang – Caroline Polacheck


Na retrospectiva do Spotify, Marília Mendonça alcançou o top 1 dos 10 artistas mais ouvidos do Brasil, assim como Todos Os Cantos, que levou como o álbum mais ouvido no país (Foto:

Natália Santos

O ano de 2019 começou, pelo menos no âmbito musical brasileiro, com o pé direito. Logo em fevereiro, Marília Mendonça lançou aquele que viria a ser o Melhor Álbum de Música Sertaneja do ano pelo Grammy Latino, o Todos Os Cantos, Vol. 1. Seguindo a tradição sertaneja das músicas ao vivo, Marília transformou o seu último lançamento em um projeto itinerante com gravações em diversas capitais do país. Traição e superação ainda são os temas das músicas, entretanto é perceptível o amadurecimento musical e vocal de Marília desde o boom de “Infiel” em 2015. A cantora ainda lançou os volumes 2 e 3 do projeto no decorrer do ano.

Do outro lado do globo, lá na Inglaterra, o (melhor) ex-One Direction lançou o seu segundo álbum em carreira solo. Fine Line do Harry Styles chegou nas plataformas no dia 13 de novembro. Três dias após o lançamento, 7 das 12 faixas estavam no Billboard Hot 100. E os números não acabam por aqui! O álbum atingiu 631 mil unidades vendidas segundo a United World Chart. Além disso, o segundo álbum solo significou para o cantor um rompimento com a imagem de ‘ídolo de boyband’; além de possibilitar o flerte com novos estilos musicais, como no caso da música de 6 minutos que dá o título ao CD e dos instrumentos de sopro e corais que aparecem na abertura da primeira faixa, Golden. Fine Line é, com certeza, a maior obra-prima internacional do ano de 2019.

Mas o pop não acaba por aí! Apresentando a sua nova era, Taylor Swift deixou de lado o seu rancor e ódio (explícitos) ao lançar Lover, sétimo álbum da sua carreira. Com 18 faixas, sendo o seu maior álbum em extensão, Taylor volta ao viés intimista e um tanto quanto inovador, afinal é a primeira vez que a cantora se coloca como protagonista da sua história e não foca apenas como os indivíduos ao seu redor impactaram negativamente sua vida. O registro é um grande álbum pop que flerta com o electropop, resquícios do Reputation, e ainda  celebra os altos e baixos do amor em tons iluminados! Por fim, vale uma informação extra: Lover foi o único álbum do ano a vender 1 milhão de cópias puras (sem contar com as vendas em streamings) nos Estados Unidos. Parabéns, Taylor! É aquele ditado: artista da década faz assim!

Discos favoritos: 1. Todos Os Cantos, Vol. 1 – Marília Mendonça / 2. Fine Line – Harry Styles / 3. Lover – Taylor Swift / 4. Happiness Begins – Jonas Brothers / 5. Romance – Camila Cabello


melhores do ano céu
A maioria das faixas em APKÁ! foram compostas por Céu, algumas em parceria com artistas renomados, como Caetano Veloso (Divulgação)

Natan Felipe

2019 foi um ano turbulento em muitos aspectos. Marcado pela nostalgia do fim de uma década, muito foi resgatado no mundo da música, mas muitos outros sons foram recebidos pelo público como uma degustação do que está por vir. O que mais me surpreendeu foi que, desde muito cedo, artistas internacionais imperavam nas minhas listas de favoritos. Contudo, esse ano, os brasileiros se posicionaram – e muito bem – no jogo da indústria musical, e conquistaram muito mais espaço no mercado nacional e nas minhas playlists.

Assim, sou feliz em dizer que o álbum que mais se destacou durante meu ano foi o APKÁ! da cantora Céu. Conhecida e premiada pela excelência de suas composições e produções nada óbvias, a voz mais poderosa da nova mpb traz, nesse álbum, um experimentalismo que nos rende uma boa combinação de melancolia e prazer. A paulistana trata de assuntos como o amor nos tempos modernos (e em todas as suas configurações), bem como sobre temáticas mais pessoais, como a maternidade, grande inspiração para a produção do disco.

Rito de Passá, da novata Mc Tha, é mais um suprassumo da cultura brasileira lançado nesse ano tão produtivo no campo das artes no país. Com batidas fortes que fazem uma mistura inusitada do funk das periferias com mpb, o álbum traz mensagens poderosas em suas letras, que tratam de temas como o empoderamento, autocuidado, coragem, amor e religião – aqui, pincelada em músicas como a faixa título, que é um canto leve e prazeroso aos orixás da umbanda, para que eles, como ela mesma diz “abram os caminhos” para a execução dessa obra que merece muito mais visibilidade do que já alcançou.

Por fim, não poderia deixar de esboçar minha admiração pelo mais novo trabalho de Lana Del Rey, Norman Fucking Rockwell! No disco, a voz doce da cantora encontra seu ápice nas letras bem escritas, que nos aproxima muito da assinatura artística apresentada por ela há alguns anos atrás, com Born To Die. As composições casam perfeitamente com o trabalho valioso do reconhecido produtor Jack Antonoff, já nomeado diversas vezes ao prêmio Grammys por álbuns de Taylor Swift, Lorde, e marcando mais uma vez presença na categoria com a merecidíssima indicação de Del Rey ao prêmio de Álbum do Ano.

Discos favoritos: 1. APKÁ – Céu / 2. Norman Fucking Rockwell! – Lana Del Rey / 3. Rito de Passá – MC Tha / 4. ANTI-HERÓI – Jão / 5. Lover – Taylor Swift


Wish that you would hold me or just say that you were mine (Foto: Reprodução)

Vitor Evangelista

Quando a melancólica melodia da faixa-título de Lana Del Rey começa a entoar, ela já nos assegura: esse ano, não tem pra ninguém. A americana consagra Norman Fucking Rockwell! como a melhor investida musical de 2019, unindo letras afiadas à minúcias de suas vivências. Os versos iniciais são de alto escalão, ‘goddamn, man child, you fucked me so good that I almost said, “I love you”’.

Importante ressaltar que o ano desbravou singles interessantíssimos que (ainda) não compõe álbuns completos. A triste e reflexiva Slide Away, de Miley Cyrus, detalha o término com o ex, poética como usual. ‘move on, we’re not 17, i’m not who I used to be’. A ex-Disney ainda se aventurou por Black Mirror e vestiu a carapuça da popstar Ashley O. E seus dois hits são canções chiclete que ficam com a gente, ‘i’m gonna get what i deserve’. Outra expoente da casa do Mickey que brilhou em 2019 foi Zendaya. Protagonista de Euphoria, da HBO, a atriz ainda soltou a voz, ao lado do talentoso Labrinth na onírica All For Us, que deu fecho ao primeiro ano do seriado, ‘i’m taking it all for us, doing it all for love’. Isso sem falar em Dua Lipa e suas exuberantes Don’t Star Now e Future Nostalgia

Já em trabalhos coesos e finalizados, os lançamentos de Ariana Grande e Billie Eilish foram força motriz do primeiro semestre. Enquanto thank u, next revisita traumas e inseguranças da canceriana de 1,53m, WHEN WE FALL SLEEP, WHERE DO WE GO? é um respiro no cenário pop, onde a jovem de (então) 17 anos desabafa sobre pesadelos, sobre o aquecimento global e sobre seus dilemas amorosos. Do álbum de Ariana, fica destacada a faixa needy e, no de Billie, a divertida homenagem a The Office com a música my strange addiction. 

Pra fechar o top 5 do ano, Harry Styles coroa a tristeza do homem com o coração partido; os destaques de Fine Line ficam a cargo de Cherry, com a bagagem da ex-namorada do cantor, e Falling, ‘and i get the feeling that you’ll never need me again’. Charli XCX lançou o meio-self-titled, com uma porção de colaborações, uma série de fillers, mas ainda tocando fundo nos sentimentos adormecidos. Official é quem dá a direção que a britânica se entristece a versar em Charli. ‘you know the words to my mistakes, you understand because you made ‘em too’.

Discos Favoritos: 1. Norman Fucking Rockwell! – Lana Del Rey/ 2. thank u, next – Ariana Grande/ 3. WHEN WE ALL FALL SLEEP, WHERE DO WE GO? – Billie Eilish/ 4. Fine Line – Harry Styles/ 5. Charli – Charli XCX

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