Metá Metá retoma o essencial de sua origem para novas experimentações no Sesc

Persona acompanhou o show no dia 14 de agosto e comenta os melhores momentos da noite

Metá Metá
“Pra quem não conhece, Thiago França (dir.), Kiko Dinucci (esq.) e Juçara Marçal (centro)”, brinca Juçara enquanto agradece a presença da plateia no final do show (Foto: Reprodução)

Vinícius Nascimento

Composto por Juçara Marçal (voz), Kiko Dinucci (Violão) e Thiago França (saxofone) é a segunda vez do trio em para Bauru. Às 8 horas e meia do dia 14 de agosto no Sesc, quem esperava um show com banda acaba por ter uma surpresa: no palco, somente violão, sax e microfones. No fim do show conversando com a banda, Kiko é enfático ao dizer: “A força bruta do Metá Metá é essa formação em trio, as vezes a gente acha mais pesado do que show com banda”. Assim seguimos noite adentro, com os três amigos nos guiando dentro da atmosfera de sonoridades que nos hipnotiza.

O público se aconchega junto ao palco. O setlist conta principalmente com músicas dos dois primeiros discos (Metá Metá (2011) e MetaL MetaL (2012)), além dos EPs Metá Metá (2015) e EP 3 (2017). O primeiro álbum tem presença marcante na apresentação. A partir dele a identidade da performance é definida.

“Bará”, que faz parte de Gira (2017), trilha sonora que criaram para um espetáculo de dança, rompe o silêncio do ambiente e com ela podemos ver a forma como o show vai prosseguir. Iremos percorrer momentos de melodia suave e convidativa contrastando com as explosões do sax em momentos onde a inventividade do improviso é acompanhada de riffs e dedilhados “sujos” no violão.

É assim com “Vale do Jucá” composição do recifense Siba, onde o transe impera, um cântico entoado, como se estivéssemos num  cortejo. Em determinado momento os sopros, primeiro como se fossem respiros, vão tomando a forma de ruídos e ganham força preenchendo todo o espaço, voltando depois à suavidade do canto de Juçara. “Oya” incorpora toda a força do sopro e de um violão percussivo, ao ponto de lembrar os tambores da versão de estúdio da música. Enquanto “Orunmilá” e “São Jorge” conseguem manter um clima descontraído e envolvente – na lateral do palco vejo pessoas dançando.

Thiago França no Sesc Bauru
(Foto: Vinícius Nascimento)

Certo momento começo a andar, abro caminho entre a plateia. Pego a câmera e clico, mais algumas fotos e volto à trajetória. Encontro um espacinho no canto direito entre o palco e as caixas de som, fico lá até o fim. Em “Samuel”, Kiko assume os vocais com acompanhamento de Juçara. Nela há um tempo de respiro das anteriores. É nesse respiro que me viro e vejo uma amiga, fazia tanto tempo, justificava de início ela não me reconhecer. Eu gesticula querendo dizer meu nome – “Vinícius…” -, pela expressão de Letícia não deu certo. Tento outra vez, torcendo para que ela soubesse ler lábios – “Do ponto de cultura, não tá lembrada?” -, seus olhos se arregalam e ela vem em direção a mim, um abraço de reencontro.

Revê-la foi incrível e nesse embalo a energia pulsante é retomada de forma dançante pelo público quando começa “Rainha das Cabeças”. Jards Macalé e Torquato Neto aparecem no repertório com a excelentíssima “Let’s Play That”, em versão de onomatopéias que Juçara interpõe nos diálogos entre os instrumentos de Dinucci e França. Assim ela costura uma unidade à música enriquecida com este clima descontraído, como canções de Itamar Assumpção, uma das referências do grupo.

Juçara Marçal no Sesc Bauru
(Foto: Vinícius Nascimento)

Aproximando-se do final, os músicos preparam o espectadores para o encerramento. Até aqui o percurso foi de subida, intercalado com alguns momentos de calmaria. A pausa para apresentação da banda é feita de maneira extrovertida por Juçara, que passa a fala para Kiko anunciar os discos à venda após o show. Sem saírem do palco, o bis ficou por conta de “Obá Iná”. Tudo o que tínhamos vislumbrado nas faixas anteriores de maior fôlego voltam com maior intensidade, o corpo solto e envolvido pela música, assim como Juçara no palco, nós também dançamos.

Fora do palco, Thiago ocupado com a venda dos discos. Kiko desenha e autografa. Após tirar foto com fã, aproveito para perguntar a Juçara como é voltar para Bauru. Ela responde com um sorriso: “É sempre uma experiência renovada fazer um show, voltar na cidade, poder rever as pessoas e os amigos”. Sobre um possível novo álbum, diz: “A gente está mirabolando [risos]. Por enquanto está no comecinho, ainda tá muito incipiente”. Agradeci e tomei o caminho de casa. Feliz por rever depois de 8 anos minha amiga, tudo embalado por esse show, que representou a volta do Metá Metá a uma sonoridade mais suave como no primeiro álbum, mas sem negar o amadurecimento e peso proporcionado pelos discos posteriores, criando possibilidades nas suas intervenções sonoras, experimentações que  indicam o caminho de seu próximo trabalho.

Um comentário em “Metá Metá retoma o essencial de sua origem para novas experimentações no Sesc”

Deixe uma resposta