Elisa Romera de Freitas
Mais uma vez, a Moon Studio não poupou nossas lágrimas. A sensibilidade carregada pela continuação da história de Ori preenche nossos corações e transborda por nossos olhos que, após acompanharem as dores e anseios em Blind Forest, são cativados, novamente, pela trama igualmente encantadora de Ori and the Will of the Wisps.
Assim que iniciado, acompanhamos o enredo diretamente após o fim do jogo anterior e, com a família restabelecida, nos deliciamos de um pequeno e breve gostinho do cessar da solidão, essa que carregamos junto do personagem principal durante toda a primeira gameplay. Ori, depois de viver uma aflição contínua por ter perdido sua mãe adotiva, Naru, finalmente a recupera, construindo também um laço intenso de carinho com Gumo. Ele, por fim, não estava mais sozinho.
Portanto, em Will of the Wisps, não há mais a angústia da solidão. Apesar de, após um acidente, Ori se perder de seus companheiros e de sua irmã Kun, existe sempre a batalha para, novamente, se encontrarem. O sentimento em nossos corações, nesse novo desenrolar da história, é substituído por uma ansiedade em busca da união dos personagens.
Uma nova etapa, menos solitária
Ao contextualizá-los na narrativa, tomo muito cuidado com as palavras para não estragar sua experiência enquanto jogadores, por isso, contarei apenas as primeiras cenas retratadas e deixarei que as demais, cheias de emoções e plot twists, fiquem abertas para que sejam vividas diretamente.
Quando a tela do computador brilha na primeira imagem, vemos o nascimento de Kun e sua adoção pelos personagens, felizes por terem-lá consigo. Acompanhamos rapidamente o crescimento da pequena corujinha que, em dado momento, demonstra grande insatisfação por não poder voar, já que uma de suas asas é falha. Quando, por fim, Ori consegue ajudá-la a superar esse problema, os irmãos são pegos por uma tempestade e, assim, separados do resto da família.
A partir da visão de Ori, seguimos, então, em uma simples, mas bela, sequência de atos em busca de Kun e dos demais membros da família. Neste meio tempo, conhecemos diversos NPCs que nos auxiliam em nossa viagem, proporcionando pequenas side quests e sempre nos guiando até o nosso objetivo final, sem necessidade de desvios pelo caminho.
Esses novos personagens são falantes, diferentemente do primeiro game, em que a Árvore dos Espíritos e a bola espiritual protagonizaram todas as falas do jogo. Porém, toda a família, mesmo muda, é capaz de expressar cada um de seus sentimentos com esplendor, graças à excelência da animação e da trilha sonora.
Estrutura e mecânica renovadas
Os NPCs que habitam toda a floresta são, na realidade, uma das mais importantes implementações de Will of the Wisps. Isso pois, a partir deles, foi disponibilizado um sistema comercial. Distinto de Blind Forest, em que as habilidades eram automaticamente adicionadas ao personagem a partir de árvores de energia, desta vez, Ori pode obtê-las ao negociar com os animais.
Assim, uma nova gama de possibilidades foi implementada no jogo: agora não dependemos mais da bola espiritual para realizar os ataques, podemos invocar, também, outras armas como um grande martelo, uma espada, um arco, dentre outros. Entretanto, ainda devemos, para o desenrolar do jogo, encontrar as skills oferecidas pelas árvores, além de resgatar os fragmentos de habilidade espalhados pela floresta.
Apesar dessa vastidão, apenas três podem ser equipadas na árvore de habilidades que, por sinal, está com uma cara completamente nova. Para as skills inativas – aquelas que ocorrem automaticamente, sem necessidade de apertar um botão -, há, ainda, quatro espaços iniciais, mas que são estendidos conforme a realização de totens e desafios. Prepare-se para utilizar muito esses espaços pois, ao decorrer do jogo, será necessário sempre se adaptar escolhendo diferentes habilidades.
Com as difíceis sequências de plataformas e com os chefões desafiadores, o que você mais vai precisar é compreender quando e como usar determinadas skills. Aqueles que jogaram Blind Forest sabem muito bem como é fácil perder a cabeça tentando, repetidamente, passar por partes específicas do mapa, o que se mantém na segunda obra. Mas, convenhamos, é aí que está grande parte da graça do gênero metroidvania.
Com um mapa muito mais extenso, os obstáculos também aumentam. Em diversos momentos, o verdadeiro desafio não é encarar aqueles enormes animais assustadores – também conhecidos como bosses -, mas sim fugir deles, o mais rápido possível, entre plataformas perigosíssimas. Nesses momentos, a ansiedade que já citei várias vezes domina nossas mentes, demonstrando a imersividade inabalável de um jogo tão bem construído.
Um mundo de artes fantasiosas
Recheado de cutscenes e animações de qualidade inquestionável, Will of the Wisps é, sem dúvidas, uma obra de arte. Se integrando com o jogo, constantemente observamos em alguma das várias camadas do cenário, personagens importante para a lore correndo pelos cantos de maneira tão fluida que, às vezes, podemos até nos esquecer que aquilo que se passa em nossa tela não é um mundo verdadeiro, mas sim construído por pixels.
Ao jogar Ori, a sensação é a de habitar temporariamente uma belíssima pintura aquarelada, cheia de seres místicos, espiritualidade e animais curiosos que, nessa continuação, interagem mais diretamente com o mundo e conosco. Tudo isso, em uma construção artística impecável que traz uma imersividade absoluta, interligando a história do jogo, o cenário magnífico e suas diversas dimensões e, claro, nós, jogadores.
Não poderia faltar, também, uma trilha sonora impecável, capaz de contribuir ainda mais com a capacidade de absorção do game, assim como com sua identidade, trazendo sempre aquele ar místico e sensível. E é exatamente isso que Will of the Wisps nos entrega. Com músicas diferentes para cada parte do mapa, a intensidade ocorre de acordo com as aventuras, acompanhando seus altos e baixos.
Ori and the Will of the Wisps é uma obra completa. Ela atende com excelência todas as singularidades do gênero em que se enquadra, o metroidvania, enquanto também exerce um impecável papel artístico, conquistando por completo qualquer jogador. O jogo, de uma história simples e encantadora, tem suas mecânicas – muito completas – facilmente compreendidas e, portanto, é ótimo para gamers iniciantes, que querem iniciar suas aventuras mas, ainda, não conhecem os funcionamento dos mapas e árvores de habilidades. Versátil, é inesquecível para todos que o conhecem.
Crítica muito bem construída! A escritora tem ótimo gosto.