
Vitória Borges
Os vizinhos mais queridos do Upper West Side estão reunidos novamente, Charles (Steve Martin), Oliver (Martin Short) e Mabel (Selena Gomez) retornam mais uma vez com sua sagaz habilidade em desvendar mistérios. Na terceira temporada de Only Murders in the Building, indicada na categoria de Melhor Série de Comédia no Emmy 2024, o trio apaixonado por crimes reais é encarregado de manter a dinâmica e química que somente eles possuem. Criado por Steve Martin e John Hoffman, o seriado que conquistou uma legião de fãs mistura o humor afiado de Martin e Short com o jovem talento de Gomez.
Não muito diferente das outras duas partes, a terceira temporada de Only Murders in the Building acompanha o trio reunido para desvendar um misterioso assassinato, dessa vez, fora do Edifício Arconia. A nova fase da série ganha um ar teatral e implementa figuras novas ao seu enredo. A trama, que acompanha o drama do ‘Quem matou?’, segue dando show de glamour e excelência dentro e fora de cena.

Com o desafio de manter o frescor e a originalidade das temporadas anteriores que prenderam a atenção dos espectadores, o Teatro se torna o novo palco para os acontecimentos da série; Meryl Streep, Ashley Park e Paul Rudd se juntam ao elenco da nova parte da trama. A transição entre a teatralidade e o cenário narrativo dialoga entre si, afinal, tanto o Teatro quanto Only Murders in the Building vivem da performance, das máscaras e das revelações inesperadas.
Proporcionando novas vivências e interações entre os personagens, a inclusão de novos rostos é uma grande tentativa de expandir o universo da série e adicionar camadas de complexidade aos episódios. O papel de Rudd como o egocêntrico ator Ben Glenroy, e Meryl Streep, na pele da talentosa atriz Loretta Durkin, dão fôlego à terceira temporada, que é marcada pelo ar cômico, trágico e envolvente.
Características como fragilidade e sagacidade são essenciais para a narrativa de mistério da série, flutuando entre o suspense e a Comédia. No entanto, é impossível não notar que o seriado parece se perder em sua fórmula ‘risonha’ e descontraída. Episódios que poderiam conter excelentes acréscimos à trama acabam se alongando em diálogos pouco produzidos e sem sentido, dispersando o foco do mistério central da temporada.

Em 2024, Only Murders in the Building foi nomeada em 21 categorias do Emmy. Pelo terceiro ano consecutivo, o seriado foi indicado como Melhor Série de Comédia. A química entre os atores expõe muito o motivo da série ser tão aclamada pela crítica, não é atoa que Steve Martin e Martin Short foram ambos nomeados na mesma categoria como Melhor Ator em Série de Comédia. Eles se uniram a Matt Berry (What We Do in the Shadows), Larry David (Curb Your Enthusiasm), Jeremy Allen White (The Bear) e D’Pharaoh Woon-A-Tai (Reservation Dogs) na busca pela estatueta. No entanto, o vencedor da noite foi Jeremy Allen, o icônico Carmen de The Bear.
Após duas rejeições na premiação, Selena Gomez finalmente foi indicada na categoria de Melhor Atriz em Série de Comédia. A cantora conquistou a posição de produtora com ascendência latina mais indicada na história do Emmy. Ela competiu com Quinta Brunson (Abbott Elementary), Ayo Edebiri (The Bear), Maya Rudolph (Loot), Jean Smart (Hacks) e Kristen Wiig (Palm Royale), perdendo para a protagonista de Hacks.
Visualmente, a cinematografia explorou com maestria os novos ambientes de Only Murders in the Building, o figurino e a direção de Arte contribuíram para a criação de uma atmosfera única e familiar. O novo cenário teatral ofereceu um contraste interessante e excêntrico, expandindo o universo visual da série. Em 2024, a produção foi nomeada à categoria de Melhor Figurino Contemporâneo, porém disputou com fortes concorrentes, como The Crown – que saiu vitoriosa – e The Bear.

Misturar humor com tragédia nem sempre é fácil, mas a tranquilidade que a trama encontra um equilíbrio único entre mistério e Comédia é excitante. A série, que retorna com tudo, cantando e investigando uma temporada criativamente dramática na Broadway, parece confiar demais em seu próprio charme, esquecendo alguns pontos ainda em aberto e os deixando mal resolvidos.
Em resumo, Only Murders in the Building prova que, apesar de ter entregue uma temporada morna, ainda tem muito a oferecer. É impossível dizer que a série anda em uma linha tênue, já que possui erros e acerto durante sua produção. O mistério central da trama acaba não sustentando o peso das subtramas e da expansão narrativa dos personagens, colocando em jogo a necessidade de reavaliar a fórmula e encontrar novas maneiras de surpreender o público.