Guilherme Veiga
As cinebiografias – ou biopics como também são chamadas – sempre estiveram em voga no Cinema com obras como A Rede Social (2010), Gandhi (1982), Malcolm X (1992) e Fome de Poder (2016). No entanto, os últimos anos se mostraram ainda mais frutíferos para esse gênero e nos entregou várias produções, culminando numa sequência interessantíssima em 2023, que abarcou nomes como Tetris, Blackberry, Flamin’ Hot, Nosso Sonho, Meu Nome é Gal, Mussum: O Filmis, Napoleão, Oppenheimer e Priscilla.
Encostando na traseira desse estilo, as cinebiografias voltadas ao mundo automobilístico aos poucos vem tomando espaço, indo de Rush – No Limite da Emoção, passando por Ford vs Ferrari e checando no recente Ferrari de Michael Mann. Pegando carona nesse hype recente é que Lamborghini: O Homem por Trás da Lenda chega às grandes telas (isso se sua TV for grande o suficiente).
O longa conta a história de Ferruccio Lamborghini (Frank Grillo) desde sua pequena montadora de tratores até o famoso esportivo com o logo do touro no capô. O projeto é idealizado por Robert Moresco, conhecido pelo seu roteiro no oscarizado Crash – No Limite, que ironicamente também envolvia carro na trama. Moresco faz questão de deixar claro que é fã de automobilismo, inclusive deixando a entender isso no letreiro final do filme. Porém, isso só ajuda a evidenciar que foi uma obra feita às pressas com a propriedade intelectual que ‘sobrou’ nesse meio.
E por mais paradoxal que seja, calma e parcimônia são essenciais no mundo da velocidade, seja na vida real ou na ficção. Não contendo esses dois principais aspectos, a obra se torna uma tentativa destrambelhada, que se perde em seus próprios caminhos e não leva a lugar nenhum. Uma pena, pois Feruccio tem uma história boa e luxuosa, que aqui não foi tratada com 1% do glamour que merecia.
Chega ser irônico que a trajetória de uma das figuras da nova aristocracia italiana seja levada ao Cinema com uma produção tão baixa, porém, a obra não faz nem questão de tentar ultrapassar esse obstáculo. Para começar, o longa tem um grande background do país do velho continente em sua equipe, mas, ao invés de focar no idioma italiano, prefere apostar num inglês carregado de um sotaque muito estereotipado. O roteiro é raso e opta por dividir a história em capítulos, dando a entender que nem tudo sobre Ferruccio é interessante, deixando passar importantes passagens sobre o biografado. Nem mesmo a grande rivalidade entre a scuderia dos touros com a dos cavalos consegue ser aproveitada, parecendo um recalque do diretor por não ter conseguido retratar a história da montadora dos carros vermelhos.
Com essas lacunas, o longa tenta falhamente se preencher a partir de seu elenco. Frank Grillo (Capitão América: O Soldado Invernal) até tem um charme no papel principal, mas muito por conta do texto ter a mesma magnitude de sua capacidade de atuação. Juntam-se a ele a vencedora do Oscar, Mira Sorvino (Poderosa Afrodite) e Gabriel Byrne (Hereditário) que é o Enzo Ferrari da vez. Porém, suas presenças nem agregam a história, pois o diretor opta por reduzi-las ao máximo
Nem mesmo as cenas de corrida, que são os grandes chamarizes desse tipo de obra, animam. Na verdade, ver aqueles carros correrem sem nenhuma paixão e adrenalina nos faz ter vontade de deitar na pista enquanto eles passam. O longa insiste na tecla de que a história da Lamborghini se deu na base da frustração, tentativa e erro, só que o diretor teimou em ignorar as duas últimas e nos deixa somente frustrados.
Fica claro que Lamborghini: O Homem por Trás da Lenda tenta conversar somente com um público específico – e até nesse nicho se torna divisivo. Ele pode funcionar para os que são muito aficionados por carros e ainda não tiveram a oportunidade de presenciar um Salão do Automóvel ou uma etapa de Interlagos, pois nada mais é que uma vitrine de máquinas e acontecimentos. Fazendo um paralelo mecânico, ele tem uma lataria apresentável, mas, com problemas estruturais graves em seu chassi, não faz questão de se aprofundar, enguiçando antes mesmo da largada