Nathan Sampaio
O que faz um personagem ser popular? A sua história sofrida ou sua personalidade marcante? O visual icônico ou as falas de impacto? Talvez seja a mistura disso tudo. É o caso do Homem-Aranha, personagem da Marvel que teve seu primeiro filme lançado 20 anos atrás, e que alçou o herói a fama ao unir um roteiro simples, porém muito bem construído, com cenas memoráveis e um visual excepcional.
O longa de 2002 acompanha Peter Parker (Tobey Maguire), um adolescente comum, que certo dia é picado por uma aranha geneticamente modificada, e a partir disso começa a desenvolver poderes parecidos com o aracnídeo. Porém, Peter irá aprender da pior maneira que ter poderes significa ter responsabilidades, e esse pensamento passa a guiá-lo em sua jornada para se tornar um herói.
Não há nada nesse filme que não seja icônico, absolutamente tudo é memorável e impactante. Desde os simples diálogos até construções de cenas maiores, e tudo isso se deve ao roteiro caprichado de David Koepp, tendo como base os quadrinhos de Stan Lee e Steve Ditko, juntamente a direção perfeita de Sam Raimi, o qual, na época, era mais conhecido por seus filmes de terror, mas que fez um trabalho exemplar em seu primeiro projeto com super-heróis.
O roteiro é perfeito, pois, mesmo não sendo super inventivo, consegue criar uma história muito coesa e verossímil, isso porque ele dá o devido destaque aos elementos que mais importam. O maior exemplo disso é o seu protagonista, pois Koepp nos familiariza com toda a vida de Peter, mostrando seus problemas pessoais, sua frustração, sua personalidade bondosa e amorosa, o carinho para com os tios, e outros vários elementos que o transformam em um personagem complexo e muito crível.
O que torna Peter Parker um personagem plausível são exatamente os seus problemas, visto que muitos deles são iguais às dificuldades de qualquer pessoa comum, criando uma identificação instantânea, e, consequentemente, ganhando nossa afeição. É interessante que, mesmo após a sua transformação em herói, Peter continua com seus problemas pessoais, e essa dupla identidade cria várias dificuldades ao longo da projeção, o que torna sua jornada dolorosa, porém ainda assim, entendemos a importância dos seus atos.
Tobey Maguire, o intérprete de Peter Parker, tem ótimos momentos durante a projeção. Ele não é um ator excepcional, mas consegue transmitir muito bem as emoções necessárias; seu Peter é sofrido, carrega muitas dores e falha muito, porém, mesmo assim, ele não deixa de ser carinhoso e bondoso com todos. O ator combinou muito com o papel, tendo em vista que seu rosto jovial passa uma sensação de pureza, e isso torna o personagem mais verdadeiro.
Entre as maiores dificuldades enfrentadas pelo protagonista está o seu arqui-inimigo principal, o Duende Verde, interpretado, magistralmente, por Willem Dafoe. Seu personagem recebe muito destaque também, mostrando suas motivações e seu caminho até a loucura. A ligação entre ele e o Homem-Aranha torna suas cenas muito mais tensas e dramáticas, emoções que refletem no seu desfecho.
A presença de Willem Dafoe é tão marcante que ecoa por toda a trilogia protagonizada por Tobey Maguire. O personagem de Harry Osborn, interpretado por James Franco, sente a presença do pai por muito tempo, e todo o encerramento do seu arco no último longa reflete essa relação tempestuosa com o pai.
Homem-Aranha foi um sucesso não só por seu enredo bem construído, mas também por sua condução excepcional. O filme dedica o tempo necessário para cada uma das histórias que quer contar, como a ascensão do herói, a descoberta dos poderes e das responsabilidades, o nascimento do vilão e o embate entre ambos.
A direção de Sam Raimi é precisa, pois dedica o tempo certo para cada mini arco dramático, para que no final seja retratada uma história maior; esse é um grande mérito para um filme com apenas duas horas de duração. A condução é tão gostosa de acompanhar que não se sente o tempo passando, e, ao final, paira a sensação de “quero mais”.
Além disso, Raimi se dedica a compor planos e sequências visuais que são estonteantes. A mais memorável do filme é o beijo de cabeça para baixo na chuva entre Peter e Mary Jane (Kirsten Dunst), momento que se tornou muito reconhecível e se consagrou como uma das cenas mais famosas do Cinema mundial, tendo várias homenagens ao longo dos anos.
Todos esses elementos que envolvem roteiro, criação de personagens e a excepcional direção fizeram com que Homem-Aranha se tornasse um clássico instantâneo no Cinema de heróis. Servindo de base e inspiração para muitos filmes de super-heróis que vieram a surgir nos anos seguintes. Afinal, o longa de Raimi provou que quadrinhos podiam ser adaptados de maneira fiel, além de manter uma ótima qualidade cinematográfica.
Spider-Man gerou duas sequências e o personagem só cresceu com o passar dos anos, se tornando famoso e muito reconhecido entre o público geral, não à toa atualmente existem dez filmes focados no Cabeça de Teia, com expectativa de que saiam muitos mais. É inegável o fenômeno que o herói se tornou, ainda mais após ter feito a cabeça de toda uma geração de crianças que cresceu assistindo seus filmes; por isso há um apego emocional muito forte.
Recentemente, foi possível observar o poder que o Homem-Aranha de Sam Raimi, que comandou a nova aventura do Doutor Estranho, possui nas pessoas, pois o longa mais recente do Teioso, Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, traz de volta diversos personagens dessa franquia, e a emoção criada por rever todos esses personagens foi catártica. A aparição deles gera uma mistura de nostalgia com as boas lembranças que aquelas histórias deixaram, deixando o coração de qualquer espectador acalentado.
Homem-Aranha é um filme impecável e icônico por muitos motivos, porém seu sucesso em 2002 não foi só pela qualidade da obra, mas por tudo o que esse herói passou a representar. A vida turbulenta de Peter Parker pode criar uma forte empatia com o público, afinal, a plateia muitas vezes se sente representada em tela, e a determinação de Peter em continuar fazendo o certo repetidas vezes gera esperança e inspiração no coração de todos. E, por isso, o personagem continua, e sempre continuará, relevante.