Nathan Sampaio
Em 2014, foi lançado Godzilla, um filme que surgiu como uma proposta de trazer de volta um dos maiores (sem trocadilhos, risos) monstros do Cinema. Esse longa-metragem seria a porta de entrada para um universo compartilhado de filmes formados por monstros gigantes, o chamado “monsterverse”, projeto que seguiu com Kong: A Ilha da Caveira e Godzilla II: Rei dos Monstros lançados em 2015 e 2019, respectivamente. E agora, em 2021, esse universo chega ao ápice com o novo filme: Godzilla vs. Kong.
A título de curiosidade, vale ressaltar que esse não é o primeiro encontro entre esses dois ícones do cinema. Há um filme de 1962, intitulado King Kong vs. Godzilla, o qual foi uma coprodução entre Estados Unidos e Japão. Por causa disso, houveram diversas divergências entre os dois países, fazendo com que fossem lançadas duas versões do filme, uma estadunidense e outra japonesa, e talvez por essa versão ter sido caótica e por ter se tornado datada com o tempo, ela foi completamente esquecida.
Mas enfim, Godzilla vs. Kong, de 2021, acompanha duas histórias simultâneas. Uma delas é focada no Godzilla, o qual começou a atacar sedes da empresa Apex sem motivos aparentes, e cabe a Madison (Millie Bobby Brown), Josh (Julian Dennison) e Bernie (Brian Tyree Henry) descobrirem o porquê disso estar acontecendo. A outra história acompanha Kong, que está preso dentro de uma redoma na Ilha da Caveira, porém devido aos recentes ataques do Godzilla, os doutores Nathan Lind (Alexander Skarsgard) e Ilene Andrews (Rebecca Hall), juntamente com a garotinha Jia (Kaylee Hottle) decidem levá-lo em uma jornada para buscar uma fonte de energia que pode ser a única chance dos humanos contra o lagarto gigante.
O enredo do filme, no geral, como podemos observar, é bem simples, direto e em alguns momentos é até meio bobo, porém ele funciona exatamente por isso, o diretor Adam Wingard entende que o foco desse longa não é uma história elaborada e emocionante, mas sim uma briga entre um macaco gigante e um lagarto gigante e com poderes. Para essa trama funcionar, bastaria que a luta tivesse suas motivações e que a história que ligasse tudo fosse minimamente bem feita e coerente, e o filme traz literalmente isso.
A divisão da trama em dois núcleos é boa para dar destaque a cada um dos gigantes do título, e tentar humanizá-los e mostrar suas intenções nos confrontos. O grupo que acompanha a jornada do Kong é o que carrega os melhores personagens do filme, porque todos eles possuem objetivos a serem cumpridos, o que dá um dinamismo à história, que jamais deixa de ser coerente, além de cada um deles ter um mínimo de caracterização para que o espectador se importe com eles. O maior destaque é a jovem Jia, que carrega a maior carga emocional do filme, e a atriz faz um ótimo trabalho mesmo sendo iniciante.
Já o núcleo que acompanha o Godzilla é bem problemático, pois os personagens são muito desinteressantes e muito rasos, servindo apenas para fazer piadas ocasionais, as quais funcionam de vez em quando. Além disso, os obstáculos presentes nessa trama são resolvidos facilmente, além de dependerem de várias conveniências para prosseguir. Essa disparidade entre as duas histórias paralelas acaba prejudicando um pouco a experiência de imersão no filme.
Em relação aos protagonistas, Kong é o que possui maior destaque, afinal, ele é o monstro que está do lado dos humanos. É interessante esse foco, pois o roteiro de Eric Pearson e Max Borenstein utiliza os seus dramas e a sua jornada para expandir esse universo de monstros, criando situações instigantes, cenários bacanas e até mesmo uma mitologia curiosa, as quais podem ser exploradas em um futuro longa-metragem. Godzilla não é tão explorado, até porque ele já possui dois filmes anteriores. Nessa história, ele serve mais como um antagonista e um rival na maior parte da trama, um papel muito bem desempenhado, uma vez que representa uma grande ameaça a todos os personagens.
Mas enfim, vamos falar do que realmente importa, que é a briga entre ambos. Nesses momentos, o filme realmente brilha e mostra ao que veio, uma vez que todas essas cenas são muito diferentes entre si e muito bem realizadas. Todo soco, chute, raio lançado ou machadada são sentidos pelo espectador, pois o diretor e a equipe de efeitos visuais, comandada por John “DJ” Des Jardin, buscam trazer um peso nas lutas e nos movimentos dos monstros, isso torna mais crível e mortal o embate.
É muito interessante também que cada cena de combate tem suas peculiaridades, pois o roteiro e a direção buscam novos ambientes e novas armas para que a estrutura das lutas sempre seja diferente. Por isso, em cada embate um deles terá a vantagem, tornando assim mais difícil de prever quem será o vencedor definitivo.
Ainda em relação a essas cenas de batalha, é interessante se notar que elas são sempre muito dinâmicas, a câmera se movimenta de um lado para o outro, além de mostrar ângulos mais distantes que exploram toda a grandeza e a destruição causada pelos colossos. Por esses vários motivos, a luta é sempre catártica, gerando momentos de pura empolgação com tudo o que está sendo mostrado.
Um elemento que está diretamente ligado aos combates são os efeitos visuais, que não podem passar em branco sem elogios, afinal eles são surpreendentes. A equipe de efeitos consegue criar monstros muito palpáveis, é perceptível a textura dos pelos do Kong e como elas interagem com o ambiente, as escamas e as guelras do Godzilla também parecem muito orgânicas e vivas, é surreal de tão bem feito.
Como o filme possui esses monstros bem críveis, consequentemente as lutas também possuem ótimos efeitos, cheios de uma movimentação fluida, frenética e orgânica. A confluência desses colossos com um cenário vivo, o qual também possui efeitos digitais, ajudam a construir cenas de ação que são um grande espetáculo visual.
Por último, os efeitos, além de servirem aos combates, também agregam nos momentos dramáticos dos gigantes de Godzilla vs. Kong, pois esse artifício ajuda a dar expressões faciais, mesmo que simplórias em alguns momentos, aos monstros. Isso é de suma importância para que eles sejam humanizados e que possamos nos importar com o destino deles.
Outro aspecto técnico que serve em favor das lutas é a fotografia de Ben Seresin, que foi responsável por criar iluminações distintas nas cenas de ação, algo que ajuda a diferenciá-las e cria um ambiente visualmente lindo. A iluminação ajuda tanto a diferenciar as cenas, que embora o filme tenha duas cenas que se passam no mesmo cenário, elas se distinguem por uma delas ocorrer à noite, à luz dos prédios, e a outra ocorre no amanhecer, isso é um exemplo prático do quão bom esse recurso é utilizado em Godzilla vs. Kong.
Portanto, Godzilla vs. Kong é um filme com uma história um tanto boba, com alguns personagens bons e outros nem tanto, porém nada disso atrapalha demais a experiência, uma vez que a maioria das situações apresentadas são coerentes e cativantes, além de servirem de apoio ao grande confronto que dá nome ao filme. Todos os embates são excelentes, possuindo efeitos deslumbrantes e dinâmicas de luta muito bem feitas. Em resumo, esse filme é bem empolgante, catártico e divertido, o mais puro entretenimento.