Gabrielli Natividade da Silva
Lançado em 2021 não somente nos cinemas, mas também na plataforma de streaming Star+, Free Guy: Assumindo o Controle chega e se mostra ser mais do que apenas um filme de videogame. Escrito por Matt Lieberman e Zak Penn, e dirigido e produzido por ninguém menos que Shawn Levy – responsável por um dos maiores sucessos da Netflix, Stranger Things –, o longa possui um roteiro interessante, um ritmo envolvente, um balanço perfeito entre comédia e ação, e, claro, efeitos visuais impressionantes que fazem qualquer um ter vontade de jogar o famoso Free City.
Infelizmente, é impossível jogar o game apresentado no filme, uma vez que Free City não existe, mas todos que se apaixonaram ainda podem desbravar os outros jogos que serviram de inspiração para a produção. Shawn Levy citou entre essas grandes influências Grand Theft Auto (também conhecido como GTA e provavelmente a referência mais óbvia pela adrenalina e pelo caos constante vistos nos dois produtos), Fortnite (que também tem uma dinâmica e outros elementos similares aos do filme) e Uncharted (que conta com o mesmo espírito de aventura visto em Free Guy).
Falando sobre a história em si, Ryan Reynolds dá vida ao protagonista chamado Guy, um homem comum que trabalha como caixa no banco da cidade sem ter a mínima noção de ser um NPC (Non-Playable Character, em outras palavras, um personagem secundário no jogo). Ele e os demais moradores de Free City vivem uma rotina monótona, todos os dias repetindo as mesmas ações e sendo vítimas da violência dos visitantes de óculos escuros (os jogadores do videogame). Guy só consegue se desprender dessa mesmice e conhecer a verdade por trás de sua existência ao conhecer a garota que sempre idealizou para si, Molotov Girl (Jodie Comer), a jogadora imparável atrás de seu objetivo.
Além de Ryan e Jodie, Free Guy ganha mais peso ainda com outras estrelas em seu elenco. O programador nerd que encantou corações, Keys, foi interpretado por Joe Keery, o bad boy queridinho de Stranger Things; e Utkarsh Ambudkar – que já tinha experienciado o perfil nerd em A Escolha Perfeita – viveu seu amigo, Mouser. Buddy, melhor amigo de Guy, foi trazido à vida pelo comediante Lil Rel Howery (que tem a capacidade de fazer o espectador rir até em filmes de alta tensão, como Bird Box e Corra!);
O antagonismo do longa ficou por conta de Antwan, vivido por Taika Waititi, que deu um show de atuação na grande produção que lhe rendeu um Oscar, Jojo Rabbit. Ademais, Free Guy contou com muitas participações especiais que foram muito divertidas de assistir e identificar, alguns atores convidados foram Chris Evans, Channing Tatum e Matty Cardarople, e os streamers (responsáveis por trazer mais veracidade e credibilidade para a ideia de um jogo que se tornou um fenômeno no mundo) que tiveram aparições foram Jacksepticeye, Ninja, Pokimane, DanTDM e LazarBeam.
Free Guy não foi o pioneiro em questão de retratar o mundo dos games. Detona Ralph, já em 2012, se tornou um sucesso ao traçar aventuras dentro de diferentes fliperamas; e, três anos depois, Adam Sandler vestiu um uniforme e combateu personagens de jogos famosos que invadiram a Terra, no filme Pixels. Contudo, o pulo do gato está no fato de que, apesar de ser um filme surreal, Free Guy se mostra uma produção mais “pé no chão” do que as outras citadas, pois há realmente uma explicação científica e plausível que descreve o comportamento do universo de Free City. Millie apenas entrou no game como Molotov Girl para conseguir provas de que os códigos que criou com seu melhor amigo, Keys, foram roubados por Antwan. Ao longo da produção muitas informações são dadas a respeito desses códigos e como eles afetam Guy e os outros NPCs, é uma trajetória realmente interessante e original.
A produção de Shawn Levy também teve muito destaque na sua estética, o balanço perfeito entre elementos do mundo real e os do mundo criado, além do design incrível e idêntico ao de um videogame de verdade. O diretor explicou um pouco sobre como criar esse contraste de realidades: “Filmamos o mundo real usando uma paleta de cores frias, cheia de azul, cinza e preto […]. Já nos momentos em que os personagens estão inseridos no jogo usamos cores mais quentes, com composições mais limpas e simétricas […]”. Também é importante ressaltar como Free City é fiel ao conceito livre de regras, todos os conceitos de física são ignorados, como um verdadeiro sonho lúdico e maravilhoso. Pode-se dizer que todo esse trabalho rendeu um bom resultado, Free Guy: Assumindo o Controle foi indicado ao Oscar 2022 de Melhores Efeitos Visuais, ao lado de outros grandes sucessos, como Duna e Homem-Aranha: Sem Volta para Casa. Os responsáveis nomeados foram Swen Gillberg, Bryan Grill, Nikos Kalaitzidis e Daniel Sudick.
Nesse longa, Guy se tornou um exemplo de desenvolvimento de personagem, desenvolveu seu próprio propósito, manteve consigo o que lhe fazia bem, passou por novas experiências e deu adeus àquilo que ele sabia não ser necessário para sua existência, além disso, induziu seus parceiros NPCs a fazerem o mesmo. Como dito antes, Free Guy é mais do que apenas um filme de videogame: é uma mensagem a todos os espectadores para que se libertem de suas amarras e de suas rotinas monótonas, se aceitem como donos de suas próprias vidas. É visto, acima de tudo, um grande peso de positividade, esperança e conforto, e essa é, com certeza, uma das razões para ter sido abraçado em seu lançamento.