Ana Beatriz Rodrigues
A mistura de reality show e música pode dar ótimos resultados. Por exemplo, o grande sucesso de realities musicais no Brasil, como o The Voice e o Ídolos. Porém, há uma grande competição que não é tão familiarizada fora da sua localização. O Eurovision Song Contest (Festival Eurovisão da Canção) é um grande concurso da União Europeia de Radiodifusão, que não possui ligação direta com a União Europeia. E foi assistindo uma edição desse programa que o ator Will Ferrell teve a ideia de fazer uma comédia sobre o reality. Depois de 20 anos de sua concepção, Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars chegou na Netflix.
O filme, lançado em 2020, é assinado e protagonizado por seu idealizador Will Ferrell, que interpreta Lars. Ao seu lado, no papel principal, temos Rachel McAdams como Sigrit, que junto com Lars forma uma amizade de longa data e uma dupla musical. Além disso, eles são moradores de uma pequena cidade na Islândia, Husavik. Desde criança, Lars alimenta o sonho de se apresentar e vencer o Eurovision. E por meio de muita sorte e até ajuda de elfos, os amigos são surpreendidos e escolhidos para participar da seleção nacional que poderá levar eles para a competição.
Nesse momento, temos a breve participação da Demi Lovato. Os fãs da cantora que esperavam matar a saudades nessa produção podem ter ficado um pouco decepcionados com sua curta atuação. No filme, Demetria interpreta Katiana, uma talentosa cantora da Islândia que possui grandes chances de ganhar o Eurovision. O jeito será ver um pouco mais de Demi Lovato no seu documentário. No filme, ainda há outras participações, Salvador Sobral e Conchita Wurst foram participantes de edições do programa na vida real e cantaram também no filme.
Mas nem só de participações que o longa se sustenta. O elenco é recheado de atores renomados, como Dan Stevens de A Bela e a Fera e Pierce Brosnan de 007 e Mamma Mia. Falando nesse clássico musical, Festival de Eurovision repete a fórmula de usar ABBA como plano de fundo, só que dessa vez não passou de uma tentativa. Além de que, nesse longa, há várias canções originais, requisito básico para participar da competição na vida real e no filme.
Foi uma dessas canções que teve o poder de levar a produção da Netflix ao Oscar 2021. Concorrendo a Melhor Canção Original, Husavik (My Hometown) fala sobre a cidade natal dos protagonistas, revelando orgulho com uma linda melodia. No filme, a composição é dublada por Rachel McAdams, mas quem canta essa e todas as outras canções do longa é Molly Sandén. Ela é cantora e dubladora sueca, e participou do Junior Eurovision em 2006.
Husavik foi composta por grandes nomes na música. Um deles é Rickard Göransson, que leva os créditos por God is a woman e Bang Bang, além de também produzir para Avril Lavigne, Ellie Goulding, Nick Jonas, entre outros. O cantor e compositor Fat Max Gsus, assim como Savan Kotecha, também já escreveu hits para vários artistas como One Direction e Maroon 5, integram o quadro de compositores dessa canção.
Mesmo com todas essas trajetórias, Festival Eurovision da Canção pode não ser o favorito da Academia. Mesmo que seja uma boa música, My Hometown concorre com Fight For You, de H.E.R., Dernst Emile II e Tiara Thomas, que possui um impacto social muito maior na trilha de Judas e o Messias Negro. Assim, H.E.R. teria chances de ganhar o Grammy e o Oscar no mesmo ano, já que levou o gramofone por I Can’t Breathe.
My Hometown é apenas uma das músicas da produção e a única que não possui uma apresentação exagerada. Todas as outras cenas musicais na competição abusam de luzes, efeitos especiais, dança e figurinos que chamam muito a atenção. E são esses os momentos que mais prendem a concentração das duas longas e desnecessárias horas de filme. O longa produz essas cenas como representação real e sátira do Eurovision real, já que as apresentações acontecem dessa forma extraordinária. Outro aspecto absurdo da produção é o roteiro e sua história um pouco sem sentido. Como típicos besteiróis, há cenas e situações absurdas que nunca vão acontecer realmente e isso pode incomodar ou agradar muito.
A dupla Fire Saga, formada por Sigrit e Lars, se depara com vários talentos ao chegar ao concurso, que são um dos seus grandes desafios. Entretanto, Lars não quer desistir do seu sonho e pode ser egoísta demais nesse ponto. Sem escutar sua amiga, ele acaba magoando Sigrit e isso traz consequências para os dois. Por mais que esse filme não soe como um lugar para reflexão, essa situação te faz pensar sobre como em algumas situações é preciso repensar sobre nosso modo de agir e se aquilo pode nos causar danos.
Com todos os seus defeitos e perfeições, Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars oscila mais para seus pontos fracos. As músicas possuem boas melodias, mas as letras não possuem sentido. O romance do casal protagonista é um lado da trama que até pode parecer loucura no começo porém a forma que é tratado fica coeso. Mesmo abordando sobre relações de amizade, irmandade e amor, Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars é um filme de comédia para se divertir e se distanciar um pouco desse mundo também bagunçado, mas real, em que vivemos.