Fênix Negra: a mutante mais poderosa do universo X-Men e nem precisa de manopla

Sophie Turner comanda o fechamento de uma das franquias mais populares do cinema (Divulgação)

Mariana Godoy

A nova estreia da Marvel Entertainment, Fênix Negra, traz o desfecho de quase 20 anos de história dos mutantes, desde a estreia de X-Men em 2000. É o último filme de super-heróis distribuído pela 20th Century Fox e é perceptível a influência negativa da Disney nas mudanças. Este é o primeiro filme dirigido por Simon Kinberg, que está envolvido com a franquia como produtor e roteirista desde o início.

O filme conta com Sophie Turner (Game of Thrones), Jessica Chastain (Interestelar), James McAvoy (Fragmentado) e Michael Fassbender (acusado de violência doméstica). Este é o segundo filme que Chastain e McAvoy contracenam juntos e em setembro estarão novamente compartilhando cenas em IT – A Coisa: Capítulo Dois.

A divulgação do longa teve início no Brasil, na Comic Con Experience em dezembro de 2018, com a presença de Turner, Chastain e Kinberg no evento, onde falaram sobre o processo criativo do filme, bem como a representação de super-heroínas no cinema e a abordagem de Jean Grey em Fênix Negra.

Jessica Chastain e Sophie Turner agraciaram o painel da Fox na CCXP 2018 (Divulgação)

Jessica, além de ser uma das principais vozes de Hollywood sobre o movimento Time’s Up, igualdade salarial entre homens e mulheres, e mulheres brancas e negras, não têm se silenciado sobre as recentes leis anti-aborto aprovadas em vários estados americanos, chegando a assinar uma carta (junto com Sophie Turner e Brie Larson) afirmando que não trabalhará mais nesses estados.

Está claro que mulheres poderosas e empoderadas incomodam. Em seu primeiro dia em cartaz, sites de críticas estavam detonando o filme, com críticas sem sentido e majoritariamente feitas por homens. Embora o filme não tenha atendido às expectativas do público, fica nítido que o foco em protagonistas femininas e as visões políticas das atrizes influenciaram as críticas negativas e as notas baixas, assim como aconteceu em Capitã Marvel (2018).

Em Hollywood, mulheres exigindo igualdade e um ambiente de trabalho seguro tem mais repercussão negativa do que o histórico de abuso de atores, como Fassbender.

A produção foi prejudicada desde o início, principalmente em meio a rumores da compra da FOX pela Disney, que se concretizaram posteriormente, e as extensas refilmagens, que alteraram o terceiro ato inteiro. Enquanto Kinberg afirmou que o motivo das refilmagens foi para melhorar o final, McAvoy e outros atores disseram que o mesmo estava muito parecido com outro filme que a Marvel Studios lançou recentemente: o longa protagonizado por Carol Denvers.

No entanto, acreditam que a influência da Disney para deixar pontas soltas e inserir os mutantes no futuro do Universo Cinematográfico da Marvel, mesmo sem planos concretos sobre a abordagem que pretendem fazer, foi decisiva para as refilmagens.

O longa apresenta a origem de Jean Grey, que teve seus poderes manifestados quando criança e resultou em um trágico fim de seus pais, sendo acolhida por Charles Xavier e passando a viver na escola de mutantes para aprender a controlar seus poderes. Como visto em X-Men: Apocalipse (2016), a jovem Jean ainda não tinha controle total de seus poderes, e foi possível ter um vislumbre do quão poderosa ela é.

Em 1992, Charles Xavier está disposto a arriscar a vida de seus alunos para impressionar os humanos, que não enxergam mais os mutantes como ameaça. Em uma missão da NASA que dá errado, Charles envia os mutantes para salvar os astronautas, e embora Jean esteja apreensiva, ela acompanha os X-Men no resgate. Porém um fator inesperado faz com que Jean fique presa dentro da nave e acabe sendo atingida por uma força cósmica, que a transforma na mutante mais poderosa do universo.

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Ao ver que não consegue controlar seus poderes e acabar ferindo pessoas próximas a ela, Jean foge da escola de mutantes enquanto tenta descobrir o que há de errado com ela. Em um confronto com os X-Men, Jean acaba matando acidentalmente Raven (Jennifer Lawrence) e procura Magneto para ajudá-la, sem sucesso. Enquanto isso, é apresentado a personagem de Jessica Chastain, um alienígena do Império D’Bari, que assume a forma de uma dona de casa e está à procura da força cósmica que adentrou Jean.

A história apresenta bem os traumas psicológicos da Jean e as mudanças de personalidade, de Jean para Fênix, reforçado pela mudança de cor nos olhos dela e a ótima atuação de Sophie, que procurou se informar sobre esquizofrenia e transtorno de múltiplas personalidades.

O mistério envolvendo a personagem de Jessica Chastain trouxe poucas respostas e uma revelação nada impactante. Enquanto a vilã deixa claro o porquê de estar procurando Jean, não houve uma profundidade na personagem, embora a atuação entregue pela atriz tenha sido ótima, considerando o material disponível.

Pouco se sabia sobre a personagem de Jessica Chastain, Vuk. O roteiro não sana essa dúvida (Divulgação)

A própria atriz parecia confusa durante as entrevistas concedidas, sem saber exatamente o que e quem a vilã era, o que deixa dúvidas: teria sido ela uma Skrull originalmente, e quando as refilmagens foram feitas, mudaram a personagem para evitar comparações com Capitã Marvel? Afinal a vilã Vuk é de uma raça alienígena que pode mudar de forma, vem à Terra em busca de um novo lar e manipula Jean Grey para usar seu poder.

Personagens secundários não são bem aproveitados, mas não é necessariamente um problema. Enquanto Tempestade teve seus momentos nas cenas de ação, Hank foi inútil praticamente o filme inteiro e o arco de Ciclope girou em torno de Jean. Mercúrio foi pouco utilizado, e sua história de paternidade nem foi mencionada.

Pela primeira vez na franquia X-Men, o icônico personagem Wolverine não teve aparições nem foi mencionado, mas também não faz falta. A relação entre Magneto e Charles não foi muito aprofundada, e apesar de Xavier possuir um papel importante na vida e redenção de Jean, o arco de Magneto foi irrelevante.

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Destaque a uma cena com poucos segundos de Raven afirmando a Charles Xavier que as mulheres salvam tanto o mundo que deveriam mudar o nome da equipe para X-Women. Uma cena rápida, mas que logo repercutiu nas redes sociais e irritou os fãs geeks (masculinos, óbvio).

O filme apresenta cenas românticas completamente descartáveis, incluindo o triângulo amoroso entre Raven, Magneto e Hank, que se iniciou em X-Men: Primeira Classe (2011). Raven teve sua morte anunciada na divulgação dos trailers, portanto não houve choque nem emoção durante a cena. O arco da mutante foi raso e previsível e, além da péssima atuação de Lawrence, a maquiagem e peruca de Raven estavam horrendas.

A linha do tempo não condiz com a trilogia original dos X-Men. Apesar da história do primeiro filme se passar apenas 8 anos após Fênix Negra, os personagens ainda estão novos, longe da aparência dos atores do longa de 2000. Além disso, a confusão feita em X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (2014) contribuiu para as teorias de diferentes linhas do tempo e cronologia dos acontecimentos ao longo da saga.

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A trilha sonora de Hans Zimmer é impecável, as cenas de ação estão bem coreografadas, a fotografia e o CGI não deixam a desejar, mas as inconsistências do roteiro incomodam e as refilmagens são perceptíveis. Ao tentar evitar comparações com Capitã Marvel, o filme acabou tendo semelhanças com X-Men: O Confronto Final (2006), onde o arco de Jean Grey acabou ficando muito parecido.

É praticamente impossível não contrastar Fênix Negra aos filmes da Marvel, visto que a pré-estreia de Homem Aranha: Longe de Casa já está com ingressos vendidos, enquanto Fênix Negra, além da pouca divulgação e sem pré-estreia, contava com poucas pessoas na sessão. A discrepância entre os dois universos deixa claro que os mutantes não estão na lista de prioridades da Disney. E um fim melancólico e insatisfatório da franquia é o suficiente para encerrar quase duas décadas dos mutantes.

Ouso dizer que o estúdio do Mickey contribuiu para o fracasso do filme, para que o público se anime com a introdução dos mutantes no UCM, afinal não se sabe ainda o destino que o mesmo terá. Porém foram deixadas brechas nos filmes para o futuro do Universo após os eventos de Vingadores: Ultimato (2019), com a criação do multiverso e a personagem Wanda Maximoff, que originalmente nos quadrinhos é mutante, filha de Magneto e possui o poder de alterar a realidade.

A Disney também está interferindo no lançamento de Novos Mutantes, outro filme da FOX que foi prejudicado após a venda da produtora, que vem sendo adiado múltiplas vezes e possivelmente não será lançado.

Fênix Negra é uma produção melhor que seu antecessor, porém os furos do roteiro e seu final insatisfatório não deram a uma saga de 19 anos a atenção e desfecho que merecia.

As mulheres não aceitam mais ser apenas secundárias ou figurantes, elas são principais e continuarão sendo, porque mulheres são tão complexas quanto os homens e suas histórias merecem e devem ser contadas da perspectiva feminina. Claramente, o olhar masculino aqui foi muito forte, afinal o roteiro e direção foram feitos por um homem, mas as atrizes fizeram ótimo trabalho com o material disponível.

Embora o filme tenha matado 4 das 5 mulheres presentes no longa, Fênix Negra deixa claro que suas mulheres são as personagens mais poderosas e interessantes, que se sacrificam e salvam o mundo.

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