Júlia Paes de Arruda
Sim, é isso mesmo que você está pensando: Joe Jonas tem um álbum solo e ele está completando uma década este ano. Ainda que seja completamente esquecível para muitos de nós, Fastlife foi a grande chance do irmão do meio longe dos holofotes da Disney e um dos primeiros indícios da separação da banda que o impulsionou nesse meio. Com poucos acertos, seu trabalho buscou trazer alternativas ousadas e versões desconhecidas do artista até aquele momento, distantes da imagem do querido intérprete de Shane Gray.
O período em que Fastlife surgiu não era o mais favorável. Com os muitos rumores sobre o término do Jonas Brothers, tudo envolvendo o grupo estava à flor da pele. Tentando se afastar da sua versão Disney e da sua imagem de “garoto do anel de castidade”, Joe Jonas pendeu para uma aparência amadurecida, buscando um público mais adulto que não o acompanhava. Não é à toa que apenas as três primeiras faixas são as mais conhecidas e que seu álbum não foi bem recepcionado pela crítica, que ainda o associava a sua figura teen.
All This Time é uma excelente escolha como abertura do álbum. Com energia mais vibrante, a primeira música de Fastlife é aquela que mais se aproxima do cantor que já estávamos acostumados. Com um toque eletrônico, Joe consegue explorar os pontos fortes da sua voz sem grandes esforços. A faixa também passa, de certa forma, um sentimento de gratidão. “Você esperou todo esse tempo” é de fato a sensação que um fã teria, vendo seu artista favorito crescer e mostrar ao público uma versão muito menos caricata e desengonçada que predominava nas séries.
O clipe é essencial para demonstrar essa ligação, mostrando a rotina do irmão Jonas em seu espaço e seu contato com as fãs. Pode parecer patético, mas sim, eu realmente esperei por todo esse tempo para que Joe Jonas pudesse ser visto longe das sombras que o cercavam. E isso, quem concretiza é See No More, a terceira música de Fastlife que mais contribuiu para que essa imagem pudesse ser alcançada. O eu-lírico carrega uma fúria (e um pouco de drama) nos versos, talvez por um término brusco (grande ironia, não?) ou uma possível traição. Independente do motivo da frustração, há um peso de agressividade e descontrole, e o clipe consegue transmitir essa mensagem. Com cenas de fogo e explosões de muros, é como se o cantor de Arizona se arrebentasse e soltasse tudo o que sente, ainda que de forma muito coreografada e dramática.
Há também quebras de ritmos, como a romântica Just in Love e a melancólica Sorry. A primeira, decerto, foi a que mais trouxe visibilidade para seu projeto solo. Quase consigo imaginar meu eu adolescente, torcendo para que recebesse essa música de alguma paixonite. Palavras são um desperdício de tempo é o verso que mais descreveria essa emoção ao ouvi-la, sentindo seu coração vibrar.
A música busca um equilíbrio entre um pop mais usual com certas doses de serenidade, construindo aquela típica faixa que nós imaginamos ouvindo dentro de um ônibus, em um dia de chuva. Possivelmente pelos tons acinzentados e o pesar que o clipe transmite, já que o diretor investiu numa fotografia sem animações e elementos coloridos para a filmagem. Não é por acaso que se trata do seu produto com mais visualizações no YouTube e com maior números de reproduções no Spotify.
Segundo seus depoimentos, Joe tentava alcançar músicas “de baladas pop” com Fastlife. É possível enxergar essas tentativas em Make You Mine e Kleptomaniac, sendo esta segunda com um toque do eletrônico dos anos 2000/2010. Not Right Now se aproxima do pop mais contemporâneo, uma mistura de New Rules da rainha Dua Lipa com This Is How We Do da versátil Katy Perry. Contudo, sua aposta em uma pegada R&B conseguiu valer pouco, vendendo menos de 18 mil cópias na primeira semana de seu lançamento.
Com o fracasso de seu álbum, pouco se ouviu falar do cantor sem estar vinculado aos seus primórdios com os Jonas Brothers, inclusive depois do fim da banda em 2013. Sua notoriedade voltou com a chegada de DNCE, fundado em 2015 por ele e seus amigos. Arriscando-se mais no estilo funk-pop, o quarteto foi parar no topo das paradas com Cake By The Ocean. Por ser um hit chiclete, ela não consegue passar despercebida por poucas pessoas. Até o momento, é o trabalho mais reconhecido do irmão Jonas, com mais de um bilhão de streams no Spotify.
Pelo fato dele não ter sido o precursor do fim dos Jonas Brothers, Joe Jonas imaginou que Fastlife poderia ter sido um começo para se apoiar na carreira, assim como aconteceu com Nick. Contudo, sem esse respaldo do público e na sombra de diversas polêmicas, seu álbum foi ignorado e despercebido pela grande maioria dos ouvintes. Apesar desse fiasco, seu disco tem um espaço no coração de muita gente sem valer muita coisa, além de saudades da época da adolescência.