“Eu falei pra minha mãe que eu tenho medo/Eu ainda tenho medo/Ela me disse que eu não tô sozinho/Esse é seu ídolo”
Elder John
Existem duas certezas na vida: uma é que vamos morrer e a outra é que dia 13/03 tem álbum do Djonga. O rapper emplacou mais uma produção pelo quinto ano seguido. Heresia (2017), O menino que queria ser Deus (2018), Ladrão (2019), Histórias da minha área (2020) e agora NU (2021).
A produção conta com apenas duas participações nas letras, Doug Now e Budah. A capa é mais uma vez um ponto de destaque, a cabeça do artista na bandeja, como ele entende que é o desejo de muitos, principalmente daqueles que o julgam.
Sobre a escolha do nome, ficar nu é algo totalmente íntimo e Gustavo nos mostrou mais uma vez seu lado humano, mas dessa vez de uma forma mais direta. O artista trouxe um álbum que é uma obra completa, uma faixa complementa a outra e todas juntas contam uma história.
Outra característica marcante no álbum é a questão das referências, tanto nas letras, quanto nos clipes. A principal é o próprio Djonga em cima de um cavalo branco com um revólver na mão, em alusão à Django Livre. Além disso, todas as produções audiovisuais também contam com uma sequência e completam a narrativa contada pelo rapper.
Existe muita pressão nos artistas em geral, para não errarem, serem pessoas perfeitas. Ainda mais no rap, todo aquele discurso de que o rapper não pode se vender, tem que ser leal, mas do que vale ganhar o país e perder a si mesmo?
E pensando nisso que Djonga se afastou das redes sociais e buscou ficar mais próximo da família, voltar a ser o Gustavo Pereira da Zona Leste de Belo Horizonte: “Ó, saudade de andar por aí/Vento na cara e ninguém pra assistir/Falar o que penso sem ter que acertar/Sabe a sensação de só existir?”, como canta na música Xapralá.
O estudante de produções audiovisuais, Gustavo Henrique, nos contou sobre o que sentiu ao ouvir o disco: “Ao mesmo tempo que nos dá um choque de realidade, nos alivia deste momento caótico e nos recarrega, chorei do inicio ao fim com este álbum, tanto pela representatividade, quanto pelo momento vivido por nós e pelo artista. Me trouxe um alívio e limpeza, O Menino Que Queria Ser Deus pra ser mais humano, esta é uma obra de Djonga para o Gustavo Pereira“.
Por outro lado, Aiza Pereira, estudante de Engenharia Civil, teve uma outra percepção sobre a obra: “Eu curti muito a primeira música, ele começa o disco com uma explosão mas muda o ritmo durante o álbum e você fica esperando mais dessa explosão que só volta na última faixa. Ele trouxe algo mais “leve”, mas ainda sim Djonga. Falaram sobre “mais do mesmo”, mas o mesmo dele é ótimo, não quer dizer que seja ruim”.
Djonga entende e até admite essa mudança no ritmo: “Já fui camisa nove, hoje eu faço o meio de campo/Pros manin’ que tá no ataque não tomar nem mei’ pipoco”. Essa é só mais uma das passagens marcantes da obra, fazendo uma analogia a um movimento corriqueiro no mundo do futebol: atacantes que viraram meias, assim como Messi e Neymar.
Sim, o rapper já foi mais agudo e objetivo, hoje, em NU, ele cadencia mais, controla o ritmo. Isso não quer dizer que perdeu a qualidade. Se acostumem com o Djonga camisa 10 que organiza e pensa o jogo, não mais como um finalizador com sede de marcar gols.